O “day after” da troca do Melo
Depois de intermináveis meses, rumores, blefes e muita ladainha, finalmente a troca que todos esperavam aconteceu e Carmelo Anthony vestirá a camisa do New York Knicks.
A TROCA
Para quem ainda não teve a oportunidade de conhecer, em linhas gerais, a troca foi: Carmelo Anthony, Chauncey Billups, Anthony Carter, Shelden Williams e Renaldo Balkman para o New York Knicks e Raymond Felton, Danilo Gallinari, Wilson Chandler, Timofey Mozgov, escolha de 1o round do Knicks de 2014, 2 escolhas de segundo round do Golden State Warriores (2012 e 2013) e 3 milhões de dólares em dinheiro para o Denver Nuggets.
AS CIRCUNSTÂNCIAS
Antes de qualquer análise sobre a troca, é preciso entender exatamente em quais circunstâncias ela ocorreu. E tudo começa com um pedido de Carmelo Anthony para ser trocado, o que aconteceu logo antes de começar a atual temporada. Na verdade, não foi tão simples. Melo manifestou explicitamente o seu desejo de jogar em sua cidade natal que, após quase 2 décadas nas sombras, deu sinal de vida com a contratação do ala-pivô Amare Stoudemire. Obviamente, não foi uma questão meramente sentimental: havia também o aspecto financeiro, já que New York é simplesmente o maior mercado da NBA, o que certamente abriria inúmeras possibilidades em termos de patrocínios para Carmelo Anthony.
Com o desejo de sair de Melo, a diretoria do Denver Nuggets poderia ter ido diretamente para a forca. Afinal, o atual contrato da estrela terminaria no meio do ano, quando ele se tornaria agente livre e poderia simplesmente assinar com o New York Knicks, sem qualquer saldo para o Denver Nuggets. Mas por que isto não ocorreu? Não ocorreu porque a NBA possui regras que garantem uma certa vantagem aos jogadores que optam pela renovação, ao invés de se tornarem agentes livres, visando justamente desestimular a debandada das estrelas para os maiores mercados da liga. E, por conta de tais regras, caso optasse por se tornar agente livre, Melo perderia cerca de 15 milhões de dólares, quantia esta que poderia ser ampliada indefinidamente com a possível redução do teto salarial da NBA que tanto se especula.
Como só o Nuggets ou a equipe para qual resolvesse trocar o jogador poderiam assinar a renovação com esses termos favoráveis, o temor de Melo em perder dezenas de milhões de dólares e o interesse do New Jersey Nets (em pelo menos atrapalhar o futuro do rival local) foram os fatores que possibilitaram um poder de barganha, ainda que limitado, ao Denver Nuggets, forçando o New York Knicks a aumentarem a sua oferta. E o resultado foi a troca descrita acima.
E qual foi o saldo para as duas equipes?
NEW YORK KNICKS
Para o New York Knicks, a troca marca uma verdadeira revolução. Se Amare Stoudemire já vinha conseguindo despertar atenção para a equipe de Manhattan, apesar de uma campanha apenas modesta, com a adição de Carmelo Anthony os torcedores do Knicks, no mínimo, poderão voltar a se gabar de torcerem para uma das equipes mais badaladas da NBA.
Em quadra, contudo, é preciso de um pouco mais de cautela. Amare e Melo definitivamente não são Wade e Lebron. Não se pode esperar da nova dupla o mesmo tipo de sucesso imediato do Miami Heat. Além disso, no pós-troca, o Knicks ficou com um dos piores bancos de reservas da liga (Brewer, Shelden Williams, Walker, Azubuike, Douglas, Anthony Carter e cia), o que deve custar caro num primeiro momento. A falta de um homem de garrafão (Turiaf é o pivô titular) também será um fator impeditivo para o sucesso a curto prazo, principalmente nos playoffs.
Todavia, os nova-iorquinos deram o primeiro passo do batido “manual de sucesso da NBA”, que é acumular “super estrelas” no elenco. Melo e Amare estão no auge de suas respectivas carreiras e se encaixam perfeitamente no modelo do técnico Mike D´Antoni, que usa e abusa da velocidade. Além disso, ao efetuar a troca, o Knicks troca um bando de jogadores sem qualquer experiência em playoffs por 2 veteranos no assunto: Melo e Billups, sendo que este último, apesar de já limitado pela idade, conhece muito bem o caminho das vitórias.
Para finalizar, o torcedor de NY deve ter em mente que o plano da franquia não é para hoje, mas sim para o amanhã. A ideia é que em 2012 a dupla Amare e Melo consiga atrair pelo menos mais um grande nome, como Deron Williams e Chris Paul, o que provavelmente acabará ocorrendo mesmo. Enquanto isso, a equipe garimpará, na medida do possível, jogadores para fortalecer o garrafão e o banco de reservas. De qualquer forma, para uma franquia completamente sem perspectiva, já é um futuro bastante promissor.
