Eu sou você amanhã – como a LNB deve acordar enquanto há tempo
Jogaram sábado, no Maracanãzinho, Osasco e Rio de Janeiro. Na verdade jogaram Finasa e Rexona, mas a Globo ainda prefere chamar pelo nome da cidade, prática que se repete na modalidade em que esse site é especialista. A casa estava cheia, platéia dividida. Em quadra, sete campeãs olímpicas – quatro delas na equipe que perderia. Além do título, Paula Pequeno, Thaísa, Sassá e Carol perderiam o emprego, três dias depois.
Muleta das instituições financeiras (maiores beneficiadas em todos os projetos de salvação da economia mundial), a “crise” foi considerada a primeira culpada. Não é novidade nos esportes que não o futebol de campo. Em qualquer tempo, com ou sem crise, equipes acabaram. Não chama atenção, portanto, pelo anúncio de fim do projeto, mas sim pelo protagonismo que a parceria desempenhou no vôlei nacional.
O Finasa Osasco apareceu em tv aberta por diversas vezes, não só com rápidas matérias em seus jornais esportivos, mas com jogos na íntegra passando nas diversas finais que a competição organiza. A sua torcida “organizada” lotava estádios, contava com ídolos-espelhos e até um rival para promover duelos “épicos”. Os grandes jogos deviam mesmo até contar com grande atenção daqueles desavisados que sentavam na frente da televisão buscando alguma atração para distrair o tédio (um pouco, em função do apelo sexual+promocional que suscitavam as moças na quadra – me parece claro que há uma espécie de exploração da imagem sexual feminina como componente de sucesso de audiência).
O fim do patrocínio em Osasco não foi o único que abalou a Superliga: a Brasil Telecom anunciou o fim do time de Brusque no mês passado. Uso aqui como exemplo o Finasa porque, tirando as pernas da Paula Pequeno, me parece que ele era tudo aquilo que o basquete brasileiro gostaria de ser: exposição na tv, finais com estádio lotado, promoção de popularidade, criação de ídolos. Acredito que os clubes terão exatamente o mesmo fim se o NBB continuar alimentando uma parceria nos mesmos padrões com a Globo.
O Finasa sai do vôlei sem que seu nome fosse falado no ar (nem para dizer que o Finasa não vai mais bancar o time). Para a Winner, ou a Vivo, ou a Garoto, BRB, Amil, Lupo, GRSA, Pitágoras, etc, o que mudou com a parceria do basquete com a Globo? Absolutamente nada. A exposição é absolutamente sofrível e nenhum jogo foi ao ar. Na TV fechada, os jogos são escassos e pessimamente transmitidos (sem qualidade nem de som, nem de imagem e quase nunca com uma mínima preocupação de preparação dos profissionais empenhados na narração e comentários). Se algo mantém esses patrocinadores com as equipes, não é a tão falada parceria com a Globo.
O argumento é a visibilidade. A promoção. O que acontece é que isso se constrói absolutamente no vazio, na tentativa de criar ídolos de barro. O vôlei, experimentado “parceiro” da emissora, mostra como o cenário para as garotas campeãs olímpicas é promissor:Jaqueline Silva sugeriu que as desempregadas buscassem alternativas diferentes, como jogar na praia. Alguém imagina um campeão olímpico do basquete trocando de esporte para continuar empregado?
Isso não mostra somente a imensa superioridade de relevância do basquete mundial em relação ao vôlei, mas principalmente que o caminho de criação de ídolos de maneira fantasiosa, baseado na massificação de sua imagem nos periódicos da emissora, não tem nenhum efeito duradouro e que dê efetiva contribuição à modalidade.
É fortificando as tradições e abrindo plenamente a cobertura que se traz interessados. É criando bases que tenha fãs fiéis (como Flamengo, Franca, Limeira, Assis, por exemplo) e não torcedores de aluguel. Ídolos não serão jamais criados, eles se constituem nas competições. O que transformou Marcelinho hoje num ídolo da torcida do Flamengo não foram as bolas de três que acertou na promoção da Globo, mas a bela história que capitaneou ao conquistar o título sulamericano mesmo sem receber salários. Gustavo Kuerten se tornou um dos maiores ídolos da história do país sem nunca ter tido um jogo transmitido na Globo.
Se o NBB seguir achando que seu principal trunfo é a patética cobertura global, na próxima temporada veremos uma debandada de patrocinadores no basquete. Cabe aos diretores de cada uma das equipes tomarem medidas em relação a isso. A primeira DEVE SER o fim do contrato de exclusividade com a Globo.
Há saídas pra lá de possíveis. A que me parece mais interessante é que os clubes devem ser liberados para negociarem os direitos de seus jogos (em tv aberta ou fechada, local ou nacional, pela internet ou televisão) como mandante. A principal vantagem dessa prática seria gerar uma receita imediata e direta – sem intermediários. Mas ela ainda viria com o bônus de visibilidade dos patrocinadores e a tão clamada massificação do esporte.
Se os dirigentes da liga insistem frequentemente, inclusive aqui neste espaço, que a LNB é independente, fica aqui o convite: sejam realmente independentes! Não troquem a dependência à CBB e ao Grego pela à Globo e seu diretor de esportes, Luiz Fernando Lima.
Guilherme Tadeu de Paula
guilhermetadeudepaula@gmail.com
Editor do Draft Brasil
Foto: Lancenet