Não pode parar!
E o NBB 5 começou. Meus palpites são bem parecidos com os do colega Edinho em seu preview (leia aqui). Brasília, Flamengo, São José e Pinheiros são os favoritos. Bauru, o candidato a intruso e, Vila Velha e Suzano, os maiores candidatos ao rebaixamento.
Mas o time, ou melhor, o lugar que mais desperta o meu interesse é Fortaleza. Como a capital cearense irá reagir a esta novidade? Será que veremos aquele mesmo fervor transferido para os ginásios que a torcida nordestina demonstra nos estádios?
A equipe montada por Alberto Bial representa a tentativa mais ousada de se retirar do papel aquele discurso batido de incluir o Nordeste no cenário nacional do basquete e, não é exagero afirmar que é a primeira equipe realmente competitiva montada nesta região. Anteriormente, nos nada saudosos nacionais da CBB, Sport Recife em 2006 e FTC/EAD de Salvador em 2008, tiveram participações bem modestas, nada que pudesse cativar o público.
Se ainda é cedo para falar em título, uma classificação aos playoffs e incomodar os favoritos são metas alcançáveis, e o mais importante, pode ser a fagulha para fazer fortalezenses, cearenses e quem sabe, os demais Estados da região abraçarem de vez a modalidade.
O projeto tem contrato de dois anos com a Sky, o time ainda nem estreou em casa (que infelizmente será no ginásio da UniFor, para apenas 800 pessoas), mas será que já não é hora de começar a pensar em alguma coisa mais duradoura?
Como a jornalista cearense Allana Alves pergunta em seu blog Bola ao Alto, é cedo para pensar no futuro do Basquete Cearense (leia aqui)?
Durante um bom tempo o basquete brasileiro muitas vezes se acostumou depender de uma fonte única de receita (mecenas, patrocinador ou prefeitura) e devido a isso, tornou-se um exímio exterminador de times. Alguns extintos no ápice.
O exemplo do que aconteceu com o Coc de Ribeirão Preto ilustra bem isso. Praticamente uma propriedade privada de Chain Zaher, nunca houve intenção em atrair outros parceiros e explorar o rico mercado consumidor da cidade. A preocupação para que um dia o time pudesse seguir sem ele e a cidade não fosse apartada de uma de suas paixões foi zero. Resultado: depois daquela confusão no campeonato inacabado de 2006, o basquete de Ribeirão Preto foi encerrado sem cerimônia, sem direito a defesa.
O próprio comandante do time cearense, Alberto Bial, já participou de um projeto que tem uma leve semelhança com este de Fortaleza quando em 2001 o grupo Universo resolveu comandar/patrocinar o Ajax de Goiânia, cidade então afastada do mercado principal. Aqui posso até falar com mais propriedade porque morei em Goiânia nesta época e sempre que podia, ia aos jogos. Apesar de um início modesto, depois de duas temporadas, o referido grupo resolveu investir, trazendo além de Bial, também os na época considerados selecionáveis, Rato, Rogério, Vanderlei, Janjão, Sandro Varejão e Diego. Não demorou muito para cair nas graças da torcida, que começou a comparecer em bom número no ginásio Rio Vermelho (bem confortável na época, com capacidade para 5000 lugares). Nos playoffs do campeonato brasileiro de 2003 houve lotação total em todos os jogos. Porém, um dia o dono da grana acordou de mau humor e o basquete sumiu da rotina do goianiense.
O jogador Giba, do vôlei, em entrevista concedida ao programa ‘Juca Entrevista’ em março do ano passado, fez um relato bem interessante sobre como as equipes na primeira divisão italiana de vôlei (na sua maioria situada em cidades pequenas) mantém um estreito vínculo com suas comunidades. Os clubes são vistos como verdadeiros patrimônios das cidades. Operários, profissionais liberais, pequenos comerciantes, empresários, cada um ajudando como pode. Esta fonte de receita garante que em caso de fuga do patrocinador, a equipe não desapareça. Pode ser mais fraca, mas não fecha as portas.
Esse modelo começa a aparecer, mesmo que timidamente em algumas equipes do NBB. Consultando as páginas de cada equipe que disputa a competição, quatro clubes (Franca, Bauru, Joinville e Limeira) apresentam um programa de Sócio-Torcedor (Sorocaba tem o Sócio-Empresa), mas ainda existem casos preocupantes.
Uma das favoritas ao título do NBB e bem perto de conquistar pela quarta vez o campeonato paulista, a equipe de São José é quase que totalmente dependente da prefeitura da cidade. São José dos Campos está entre as maiores exportadoras do Brasil (era a segunda em 2008, atrás somente de São Paulo), é lar de empresas como Embraer, GM e Johnson, um mercado consumidor pujante e atualmente respira basquete. Será que não dá para começar a pensar em aproximar tudo isto? Nunca é demais lembrar que a cidade já enfrentou um processo de desaparecimento do basquete, na década de 80, quando o time era um dos melhores do Brasil e deve saber que a volta não é fácil. O time perambulou um bom tempo pelos ‘Novos Milênios’ da vida.
Herdeira do Coc (tem seis jogadores que passaram por Ribeirão) e equipe mais vencedora em território nacional nos últimos anos, a equipe do Brasília é a que tem um cenário bem promissor para estabelecer um relacionamento mais próximo com seus fãs. Vem ganhando campeonatos em série, o poder aquisitivo da população é alto, o que lhe permite cobrar o ingresso mais caro da liga (veja aqui) e o futebol do DF não oferece concorrência alguma. O time até já sobreviveu a uma troca de patrocinador, quando a Universo (a mesma do Ajax) resolveu pular fora. Um programa de sócio-torcedor e uma mudança definitiva para o Nilson Nelson consolidaria de forma irreversível o basquete como esporte número um dos candangos.
Para que todo este envolvimento ocorra é necessário dar uma contrapartida ao torcedor. Ginásios em boas condições, calendário que não mude de hora em hora e, o mais importante, evolução na parte técnica, são os requisitos básicos.
E respondendo a pergunta feita pela Allana: não, não é cedo. É a hora certa!
Nota do Autor.
Agradecimentos a Allana Alves (Diário do Povo de Fortaleza), Vagner Vargas (Globoesporte.com) e ao Felipe Mellini, editor do DraftBrasil, pelas informações que ajudaram a desenvolver este texto.
Bingo!
Lucas Mariano: ele tem que evoluir muito (e bota muito nisso), mas assim como Leandrinho e Nenê, o jovem jogador de Franca demonstra condições para um pulo do NBB para NBA sem escalas.
Amassando o Aro!
O nosso problema crônico com datas (ninguém nunca pensou em inventar um curso de “Como organizar uma temporada esportiva”?). Inicio do NBB, finais do campeonato paulista e Liga Sul americana, todos encavalados. Não deverá demorar muito para uma equipe jogar dois jogos no mesmo dia.