O Mexicano Voador
Quando se fala algo do basquete do México, automaticamente vem à associação com um basquete desconhecido. Apesar de um ou outro lampejo (como vitórias contra o Brasil e Argentina no Pré-Olímpico de 2003), a seleção mexicana nos últimos tempos é uma força incipiente do esporte nas Américas. Em 2012 ficou em quinto no CentroBasket e só irá participar da Copa América deste ano devido à suspensão imposta pela FIBA Américas à federação panamenha (clique aqui). No meio desta hipotética conversa poderiam surgir os nomes de Eduardo Najera, jogador que passou pela NBA com alguns picos de fama, mas que desenvolveu a maior parte da carreira de forma discreta, de Horácio Lamas, o parrudo pivô que foi o primeiro jogador mexicano a atuar na NBA e de Gustavo Ayon, que atualmente tem lutado por mais tempo de quadra em Orlando.
Porém, o México tem seu lugarzinho na história da liga americana.
Manuel Raga Navarro, em 1970 seria escolhido pelo Atlanta Hawks na 167° posição, tornando-se o primeiro jogador não americano em uma liga estrangeira a ser selecionado por uma franquia da NBA.
Nascido na cidade de Vila Aldama, onde começou a praticar a modalidade, Raga se destacou nos campeonatos locais e chegou à seleção rapidamente. Aos 19 anos estava participando do mundial do Rio de Janeiro (1963), quando teve média de 12,3 pontos por jogo. No mundial de 1967, no Uruguai, média de 15,6 pontos e apesar da modesta oitava colocação, duas vitórias sobre a Itália, contra quem fez 31 pontos na primeira partida. Ali, Raga começaria a chamar a atenção dos técnicos do país da bota. Sua maior glória com a seleção foi em 1967, nos jogos Pan-Americanos de Winnipeg, quando o México foi vice-campeão, perdendo a final para os EUA. Nesta campanha, uma vitória sobre o Brasil de Wlamir e Amaury (66 x 64). Em 1968, nos jogos olímpicos da Cidade do México, conduziu sua seleção ao quinto lugar, anotando 18,5 pontos por jogo. Ao término da competição, receberia o convite para cruzar o Atlântico e defender o Varese, na Itália.
Na Europa, construiu uma carreira de enorme sucesso. O início foi um pouco conturbado. Por ser mexicano era visto com desconfiança e acabou recebendo o apelido pejorativo de “Índio”, mas a maré virou rápido. Extremamente atlético para os padrões da época, Raga, que media 1,88, tinha um pacote de habilidades fantástico: um ótimo arremesso, uma impulsão assustadora (1,10m de impulsão vertical – dizia-se que era capaz de tocar o ombro no aro) e um grande defensor. Tais atributos, somados ao título logo em sua temporada de estreia renderam-lhe um apelido muito mais condizente e respeitoso: “Il messicano volante” (O mexicano voador). As conquistas não parariam por ai: mais dois títulos italianos, um tricampeonato europeu de clubes e mais três Copas da Itália.
No meio de tudo isso, aconteceu o episódio do draft. O então gerente-geral do Hawks, Marty Blake, acreditava que Raga e seu parceiro de time, Dino Meneghin repetiriam na NBA o furor que estavam causando na Europa. Meneghin, jogador que mais vezes conquistou o título europeu (sete vezes), seria selecionado quinze posições a frente (182º) no mesmo Draft. Por não querer pagar 35 mil dólares para o clube italiano, Atlanta ficou sem os serviços da dupla. O honra de ser o primeiro estrangeiro vindo de uma liga de fora dos EUA a atuar na NBA, ficaria com o búlgaro Georgi Glouchkov, que defenderia o Phoenix Suns na temporada 1985/1986.
Raga deixaria a Itália em 1975. Antes disso, no mundial de 1974 em Porto Rico, terminaria como vice-cestinha da competição com média de 25,8 pontos (o anotador máximo do torneio foi seu compatriota Arturo Guerreiro, com média de 27 pontos por jogo). Encerraria a carreira em 1979 jogando na Suíça.
Em 2008, no aniversário de 50 anos da Euroliga, foi considerado uma das 50 personalidades, entre jogadores, técnicos e árbitros, mais importantes da história da competição. Em um grupo formado por Drazen Petrovic, Arvydas Sabonis, Toni Kukoc, Ettore Messina, Bob McAdoo entre outros, Raga e Manu Ginóbili foram os dois únicos latino-americanos a fazerem parte da lista.
Prova que a lembrança de seu jogo continua tão alta como era sua impulsão.