Na base do chutômetro, projeto que a equipe terminará esta temporada com aproximadamente 44 vitórias. Se tudo caminhar neste sentido, a equipe parece destinada a enfrentar o Chicago Bulls no primeiro round dos playoffs, e eu não me surpreenderia se o trio de NY conseguisse dar uma trabalheira à equipe da jovem estrela Derrick Rose. Para a próxima temporada, com o entrosamento e eventuais reforços, o Knicks já deve ultrapassar a casa das 50 vitórias, entrando num ritmo parecido ao de Chicago e Orlando.
DENVER NUGGETS
Os torcedores respiram aliviados pelo fato de a equipe não ter repetido o papel do Cleveland Cavaliers, que perdeu a sua grande estrela sem qualquer moeda de troco. Ainda assim, não há muito o que comemorar, já que o recebido por Denver não passa de um conjunto de peças desordenadas para ajudar numa inevitável reconstrução.
De fato, o que definirá o futuro da franquia serão os próximos passos. Só por ter completado a troca, a equipe já economizará cerca de 13 milhões nesta temporada. Dito isso, a diretoria deve definir qual será a profundidade da reconstrução do elenco. Se o Nuggets fechasse a troca com o Nets, que envolvia Derrick Favors e 4 escolhas de primeiro round, a reconstrução seria das mais profundas, e certamente envolveria o brasileiro Nenê. Afinal, com quase 29 anos, o pivô não teria fôlego para aguardar o desenvolvimento de Favors (19 anos) e dos jogadores de 18, 19, 20 anos que ainda seriam draftados no futuro pelo Denver Nuggets.
Contudo, a troca que acabou sendo realizada, com o New York Knicks, envolveu jogadores de idade intermediária (o mais jovem é o italiano Danilo Gallinari, que caminha para os 23 anos) e a diretoria deve estar decidindo neste momento, se eles serão trocados por escolhas futuras de draft, num processo de reconstrução mais radical, ou se eles farão efetivamente parte do projeto da franquia. Nesta última hipótese, é possível que Nenê seja mantido como o veterano da turma.
Sobre o brasileiro, é bom que se diga que, caso não exerça a opção contratual de mais um ano no Nuggets, ele se tornará agente livre ao final da temporada. Contudo, Nenê já declarou firmemente que deseja permanecer em Denver, cidade natal de sua esposa e onde fincou profundas raízes. Resta saber se o seu desejo coincidirá com os planos da franquia e também qual será o valor exigido pelo pivô para uma eventual renovação.
O que é certo em Denver é que o plano de reconstrução do elenco tem como base 2 jogadores: o armador Ty Lawson (23 anos) e o ala Aaron Afflalo (25 anos). Aliás, a ideia é começar a utilizar Lawson como titular o mais rapidamente possível.
Por isso, dentre os jogadores recém-adquiridos pelo Denver Nuggets, Raymond Felton é o que tem maiores chances de ser trocado até quinta-feira. Afinal, Lawson e Felton teriam grande dificuldade de atuar juntos por conta da estatura e capacidade defensiva, Felton como titular atrapalharia injustificadamente o desenvolvimento de Lawson e Felton como reserva seria um grande desperdício financeiro (o armador recebe 7,5 milhões anuais). Chega a ser irônico, pois tanto Felton quanto Lawson são heróis de gerações subsequentes da Universidade North Carolina, onde conquistaram títulos em 2005 e 2009, respectivamente.
Veteranos caros como Kenyon Martin, Chris Andersen e Al Harrington parecem estar com os dias contados em Denver. Martin não preocupa tanto, já que o seu (brutal) contrato expira ao final da temporada. Se livrar de Harrington e Andersen provavelmente demandarão maior criatividade da diretoria, pois possuem longos e caros contratos. Assim, não se espante se a equipe usar algumas de suas escolhas de draft ou de suas peças adquiridas para se livrar da dupla.
Outros problemas a serem resolvidos pela diretoria envolvem os alas Wilson Chandler e JR Smith. O primeiro, há algumas semanas, declarou que optaria por se tornar agente livre caso fosse trocado pelo Knicks. O segundo é um dos jovens mais talentosos da liga, mas também um dos mais problemáticos. Os dois certamente estarão disponíveis no mercado a partir de agora.
Já o pivô Timofey Mozgov parece intrigar a diretoria do Nuggets. Desde a saída de Marcus Camby, a equipe busca um pivô de alta estatura para ajudar Nenê, principalmente nos rebotes. Ainda assim, sua permanência dependerá do nível de ofertas recebidas pelo Denver, principalmente se envolverem boas escolhas de draft.
Como se vê, o Denver Nuggets está repleto de jovens jogadores intermediários, alguns com potencial interessante. Mas, com a saída de Melo e Billups, o elenco ficou sem qualquer referência ofensiva. Até quinta-feira, data limite da NBA, mais trocas poderão ocorrer. A partir daí, começará em Denver uma etapa de avaliação sobre os jogadores que restarem. Por este motivo, é praticamente impossível fazer qualquer avaliação ou projeção para a franquia. Resta mesmo aguardar.