O problema da armação brasileira

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Publicado em: 13/09/2008

Diante da péssima fase do basquete brasileiro, creio ser importante analisarmos a falta de armadores no cenário nacional. Levando em consideração a minha própria experiência em relação às categorias de base brasileiras, tentarei explicar alguns erros crônicos do nosso basquete.

Em nosso país, o jogador mais baixo e que é selecionado para armar um time de basquete não é exaltado pelas mesmas características das quais os armadores do resto do mundo são exaltados. Aqui, o jogador da posição “1” não precisa ter grande conhecimento do jogo, habilidade de cadenciar e controlar o ritmo da partida e nem boa defesa. Engana-se quem pensa que a qualidade do passe é fator diferencial no Brasil. O armador brasileiro precisa ser uma mistura de rei do Streetball com campeão dos três pontos.

Enquanto todos os grandes armadores ao redor do planeta tem visão de jogo, capacidade de cadenciar e bom passe, os brasileiros são mestres de firulas, bons na linha dos três e extremamente corredores (não se enganem com rápidos). Helinho chuta bem do perímetro, Nezinho é um peladeiro, Manteiguinha não marca ninguém, Hélio é individualista, Ratto chutador, Fúlvio corredor e Arnaldinho sem ritmo algum. Nenhum deles possui as características essenciais do legítimo armador (controle e visão de jogo, senso de coletividade, ótimo passe e boa defesa). Alguns até possuem uma ou duas dessas características, mas nunca as quatro juntas. Sarunas Jasikevicius tem as quatro e ainda se destaca em outras (arremesso, velocidade, controle de bola); Theo Papaloukas também possui as quatro e mais outras (controle mental, boa infiltração). Como eles, José Manuel Calderon, Pablo Prigioni, Raul Lopez, Pepe Sanchez, Vassilis Spanoulis, Jason Kidd, Steve Nash, Zoran Planinic e até Ricky Rubio (com 17 anos) possuem as quatro características essenciais juntas. Sim, Rubio tem 17 anos e já possui mais atributos essenciais ao armador legítimo que qualquer brasileiro. É engraçado ver que os jogadores citados dominam as categorias citadas e não param por aí. Contudo, os melhores armadores nacionais não conseguem juntar duas delas. O melhor armador do Brasil em anos, Valtinho, domina três delas (só falta alguma explosão defensiva). Mesmo assim, é muito pouco para o grande jogador da posição nos últimos tempos.

E então, onde está o problema? Não é em nossos atletas. O problema é de base. Valorizam-se os atributos errados em nossos armadores. No processo de formação, o legítimo “1” se dá mal, enquanto o “streetballer”, chutador, velocista e fominha se dá bem. É necessário que se mude a cabeça e os conceitos dos treinadores brasileiros, deve-se valorizar o jogador inteligente e que priorize o passe ao arremesso; é necessário que se valorize o legítimo armador, aquele que joga para e pelo time, não por estatísticas individuais. Com isso, poderemos ter uma boa quantidade desses jogadores no cenário nacional e em nossa seleção, o que nos permitirá crescer novamente em competições de alto nível.

Ah, quanto ao Marcelinho Huertas, não o esqueci não. Realmente, Huertas é o primeiro armador em décadas que atinge as quatro categorias essenciais. Tem mais, suas infiltrações e running-jump’s são extras (assim como os melhores do mundo). E então? A crítica é totalmente infundada? Não! Huertas só reforça meus argumentos. Apesar de tudo, “se deu mal” por muito tempo na seleção (terceiro armador, reserva até de Nezinho, pouquíssimo tempo de jogo e etc). Sua ascensão só veio após Valtinho pedir dispensa e Nezinho ter se recusado a jogar no Pré-Olímpico de Las Vegas. E sua evolução? Só veio quando foi jogar na Europa. Coincidência?

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