Flamengo x Uberlândia em números
Pela segunda vez, Flamengo e Uberlândia decidem um campeonato nacional de basquete. Em 2004, quando o campeonato ainda era organizado pela CBB, em uma série de melhor de cinco jogos a equipe do triângulo mineiro varreu os rubro-negros. Alguns personagens comuns entre aquela decisão e a que acontece neste sábado: Helinho, Valtinho, Estevam, o hoje auxiliar técnico Cláudio Brasília e o técnico Hélio Rubens defendiam Uberlândia, enquanto Olivinha e Duda estavam na Gávea. Se naquela final os mineiros tinham o favoritismo, agora a balança, em uma primeira impressão, parece pender mais para o lado do Flamengo, que joga a decisão em casa (onde só perdeu dois dos vinte e dois jogos até agora) contra um adversário, o qual derrotou duas vezes (Uberlândia estava sem Robby Collum) na fase de classificação, por uma diferença de 22 pontos combinando os dois jogos. Mas, será que os números que cada equipe obteve nos playoffs, confirmam que se pode apostar no Flamengo de olhos fechados? Fugindo um pouco do comum e utilizando algumas estatísticas não muito usuais, vamos dar uma olhada no que as duas equipes fizeram na pós-temporada, onde cada uma realizou oito jogos e juntas eliminaram os quatro semifinalistas do último campeonato paulista.
Ritmo: o ritmo de um jogo é medido pelo número de posses que cada equipe tem durante a partida. Maior o número de posses, subentende-se maior velocidade. Nesta final haverá um confronto de opostos: o Flamengo, ao lado de Brasília, foi a equipe mais rápida dos playoffs, com 72 posses/ 40 minutos. Já os mineiros, foram a segunda equipe mais comedida dos mata-matas, com 66 posses/ 40 minutos. A chave de um resultado positivo para os mineiros passa muito em “murchar a bola” evitando que o Flamengo ligue seu “modo triturador”, que consiste em acelerar brutalmente o ritmo do jogo, principalmente no terceiro quarto (vide a série contra São José).
Quatro Fatores: desenvolvidos por Dean Oliver, (se quiser saber um pouco sobre este personagem, clique aqui) são quatro índices estatísticos considerados essenciais para se vencer um jogo de basquete. São eles: eficiência dos arremessos (40%), porcentagem de erros (25%), Rebotes (20%) e Lances-livres (15%). Os números entre parênteses são os pesos que o próprio Oliver atribuiu a cada um deles, que podem ser aplicados tanto na defesa quanto no ataque. Vamos conferir como foi o desempenho de cariocas e mineiros.
Eficiência dos arremessos (eFG%): este fator é calculado como o famoso %FG (porcentagem de arremessos de quadra certos) porém com um acréscimo de 0,5 para cada arremesso de 3 pontos convertido. No ataque, Uberlândia teve o maior eFG% dos playoffs, com 59,8%, enquanto o Flamengo foi o terceiro com 58,3%. Se considerarmos apenas o %FG, o Flamengo tem uma pequena vantagem (50,9% contra 50,2%), porém os mineiros têm um aproveitamento superior nos arremessos de três pontos (47,9% contra 41,9%). Na defesa, desempenhos idênticos, pois ambos permitiram ao adversário ter uma eficiência de 54,3% nos arremessos de quadra.
Porcentagem de erros (%TOV) estima o número de erros a cada 100 jogadas. Em consequência do estilo mais veloz de jogo, o Flamengo desperdiça mais bolas que Uberlândia, cometendo erros em 11,7% de suas jogadas, contra 10,9 do rival. Porém, na defesa, o rubro negro foi o segundo que mais fez os adversários errarem nos playoffs, forçando desperdícios em 14,8% das jogadas dos oponentes, bem acima dos 10,0 % dos mineiros (o pior índice, ao lado de Brasília). Manter essa agressividade será essencial, principalmente para não permitir que o time de Hélio Rubens se organize no ataque e trabalhe a bola até achar alguém livre – 58,2% dos arremessos do time do triângulo tem assistências, melhor índice da fase final (O Flamengo, com 44,6%, é apenas o décimo). Além disso, os mineiros apesar de não correrem muito, têm o ataque mais eficiente da pós-temporada, anotando 128,3 pontos a cada 100 posses de bola – o Flamengo é o segundo com 125,3 pontos.
Rebotes: este fator considera a porcentagem de rebotes que cada equipe pega nos dois lados da quadra. Aqui, outro ponto a ser explorado pelos mineiros. Nestes playoffs, eles capturaram 29,7% dos rebotes de ataque disponíveis (5º melhor índice), enquanto o Flamengo protege pouco o aro, conquistando 68,9% (8º melhor) dos rebotes de defesa. Já em sua tábua defensiva, Uberlândia quase sempre retoma a posse de bola quando o adversário erra um arremesso, pegando 78,0% dos rebotes de defesa (segundo melhor índice) enquanto o Flamengo incomoda pouco o adversário, com 25,1% (7º melhor) de rebotes ofensivos. A queda da liminar que suspendia Caio Torres da final veio muito bem a calhar as pretensões do Fla, já que, com 5,8 rebotes por jogo, a ausência do líder do time nesse fundamento nos playoffs faria com que o domínio dos mineiros sob o aro aumentasse ainda mais.
Fator lance livre: é a simples relação entre lances livres feitos e arremessos de quadra tentados. Mede a frequência que um time bate e acerta lances livres. No ataque, desempenhos parecidos. Uberlândia tem fator lance livre de 0,26, enquanto o do Flamengo é 0,25. Na defesa, vantagem para a turma da terra do pão de queijo. Enquanto os adversários do Mengão têm fator lance livre de 0,27, Uberlândia reduziu a apenas 0,19 (o menor de todos) o fator de seus oponentes. Essa diferença pode ser explicada pelo adversário do Flamengo nas semifinais. São José foi disparado, o time que mais bateu lances livres nestes playoffs. Seu fator foi de 0,35.
Se em um primeiro momento tudo aponta para o favoritismo do Flamengo, os números mostram que Uberlândia será uma parada duríssima. Pena que só teremos uma partida.
Nota do autor: se alguém se interessar mais sobre os ‘quatro fatores’ e outras estatísticas, clique aqui.