Ilusões – Por Professor Paulo Murilo
Por: Prof. Paulo Murilo
Quando num pedido de tempo, com o placar já bem negativo, o armador Facundo questiona aos brados a eficiência do americano recém contratado, mencionando o fato de já ter se passado um mês sem que o mesmo aprendesse uma jogada sequer, tendo como resposta, em inglês, claro, que o respeitasse para ser respeitado, configurou-se em todas as dimensões quão alto pode ser o preço a ser pago por uma equipe, até recentemente tida e havida como a mais equilibrada no parco cenário técnico brasileiro, pela ilusão de ter em suas fileiras um representante do imaginário técnico-tático, aquele fator transcendental às grandes conquistas, e que mesmo no desconhecimento da língua portuguesa, propicia à direção técnica da equipe a suprema benesse de fazer passar suas magnas instruções em dois idiomas simultaneamente, numa ilusória demonstração de poder e cultura. E o mais irônico, foi o fato de tal admoestação publica ter sido feita no mais puro espanhol, sem um único ranço de portunhol.
Na véspera, a equipe mineira já apontava falhas na antes bem equacionada coordenação tática, já que a base de sete bons jogadores, teve de ser refeita para o aproveitamento do gigante americano, misto de pivô de choque, com ala de decisão, numa aproximação canhestra das características do pivô argentino Gonzales, mas sem o entrosamento e qualidade deste junto a equipe. Notou-se claramente a insatisfação e incômodo de alguns jogadores à sua presença e insistência nos arremessos de três, e conseqüente afastamento dos rebotes ofensivos, fragilizando em muito a luta isolada e corajosa do pivô Maozão. Some-se a isto, a tendência altamente competitiva entre jogadores americanos, que tanto na equipe mexicana, como na argentina, são mais qualificados do que o da equipe mineira, no entendimento do quanto isso influiu na volúpia em que se entregou aos arremessos para provar seu valor, mas sem levar em conta o pouco ou quase nenhum entrosamento coletivo, e a má forma física e técnica ostentada no presente. Sem dúvida nenhuma, a quebra na homogeneização duramente conquistada em treinos e jogos com uma escalação movida pela ilusão do americano, certamente pago acima de muitos jogadores, que garantiria os rebotes preciosos, esbarrou na anulação de seu esforço reboteiro pela enxurrada de arremessos de três, despropositados e falhos na maioria das vezes.
E mais uma vez, a ilusão do fator americano fez desvanecer o sonho perfeitamente viável de uma conquista a muito esperada pelo basquetebol brasileiro, que com um pouco mais de trabalho na melhoria dos fundamentos do jogo, poderá provar que podemos competir de igual para igual com qualquer equipe, mesmo que um bom argentino seja o porta-voz dessa verdade, explanada a viva voz e em bom espanhol, na presença de um complacente e calado técnico brasileiro.
Mas não só de ilusões brasileiras vive o basquetebol, temos também as ilusões espanholas, bastando acessar o site Draft Brasil, onde podemos acompanhar uma entrevista radiofônica dada à jornalistas espanhóis pelo técnico nomeado para dirigir a seleção brasileira no próximo Pré-Olímpico, Moncho Gonsalve. Nessa entrevista, nada transcende mais do que o seu estado permanente de ilusão ante a oportunidade jamais prevista de aos 63 anos, e já aposentado, ver-se diante de tal desafio. Vale à pena ir ao site, e constatar a verdadeira e monumental dimensão do que venha representar o termo ilusão.
Para facilitar a compreensão de todos, eis a definição de ilusão contida no Dicionário Espanhol – Português Michaelis-
Ilusión , [ Ilus’jon ] sf ilusão ; engano ; fantasia . Harcerse = es. Criar expectativas.
Que os deuses nos ajudem, pois até o sentido etimológico conspira contra nosotros.
Amém.
Paulo Murilo é professor da UFRJ (aposentado), técnico atuante de Basquetebol, Doutor em Ciências do Desporto -FMH-Lisboa. Bacharel em Jornalismo Audiovisual pela ECO-UFRJ. Posta regularmente em seu blog, http://paulomurilo.blogspot.com/ e é um colaborador do DraftBrasil.