Liga das Américas: Começou a competição mais importante do cenário continental

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Publicado em: 12/12/2008

Na última terça-feira, dia 9 de Dezembro, deu-se início à competição mais importante do cenário americano de clubes: A Liga das Américas.

Em sua segunda edição, a Liga busca se firmar como a competição equivalente a Euroliga em nosso continente. Juntando equipes da América do Sul, Central e do Norte, a competição vem cada vez mais ganhando espaço. Na primeira edição, houve a participação de equipes norte-americanas (Miami Tropics por exemplo); nessa segunda edição, elas estão fora.

O regulamento é simples: Quatro grupos (quadrangulares) com uma sede fixa para cada quadrangular. As equipes jogam entre si dentro desse grupo e o campeão de cada grupo forma a fase final (4 times e um Final Four realizado em outra sede fixa). Ainda longe do “glamour” e da organização da Euroliga, a Liga das Américas começa engatinhando (forma de disputa duvidosa, número pequeno de jogos…), porém já sinaliza com um futuro promissor para o cenário clubístico latino-americano.

Os 16 clubes participantes desse ano são: Flamengo, Universo/BRB, Minas Tênis Clube (Brasil); Peñarol, Libertad Sunchales, Regatas de Corrientes, Quimsa (Argentina); Halcones Xalapa, Soles de Mexicali, Pioneros de Quintana Roo (México); Biguá (Uruguay); Universidad Concepcion; Deportes Castro (Chile); Capitanes de Arecibo (Porto Rico); Merengueros (República Domicana); COOPENAE Liceo (Costa Rica).

Vindos de todos os cantos da América Latina, todas as equipes prometem lutar por uma vaga no Final Four (ainda sem sede definida). De antemão, podemos destacar alguns dos partipantes. Flamengo, Universo/BRB e Minas Tênis são sempre candidatos ao Final Four. Representando o basquete brasileiro, bi-campeão Mundial, buscam com elencos experientes conquistar o torneio. Os representantes argentinos (Peñarol, Libertad Sunchales, Regatas de Corrientes, Quimsa) também são sempre favoritos. Representando a atual potência sul-americana em nível mundial, os argentinos sempre entram com determinação redobrada em torneios continentais. Vale ressaltar os bons resultados do Peñarol (campeão da primeira edição da Liga das Américas e que vem com tudo pra defender o título) e do Regatas Corrientes (campeão da liga sul-americana em 2008). Do Uruguay e do México vem outros dois times com chances. Os uruguayos do Biguá querem repetir a façanha de vencer brasileiros e argentinos como fizeram no campeonato sul-americano de clubes campeões há pouco mais de um mês. Na ocasião, desfalcados de Mauricio Aguiar, conseguiram o título. Na Liga das Américas a equipe vem completa e com a aquisição do pivô campeão olímpico pela Argentina Ruben Wolkowyski. O Soles de Mexicali tem a seu favor o vice-campeonato da edição de 2007 da Liga. Os mexicanos devem vir no mínimo para tentar igualar o resultado.

Feita a introdução, vamos falar do primeiro quadrangular (grupo A), realizado em Arecibo, Porto Rico com a participação do time da casa (Capitanes de Arecibo) e mais Minas Tênis Clube, Merengueros e Pioneros de Quintana Roo.

Na primeira noite do quadrangular, o Minas Tênis abriu a competição mostrando que queria repetir o resultado do ano passado (Final Four). Os mineiros esmagaram a equipe dominicana do Merengueros (90×65) com uma ótima atuação do armador argentino Facundo Sucatzky (9 pontos, 15 assistências). O argentino por sinal organizou e deu padrão de jogo ao time mineiro de forma única. Nos nove minutos que ele não esteve em quadra o time perdeu totalmente o padrão. Murilo foi outro destaque (22 pontos e 8 rebotes). Finalizando a noite, os donos da casa passearam contra os mexicanos do Pioneros de Quintana Roo (104×72). Angel Figueroa fez 20 pontos e foi o destaque porto-riquenho. Vale citar a boa atuação do experiente pivô norte-americano Torraye Braggs pela equipe mexicana (10 pontos, 10 rebotes).

A segunda noite apagou um pouco a impressão da primeira (dois times superiores massacrando dois inferiores). O começo da noite foi sem surpresas. Liderados por Sucatzky (4 pontos, 12 assistências), o Minas Tênis atropelou a fraca equipe do Pioneros por 93×74. Joseph Shipp contribuiu com 18 pontos e Murilo com 17. Entretanto, a emoção apareceria no segundo jogo do dia. Os domicanos do Merengueros resolveram aprontar uma surpresa para os donos da casa e calaram o ginásio de Arecibo ao derrotarem os Capitanes por 90×87. Com uma atuação extraordinária de Carlos Paniagua (17 pontos, 17 rebotes), a desconhecida equipe dominicana mostrou o seu poderio de fogo.

Com essa vitória do Merengueros no segundo dia, o grupo ficou bastante embolado. Minas com duas vitórias, Merengueros e Capitanes de Arecibo com uma tinham chances de ir ao Final Four no início da última rodada. O Merengueros jogaria contra o adversário mais fraco (Pioneros) na abertura do dia e Capitanes de Arecibo e Minas se enfrentariam no jogo de fundo. Em um jogo de nível baixo, porém emocionante, os dominicanos venceram os mexicanos por 93×84. Andrés Sandoval foi o destaque dominicano com 25 pontos. Mesmo com a vitória, os Merengueros estavam fora (saldo de cestas).

