Inaceitável
Brasil é o quarto colocado no Sulamericano Sub-15
por Henrique Lima
O Brasil terminou sua participação no Sul-americano Sub-15, realizado no Uruguai, perdendo para o Chile por 63 x 61 e está fora da Copa América Sub-16 ano que vem e, como consequência, fora do Mundial Sub-17, que acontecerá daqui dois anos. Mais do que o resultado pífio, temos que ter em mente que, dos cinco jogos disputados, perdemos três: Uruguai (67 x 46), Argentina (73 x 30) e Chile. Vencemos duas: Colômbia (89 x 85) e Peru (64 x 22).
Não é difícil supor e compreender que os maiores problemas estão no planejamento, convocação e treinamentos. Resumidamente, não sabemos o que, como, quando e para que fazer.
Que a CBB pouco faz pela base não é nenhuma novidade. Agindo muitas vezes com arrogância e faltando inteligência na ação, temos seleções de base com resultados pífios há algum tempo. Como consequência, não surpreende termos cada vez mais dificuldade quando enfrentamos equipes de menor expressão continental, como a Colômbia, o Uruguai e agora o Chile.
No dia 2 de abril deste ano, a CBB divulgou a lista de convocados para os treinamentos que começariam dia 21 de abril e iriam até o dia 12 de maio, visando este torneio. Na lista inicial, incríveis 26 nomes. Do campeonato mais forte de base do país, o paulista, apenas 7 nomes. Do fraco campeonato mineiro de base, 5 nomes. Do campeonato carioca, 2 atletas. O resto da convocação: do Rio Grande do Sul, 2 atletas; de Santa Catarina, 2 atletas; do Paraná, 1 atleta; do Pará, 1 atleta; da Paraíba, 1 atleta; do Ceará, 1 atleta; do Espírito Santos, 1 atleta; de Pernambuco, 1 atleta; de Goiás, 1 atleta e do Distrito Federal, 1 atleta.
Brilhante seria se esses jovens não fossem cruzar o Brasil e parar em São Sebastião do Paraíso, interior de Minas Gerais, para treinar por duas ou três semanas. Por que não organizar os treinamentos de outra forma? Quem sabe com um número menor de atletas, já que os treinamentos seriam de última hora?
É meio óbvio que em um país continental devemos ter gente de todo o país tendo oportunidades. Porém, seria essa a melhor forma de dar essa chance? Talvez se os treinos começassem em fevereiro, por exemplo, não chegaríamos em maio com um time pronto? É possível que, durante apenas três semanas de treinamentos, nós conseguirmos alguma coisa produtiva com mais de vinte garotos em quadra?
Como prova de que não é um método produtivo, temos os resultados. Como prova de que estamos atrasados quando pensamos categoria de base, temos os resultados. Como prova de que a CBB continua a tratar as categorias de base da mesma maneira, temos os resultados.
O resultado na base não é importante. Será?
Acredito que o resultado na base seja apenas o reflexo de como trabalhamos a modalidade basquetebol dentro do nosso país. Hoje em dia esta se encontra rejeitada em todos os âmbitos: seja escolar, seja via Federação e/ou CBB. Logo, como teremos resultados?
Os resultados na base tem importância como forma de avaliar se estamos indo na direção correta, revelando se o jogo esta a ser ensinado da melhor maneira, se existe uma quantidade satisfatória de clubes, jovens, treinadores e investidores que se preocupam em fazer com que o basquetebol evolua ano após ano. É algo estarrecedor perceber que o Brasil não consegue reunir um grupo de 12 jovens e 3 técnicos capazes de fazer frente ao Uruguai e Chile.
Se os resultados na base não melhoraram nos últimos anos, será que eles realmente não são importantes? Como vamos avaliar então nossa evolução? De que forma?
O consenso, o simples, o denominador comum é: a CBB não esta a gerir as categorias de base da maneira correta.
Se não existisse um conchavo político tolo para manter o status quo, é evidente que tudo poderia ser diferente. O basquetebol seria uma modalidade respeitada, existiria um planejamento e mão de obra qualificada para atuar nos lugares chaves gerindo o basquete de base. Ou seja, teríamos basquetebol de qualidade sendo feito no país.
É triste ver o constrangimento que esses jovens de 14, 15 anos passaram e o pior é saber que tudo isso poderia ter sido evitado.
Alguns ousarão afirmar que o basquetebol brasileiro de base está ótimo e que o resultado no Sul-americano Sub-15 se tratou de um um desvio da rota. Que não devemos nos ater somente aos resultados, que o trabalho é sequencial e nada pode ser falado já que não estamos lá para saber. Enfim, reproduzir o velho discurso falho de sempre.
Quem terá coragem de assumir que esse resultado é reflexo da importância que a CBB vem dando ao basquete de base?
Enfim, o impossível aconteceu. Disputamos um torneio sul-americano preparatório e ficamos abaixo do terceiro lugar. Quando o terceiro lugar do sul-americano começa a ser objetivo, quando apanhar de Uruguai passa a ser rotina, quando perder do Chile é respondido com desculpas do tipo “hoje não foi nosso dia” e quando vencer a Colômbia por cinco pontos é algo a ser comemorado, é que o basquetebol brasileiro de base ultrapassou encontra-se em maus lençóis. Ousei acreditar que não seria possível chegarmos a tal condição, mas vejo que me enganei.
Não existe mais nenhuma possibilidade de piorar este resultado. O que por um lado é um bom sinal, pois desta forma qualquer coisa será encarada como uma melhora. Quem sabe não seja essa a política adotava nessa questão; mascarar os resultados ruins e exaltar qualquer tipo de melhora posterior, mesmo que inferior ao estado anteriormente conquistado.