O consumo do basquete como espetáculo no Brasil
Nos seus estudos sobre o capital, Karl Marx dizia que “a produção cria o consumo”. De forma simplória, o intelectual alemão buscava afirmar é que uma determinada mercadoria só seria produzida se houvesse a possibilidade desta ser vendida e, com isso, gerar lucro. Desta forma, a produção incessante de novas mercadorias acarretaria em um consumo cada vez maior daquilo que se é produzido.
Mas os corajosos leitores devem estar pensando: o que isso tem a ver com o basquete? Do que é praticado dentro de quadra, realmente, não há nada. Entretanto, fora do campo de jogo – e principalmente na forma como o esporte da bola laranja é vendido – muito daquilo que foi proferido por Marx em sua crítica ao capital pode ser subvertido e aplicado aqui. Principalmente se nos debruçarmos sobre a divulgação do basquete enquanto “mercadoria”, essa mesma que é vendida hoje no Brasil de forma muito precária.
Falo isso, pois considero que a venda correta do basquete como espetáculo, principalmente nos moldes como é feito na NBA, é uma das principais ferramentas de difusão do esporte e que, com isso, possibilita um consumo cada vez maior dessa mercadoria por novos potenciais praticantes e telespectadores.
Uma tímida – porém necessária – iniciativa de difundir seu produto de forma mais ágil e cômoda a seus consumidores foi criada pelo marketing do UniCeub/BRB/Brasília, que a partir dos playoffs desse ano do NBB começará a comercializar os ingressos de seus jogos pela internet (leia mais aqui). Para quem está acostumado a enfrentar filas e o incômodo de ter que se locomover até os pontos de venda (isso quando há mais de um), a ação do time candango vem em boa hora e merece ser copiada pelas outras equipes do certame. Contudo, embora seja algo novo no basquete brasileiro, é trágico observarmos que essa modalidade de compra que é estendida a praticamente todas as formas de espetáculos (seja jogos, shows, concertos, etc) que consumimos há bastante tempo no país, seja aplicada somente agora pelo nosso basquete nacional.
Se voltarmos os olhos para a NBA, a comparação fica ainda pior. Além de ser possível comprar ingressos de todas as partidas pela internet (comum por aquelas bandas de lá há muito tempo), existe a possibilidade de assistir aos jogos da temporada e dos playoffs via ‘streaming’, pelo NBA League Pass. Essa ideia inclusive já foi seguida pela FIBA e a Euroleague, que desde 2010 disponibilizam seus jogos para serem assistidos de forma online e em alta resolução pelo FIBA TV. Nele é possível assistir, dentre outros, os jogos da “Liga dos Campeões” do basquete europeu, a liga ACB, VTB League, Liga Chinesa e, entre outros, a Liga das Américas e até mesmo os playoffs da Liga Nacional Argentina.
Inclusive, se até mesmo nossos vizinhos “hermanos” já começam a caminhar nesse sentido, no Brasil esse processo encontra-se em fase pré-embrionária. Ainda mais se levarmos em conta o contrato de exclusividade firmado entre a Globo e o NBB, onde a subserviência da LNB com os ditames da emissora chega ao ponto de termos uma final de campeonato em jogo único e o tal “Jogo das Estrelas” permitir a participação até mesmo de repórteres do canal para que, com isso, seja possível que o basquete obtenha uma ínfima participação em sua grade de programação.
Ao contrário dos exemplos supracitados, no Brasil a distribuição do basquete encontra-se nas mãos de um grupo que se interessa mais em monopolizar esse produto a seu modo do que criar condições paras as pessoas desfrutarem do basquete das mais variadas formas, auxiliando na profusão do mesmo como um esporte popular, de massa. Afinal, tão importante quanto a produção e a valorização de um produto é encontrar maneiras de distribuí-lo de forma inclusiva e criativa para seus potenciais consumidores.
Diante disso, fica a pergunta: Será que essa é realmente a melhor forma de vender o nosso principal produto? Ao invés de multiplicarmos as possibilidades, parece que estamos seguindo na contramão da história.