Loucuras de Janeiro
Janeiro é conhecido por ser o mês das férias, das inundações (infelizmente) e da Copa São Paulo de futebol júnior, um evento que é uma espécie de apresentação dos prospectos do país. Apesar de ainda manter este status, interesses comerciais (em alguns jogos deve haver mais empresários que torcedores) e políticos (esse ano chega ao número absurdo de 100 times, muitos de qualidade duvidosa) contribuíram para que a “copinha” perdesse o charme de épocas passadas.
Mas esta coluna não é sobre basquete? Sim, claro que é. Então vamos encaixar o parágrafo acima no texto.
Espremida entre o panetone do Natal e a lentilha do ano novo, foi disputada a fase inicial da Liga de Desenvolvimento de basquete, para jogadores de até 22 anos. Sem dúvida, uma ótima iniciativa da Liga Nacional de Basquete, afinal, em território brasileiro, há tempos não existe nenhuma competição de jogadores de categoria de base que envolva clubes de diferentes estados. Mas será que a atual formatação é a ideal?
Não vejo finalidade útil de se ter um campeonato sub22, já que não é uma categoria “oficial”. Já até houve um mundial sub21, mas a Fiba preferiu substituí-lo pelo mundial sub19. Aqui só um pequeno parêntese. Os mundiais sub19 e sub21 eram disputados de quatro em quatro anos, com uma diferença de dois entre eles. Com o encerramento do sub21, o sub19 passou a ser disputado de dois em dois anos. Portanto, quando se completa 20 anos, o jogador está no mesmo território de Marcelinho Huertas, Ginóbili, Kobe e Lebron.
Nove jogos causarão algum impacto na carreira dos jovens? Penso que não, contrariando outro argumento para a criação da competição, que era o de dar tempo de quadra aos mais jovens, já que no NBB alguns estão com pouquíssimos minutos de jogo. Porém, se pensarmos que neste exato momento apenas dezoito clubes estão em atividade no basquete brasileiro, é melhor estar afundado no banco de reservas do que procurando time. Esta questão pode ser resolvida com a criação da segunda divisão nacional, prometida para a próxima temporada, e que se for disputada paralelamente a principal competição do país, pode ser o caminho para o desenvolvimento destes jogadores. Afinal, Ricardo Fisher, Gegê, André (Bauru), Lucas Avelino, Jeferson Campos, etc, para darem um passo adiante na carreira têm que se impor entre os “grandões” e não em um território onde já foram testados e aprovados.
Uma adequação nas regras sobre transferências de atletas é necessária. Isso não só beneficiaria os mais jovens, mas todos aqueles que estão sendo pouco aproveitados. Hoje basta que um atleta dispute um único jogo por uma equipe e ele estará automaticamente vetado para atuar em outra pelo restante da temporada. Lucas Tischer, Daniel Gaúcho e Ricardo Azevedo foram dispensados por suas equipes um pouco antes do fim do ano. O ex- pivô de Brasília conseguiu se transferir para a Argentina, porém os outros dois (ex-atletas de Sorocaba) terão que esperar convites de equipes que disputarão a Copa Brasil ou o ex – Torneio Novo Milênio (mudou de nome, mas tem a mesma finalidade), que é realizado pela Federação Paulista.
Uma prática que é bem difundida em clubes da Europa e que poderia ser mais utilizada pelos nossos clubes é o empréstimo de jogadores. Aqui até houve um caso que gerou resultados. Na temporada passada, Limeira emprestou o promissor Matheus Dalla para o Vila Velha. Antes de ser emprestado, Matheus tinha uma média de pouco mais de 8 minutos em quadra. Na atual temporada, depois de um ano em terras capixabas, seu tempo de quadra é de 29 minutos.
E onde entra a Copa São Paulo nisso tudo?
Acredito que a finalidade original (de ser o cartão de apresentação de nossas jovens promessas) e o formato (torneio de tiro curto em uma sede fixa com as melhores equipes do país) poderiam ser adotados pelo basquete.
Mas não seria igual à LDB?
Para começar seria um torneio sub19. Para se chegar a ele, só seriam aceitos os melhores dos campeonatos estaduais (em um mundo ideal: os 27 campeões estaduais mais os cinco vices dos estados melhores ranqueados) privilegiando somente o aspecto técnico. Seria realizado o mais próximo possível do final dos estaduais (Janeiro seria o mês mais propício) e os jogadores teriam que ser os mesmos que disputaram os estaduais, o que evitaria a formação dos famigerados times de aluguel. Teríamos as nossas “loucuras de Janeiro”.
Voltando para a realidade, se pensarmos na disparidade que existe entre os times de São Paulo e o resto do país (hoje, acredito que somente Minas Tênis, Flamengo e Tijuca possam incomodar os paulistas), um torneio nestes moldes ainda é uma miragem. Porém, com alguns ajustes (maior número de vagas para times de São Paulo e em alguns casos, etapas regionais ao invés de estaduais) já não é tão surreal de se imaginar.
É claro que tudo isso, obrigatoriamente necessitaria do comprometimento de quem tem a missão de fomentar o esporte: a CBB e as federações estaduais.
CBB, federações estaduais e comprometimento na mesma frase?
Isto sim é surreal.
Nota do autor: Em tempos passados existiram campeonatos brasileiros juvenis de clubes. Não achei nenhum registro (jogos, jogadores, sistema de disputa), mas algumas referências sobre o mesmo. Clique aqui (leia a mini biografia do ex- jogador e técnico Mical), aqui (relato da federação pernambucana de basquete) e aqui (parágrafo referente ao Helio Antonino de Jesus).