Com isso, Capitanes de Arecibo decidiriam a vaga ao Final Four em confronto direto. E esse jogo merece um capítulo específico.

O jogo? Foi o de praxe. O basquete brasileiro com a faca e o queijo na mão sem saber o que fazer. O Minas jogou de maneira péssima, marcou como um time de iniciantes e sofreu a derrota. Isso não é importante, de fato, é importante analisar a situação como um todo.

Transmissão do Sportv2, público razoável (cerca de 2.000 pessoas) e uma vaga na fase final em jogo. O Minas Tênis tinha sua chance, poderia perder por 14 pontos que se classificaria (segundo o Sportv eram 13). Com tudo favorável, mais uma vez o nosso basquete falhou. O Minas perdeu o jogo exatamente por 14 pontos (81×95) e se classificou por um tal de “goal average” (pontos anotados/pontos cedidos). Durante a transmissão do Sportv2 os narradores já davam o Minas como eliminado (para eles, 14 pontos de vantagem eram favoráveis aos porto-riquenhos). Ao final do jogo, ninguém comemorou, foi aí que alguém deve ter avisado o pessoal da transmissão que alguma conta devia estar errada. E estava. Com 13 pontos o time do Capitanes de Arecibo empatava com o Minas em 2 vitórias, 1 derrota, igualava no saldo de cestas (+11) e, segundo a transmissão, ganharia pelo fator confronto direto. Porém o regulamento não dizia isso. Para a FIBA AMERICAS valeu o já citado “goal average” e a classificação foi mineira. Depois de uns 5 minutos com todos os jogadores, árbitros, treinadores, auxiliares ao redor da mesa esperando os cálculos dos delegados do jogo, os mineiros receberam o resultado e comemoraram. Pularam, cantaram, dançaram.

Comemorar? Mais uma vez o nosso basquetebol avança aos trancos e barrancos. Até quando? Até quando “venceremos” dessa maneira? A Liga das Américas está aí, é uma competição importante, a vaga ao Final Four é excelente para o basquete nacional, porém a maneira como foi conquistada é no mínimo para nos fazer pensar. Os erros continuam, nas vitórias, derrotas, classificações e desclassificações. Quando esses erros serão corrigidos?

Acabado o capítulo “jogo da classificação”, finalizarei com uma análise do time mineiro e os destaques do primeiro quadrangular.

Sucatzky foi incrível em vários momentos. Apesar da idade avançada, o argentino continua sendo um dos melhores armadores no cenário brasileiro. Por sinal, o Minas só tem organização tática com ele em quadra. Joseph Shipp merece ser citado pela atuação do último jogo. É graças aos seus pontos que o Minas está no Final Four. Murilo fez o que se espera dele no nível continental; dominou o garrafão. Apesar disso, não vejo um Final Four dourado para os mineiros. Sucatzky precisará descansar (36 anos) e nos minutos que estará fora, o time perde muito. Murilo vai enfrentar pivôs de nível alto e deve cair um pouco de produção. Além de tudo isso, contra equipes argentinas a organização faz a diferença. Temos visto isso com nossa seleção em torneios continentais. E organização, por sinal, é só do lado de lá. Um armador reserva de nível bom ajudaria a resolver os problemas, vamos ver se o Minas consegue esse reforço para surpreender na fase final.

Destaques: Facundo Sucatzky, Murilo, Joseph Shipp (Minas Tênis Clube); Angel Figueroa (Capitanes de Arecibo); Carlos Paniagua, Andrés Sandoval (Merengueros); Torraye Braggs, Marcus Fleming (Pioneros de Quintana Roo).

Líderes em pontos: Angel Figueroa (65 pontos, 21.7 por jogo); Murilo (61 pontos, 20.3 por jogo); Marcus Fleming (61 pontos; 20.3 por jogo)

Líderes em rebotes: Torraye Braggs (30 rebotes, 10 por jogo); Carlos Paniagua (29 rebotes, 9.7 por jogo); Jeffrion Aubry (29 rebotes, 9.7 por jogo).

Líderes em assistências: Facundo Sucatzky (35 assistências, 11.7 por jogo); Luis Felipe (14 assistências, 4.7 por jogo); Rafael Cruz (14 assistências; 4.7 por jogo).

Líderes em roubadas de bola: Torraye Braggs (7 roubadas, 2.3 por jogo); Facundo Sucatzky (7 roubadas, 2.3 por jogo); Andrés Sandoval (7 reboubadas; 2.3 por jogo).

Líderes em bloqueios por jogo: Daniel Tavares (5 tocos, 1.7 por jogo); Leandro Silva (4 tocos, 1.3 por jogo); Luis Manuel Martinez (3 tocos, 1 por jogo).

Melhor jogador: Facundo Sucatzky (10 pontos, 11.7 assistências, 5 rebotes, 2.3 roubadas)

Raoni Moretto
raokiller@hotmail.com

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