March Madness: Evan Turner ou Jayhawks?
Um torneio como o da NCAA se difere muito de ligas como a NBA ou ACB na forma como enquanto alguns a acompanham interessados mais no potencial de certos jogadores do que na força conjunto dos times. De certa forma, este mesma divisão frequentemente se revela em como os próprios times são montados. Ocasionalmente encontramos um time que equilibra os projetos de NBA com o sistema de jogo fluido e de qualidade como os Kentucky Wildcats deste ano e outra vezes nos vemos diante de equipes como a atual Georgia Tech que tem no seu garrafão dois jovens por vezes dominantes Derrick Favors e Gani Lawal (que somados fizeram 26 pontos e 17 rebotes ao longo do ano), mas por contar com armadores mediocres terminaram com decepcionantes 19-11 na temporada regular.
Por coincidência as chaves colocaram os 2 times que melhor expõe esta dualidade, os Kansas Jayhawks e Ohio State Buckeyes, no torneio do meio oeste. De um lado o time #1 do ranking com todo o mérito e do outro o favorito para o prêmio de jogador do ano. Se nenhuma zebra acontecer (e não podemos desconsiderar o perigoso time de Georgetown que conta este ano com Greg Monroe, um pivô americano com espírito europeu) e estes times se encontrarem no Elite 8 teremos um grande confronto destas filosofias diversas.
20.3 pontos, 9.2 rebotes, 5.9 assistências e 4.2 TOs eis os números da impressionante terceira temporada de Evan Turner com os Buckeyes. Ele é capaz de jogar três posições e frequentemente parece estar em todos os lugares da quadra tanto no ataque quanto na defesa. Assistir Ohio jogar é basicamente acompanhar o show particular de Turner. De tempos em tempo algum especialista em draft como Jonathan Givony é questionado se os olheiros da NBA se preocupam com os excessos de erros de Turner (que já teve duas partidas de 10 TOs, incluindo um peculiar triplo duplo na final de conferencia semana passada) e recebe a mesma resposta padrão “não, os Bucks exigem demais dele”. De fato, este é um time muito limitado depois de Turner com o único outro destaque o armador William Buford. O garrafão é especialmente limitado a ponto de Turner e Buford liderarem o time em rebotes.
Ver os Buckeyes é freqüentemente observar como Turner parece estar ali a jogar por pelo menos 3 jogadores (Kevin Pelton calculou recentemente que Turner tem a bola nas suas mãos durante absurdos 38% das posses de bola do time). Quando ele perdeu um mês depois de fraturar as contas numa partida a equipe se manteve 3-3 (contra 24-4 com Turner em quadra), perdendo todos os jogos contra adversário de qualidade. Ocasionalmente é frustrante observar como Ohio St. pede que seu craque carregue o time nas costas, mas Turner é um talento tão dinâmico e excitante que as partidas do time nunca caem na monotonia que por vezes acomete times de um jogador só.
Nada pode ser mais oposto aos Jayhawks. Não há time no NCAA tão completo como eles, Kansas só perdeu 2 jogos este ano a despeito do Big 12 ser a mais concorrida das conferencias nesta temporada. O que Kansas não tem a oferecer é uma infinidade de talentos com potencial espetacular para o draft da NBA. Seu principal jogador o pivô Cole Aldrich foi descrito recentemente pelo analista da ESPN Chad Ford como “o próximo Joel Przybilla”. Mas Aldrich é uma boa porta de entrada para a graça dos Jayhawks, um pivô old school que pega rebotes num ótimo ritmo (10 por jogo), protege a defesa e geralmente se insere no ataque apenas quando surge a oportunidade.
O que torna Kansas um time especial é que o técnico Bill Self tem um numero grande de variáveis e peças complementares a sua disposição e as usa de forma inteligente. Pensemos nos irmãos Marcus e Markieff Morris que não em perfil de grandes estrelas, mas são duas pestes que se encaixam perfeitamente no garrafão ao lado de Aldrich. O time também tem a sorte de contar com um armador experiente e inteligente como Sherron Collins para comandar o ataque. O jogador mais envolvente é provavelmente o calouro Xavier Henry que é a peça mais inconstante do time, mas que nas suas boas partidas é um excelente cestinha. Kansas venceu a NCAA 2 anos atrás e apesar de Collins ser o único jogador que ocupava um bom espaço naquele time, vários outros como Aldrich já tem a experiência daquela campanha, assim como a decepção da eliminação no Sweet 16 ano passado. È provavelmente a última oportunidade para este núcleo já que boa parte dele deve entrar no draft este ano. Não haverá time tão eficaz e concentrado no título durante o torneio.
São dois times e duas filosofias muito diferentes, o espetáculo de Turner é extremamente vistoso e talvez mais em sintonia com a lógica do superstar de muito fãs de basquete e a aplicação de Kansas é certamente mais produtiva. Mas cada um a sua maneira são dois dos times mais excitantes do basquete universitário americano hoje.
Filipe Furtado – www.twitter.com/filipefurtado
Com este texto, Filipe estréia no DB.