Nova Zelândia x Lituânia – Análise Tática
Neste artigo, destaco a parte tática do excelente jogo de abertura do grupo D, que se deu no terceiro quarto da partida. Precisando tirar 16 pontos no marcador, a Nova Zelândia demonstrou que está bem preparada em diversas defesas. Obviamente, quando se perde um jogo, a tendência é encaixar uma defesa mais pressionada e com mais contestação dos passes e dos arremessos. Porém, com o nosso costume de assistirmos muito NBA e bastante NBB, quase não vemos os times variarem a forma de defender ao longo de um jogo, o que dirá de um período.
Neste terceiro quarto destacado, a Nova Zelândia marcou uma zona 1-3-1, com dobra após o primeiro passe e com a rotação defensiva muito bem feita por parte de quem trabalhava para interceptar possíveis passes ruins dos lituanos. A Lituânia por sua vez não conseguia pontuar neste período e com a diferença no placar diminuindo rapidamente, os europeus apostaram em uma pressão meia quadra, individual. Com a pressão sendo executada, vieram também as faltas por excesso de contato e a Nova Zelândia aproveitava para carregar uma parte dos lituanos nas faltas. Ambos os times não demoraram para trocar a defesa. Lituânia saiu da marcação individual para uma zona 2-3, dobrando sempre no fundo da quadra. O time da Oceania aplicou a mesma defesa, porém com uma diferença muito interessante. Para quebrar o ritmo ofensivo da armação lituana e principalmente confundir o ataque, após a primeira troca de passe, do armador para lateral, por exemplo, o time da Nova Zelândia pulou da zona, para individual na mesma posse. Algo muito interessante e muito dificil de ver em nosso basquetebol.
Na mente de vários técnicos e atletas, marcar mais de uma defesa é o ideal. Ninguém duvida dessa tese. Porém, executa-la, ou seja deixar o discurso para a prática é algo que pouco vemos. Neste terceiro período emblemático, em que a Nova Zelândia venceu por três pontos (27 x 24), mas chegou a estar apenas nove de um time com mais talento individual e melhor organização ofensiva, demonstra que a leitura de jogo em uma partida de basquetebol demora para ser feita, não é realizada em tempo real. E este pequeno atraso, resulta em ataques desastrosos, em ações ofensivas mal feitas e principalmente, em jogadas que não fazem tanto sentido para tal defesa armada.
Na parte ofensiva, a Lituânia tem atletas que jogam mais para a equipe e menos para si. O resultado disso é que, independente da defesa utilizada, alguns atletas procuravam bloqueios indiretos o tempo inteiro, para deixar os bons chutadores de fora livres para executar os tiros de média e longa distância. A Nova Zelândia se desdobrou muito em um ataque com muita movimentação pelo fundo da quadra, porém sem bloqueios indiretos. A maioria dos bloqueios eram na bola e sempre na lateral da quadra e facilmente dominados pela defesa lituana. Porém, com uma série de back doors bem executados, a Nova Zelândia achava com certa tranquilidade bandejas que não iria obter apenas infiltrando pelo meio da defesa. O detalhe aqui é a movimentação constante dos atletas ofensivos. Talvez o lema por lá seja, ninguém fica parado esperando a bola chegar por milagre.
No final do jogo, podemos assistir uma marcação pressão quadra inteira por parte dos derrotados. Porém, como toda pressão, a chance de faltas é monstruosa e ocorreu. Além disso, com a pressão do tempo de jogo acabando, começamos a assistir uma quantidade grande de lances livres sendo cobrados e alguns desperdiçados.
De toda forma, foi uma partida muito interessante. O que desenhava ser um jogo chatíssimo com grande diferença no placar, foi na verdade um duelo tático da melhor qualidade, provando mais uma vez que os times no Mundial são bem treinados, aplicados no que os treinadores determinam e com uma grande variação tática, elementos que por si só, garantem duelos excepcionais até mesmo na primeira fase do torneio.