Inequação

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Publicado em: 6/11/2012

“Quando um homem quebra recordes, ganha campeonatos, suporta críticas e responsabilidade, por que julgar? Vamos celebrá-lo como o maior jogador de sempre”. Essa frase foi dita pelo atual vice presidente do Miami Heat, Pat Riley. E não, ela não é um voto de apoio ao seu mais laureado funcionário, que alguns dias atrás mais uma vez manifestou que tem como meta na carreira ser o melhor jogador de todos os tempos o que automaticamente equivale a superar Michael Jordan.

Mas o que é preciso fazer para superar MJ de forma objetiva, sem que houvesse questionamentos? Tipo uma fórmula, onde vários fatores, como talento, carisma, sorte e contribuição ao basquete fossem transformados em números e somados a aqueles obtidos pelo jogador durante a carreira. O maior resultado leva as glórias. Simples assim.

Voltando a frase do inicio, Riley a disse em dezembro de 1985, quando era treinador dos Los Angeles Lakers e o sujeito oculto era Kareem Abdul-Jabbar, a quem Riley comandou por oito temporadas e conquistou quatro títulos.

Em uma lista divulgada no ano passado pela revista Slam, Jabbar aparece como o sétimo melhor jogador de todos os tempos. Não é pouco, mas ele merecia estar um pouco mais acima.

Talvez a hipotética operação matemática proposta acima possa explicar esse lugar no ranking.

Começando pela parte mensurável, os números: aqui entrariam as estatísticas de quadra, mais as façanhas que cada um realizou e, só costuma ter uma nota alta quem conseguiu fazê-las serem diretamente proporcionais (muita gente boa de bola ficou para trás por não seguir esta regra). Jabbar não teria problema em atingir a nota máxima, pois suas proezas não foram poucas: para começar, ele ainda é o maior anotador da NBA (38387 pontos) e simplesmente inventou um fundamento do jogo (o sky hook). No basquete universitário, foi tricampeão nacional pela UCLA, período em que os Bruins venceram 88 dos 90 jogos, com direito a 71 vitórias consecutivas e devido a sua dominância, na temporada 67/68, o ato de enterrar a bola foi simplesmente proibido com o objetivo de se criar alguma dificuldade para ele. Em seu primeiro ano de NBA, defendendo o Milwaukee Bucks, fez a jovem franquia (disputava sua segunda temporada) saltar de uma campanha de 26-56 no campeonato anterior para um 56-26 e um vice-campeonato, sendo derrotado pelo Knicks na final. Ao longo da carreira, colecionaria seis títulos, seis prêmios de MVP da temporada regular e dois de MVP das finais.

Já na parte subjetiva da charada matemática, Jabbar teve um desempenho sofrível, o que lhe custou algumas posições. No quesito carisma, devido a sua personalidade extremamente introvertida ele nunca cativou fãs. Até mesmo fisicamente, ele não poderia ser classificado como “atlético”, apesar da longevidade da carreira (abandonou as quadras com 42 anos e jogando de forma competitiva). Sua conversão ao islamismo também não foi recebida como uma atitude simpática.

No clichê “lugar certo na hora certa”, a sorte poderia ter sido um pouco mais generosa. Sua carreira foi desenvolvida quando a NBA ainda era encastelada nos EUA e possuía ares de terra proibida (por muito tempo, aqui no Brasil, acreditou-se que lá não havia jogo em que os times não passassem dos 100 pontos e que ninguém errava  lance –livre) e em um momento que a liga registrou as piores médias de público e um dos piores índices de audiência na TV devido aos inúmeros casos de jogadores envolvidos com o consumo de drogas. Porém, o mais “cruel” dos fatos ocorreria nas finais de 1980. Lakers vencendo os Sixers, de Julius Erwing, por 3-2. As médias de Jabbar, o melhor jogador da temporada regular, nesta série era de 33,4 pontos; 13,6 rebotes; 3,2 assistências e 4,6 tocos; números que lhe garantiriam ser o MVP das finais em caso de título. Porém, uma torção no tornozelo o afastou do sexto jogo, que foi aquele, já conhecido por todos, onde o então armador novato (um “tal” de Ervin Johnson) jogou de pivô, cravou um triplo duplo, levou a taça para Los Angeles e abocanhou o prêmio de melhor jogador das finais. A partir daquele momento, os Lakers não eram mais os Lakers do Kareem, eram os Lakers do “Magic”. E assim foi durante toda a época do “show time” que se instalou em Los Angeles na a década de 80.

E foi no meio da década de 80, mais precisamente em 1984, que desembarcaram na NBA, David Stern e Michael Jordan. O resultado, todos já sabem.

Devido às ações de Stern, MJ assegurou um resultado que talvez nenhum outro jogador atinja nesta segunda parte da equação. A excelência de seu jogo já havia garantido nota máxima na primeira parte.

E mesmo no basquete atual, governado por todos os tipos de estatística (o +/- é a coqueluche do momento), essa segunda parte da equação tem se mostrado tão forte, que se Jordan tivesse dado certo no baseball e não retornado às quadras, ainda sim não perderia a coroa.

Pelo mesmo motivo, mesmo que ganhe os sete títulos prometidos, não é certeza que Lebron não seja coroado.

Bingo!

James Harden: pelos números dos primeiros jogos, o melhor sexto homem da temporada anterior quer ser o primeiro nesta.

Amassando o Aro!

Lakers com louvor. Mike Brown definitivamente gosta de brincar com fogo.

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