O projeto laranja de Paraíso
São Sebastião do Paraíso entrou para o mapa do basquete brasileiro ao abrigar a seleção de desenvolvimento masculina. Contudo, este não é o único projeto de basquete na cidade. E na noite desta segunda-feira, o Draft Brasil acompanhou Tijuca x São Sebastião do Paraíso para conhecer o time da recém badalada cidade.
Em virtude do caótico trânsito carioca e de uma indescupável falha de programação, só consegui chegar no ginásio no meio do segundo período. Mas não foram necessários mais de 2 minutos para perceber que havia um desnível técnico entre o time local e o rival mineiro.
De fato, o elenco de Paraíso é extremamente jovem, a começar pelos encarregados de comandar as jogadas da equipe: os dois armadores, Filipe e Daniel têm apenas 18 anos cada. Para se ter uma ideia, o líder da equipe em quadra é Júlio Toledo, ex-campeão do torneio de enterradas do NBB, de apenas 25 anos. Enquanto isso, o Tijuca desfilava trintões e quarentões como Ricardinho, Olívia, Rodrigo Bahia. A rigor, até seus jogadores jovens possuem experiência de NBB, como Marcellus e Casé.
Outro aspecto que saltava aos olhos era a disparidade na estatura: enquanto que o pivô Bahia (não confundir com Rodrigo Bahia, do Tijuca) era o único jogador que aparentava ultrapassar os 2 metros pela equipe do Paraíso, o Tijuca se dava ao luxo de revezar seus grandes pivôs e alas.
Não por outros motivos que a equipe mineira parecia intimidada dentro de quadra e sempre tentando utilizar a velocidade para minimizar a desvantagem no garrafão. Mas a verdade é que os tijucanos dominaram a partida e o placar de 98 x 77 poderia ter sido mais elástico caso a equipe anfitriã não fosse tão displicente nos dois lados da quadra.
É através da conversa com dois personagens de São Sebastião de Paraíso, contudo, que o nosso leitor poderá conhecer um pouco mais do que convencionamos chamar “projeto laranja”, em referência à cor do uniforme do Sul de Minas.
Entrevista com Jefferson, técnico de São Sebastião do Paraíso
Como nasceu esse projeto em São Sebastião do Paraíso?
Esse projeto nasceu quando eu parei de jogar há 2 anos e, com a construção da Arena Olímpica (moderno ginásio de São Sebastião do Paraíso), chamaram-me para montar um projeto para primeiramente disputar o regional. E começou a pegar gosto, a gente começou a conquistar uma hegemonia regional, depois a gente chegou a fazer uma grande final do mineiro contra o Minas, e agora pintou essa possibilidade de a cidade ser o centro de treinamento das seleções, despertando a atenção do público. Então, o projeto começou a tomar forma, e devagarzinho a gente vai encaixando as peças. A gente ainda tem muita coisa para melhorar ainda, mas estamos no caminho.
E a chegada da seleção de desenvolvimento e do técnico Ruben Magnano a Paraíso? Qual foi o impacto disso para o basquete da cidade?
Olha, isso atraiu a atenção em nível nacional, porque hoje em dia toda a imprensa de basquete fala de Paraíso, e isso é muito importante para a gente e para a região. A gente está a apenas 70 km de Franca, a 100 km de Ribeirão Preto, então é um centro mesmo e o basquete tende a crescer muito naquela região. E o Ruben é um campeão olímpico, né? Acho que ele tem muito a passar, e a gente está tendo muita liberdade de acompanhar os seus treinamentos. Acho que quem ganha com isso é o basquete, com certeza.
Mas vocês têm conseguido acompanhar os treinos da seleção? Como tem sido esta rotina?
Já sim, há todo um intercâmbio. A gente monta tabela de treino em conjunto, há 2 meninos do time que integraram a seleção: o Germerson, que ficou lá, e o Tom, que jogou aqui hoje. Então, a gente está com um projeto bem bacana, a gente tem conseguido acompanhar os treinos.
E essa questão da região? Será que podemos esperar a formação de uma metrópole do basquete entre Franca, Ribeirão Preto e Paraíso?
Essa é a nossa intenção. Franca, a capital do basquete, São Paulo, Ribeirão Preto e, por que não, Paraíso e o sul de Minas? Também podemos ser capital do basquete. A gente está com este pensamento. A gente quer fazer basquete lá, já estamos com toda uma estrutura de base por lá. Então, estamos começando um projeto bem audacioso, porque o nosso projeto maior é chegar na Liga Nacional. A gente sabe que é difícil, sabe das dificuldades. A gente sabe que é diferente disputar um campeonato nacional, mas o nosso projeto é para daqui a um ou dois anos ter uma equipe de nível nacional.
E qual tem sido a repercussão do time na cidade? A cidade já acolheu a equipe? Já começou a gostar de basquete?
Olha, eu vou te dizer que na Copa do Brasil eu ainda não vi um público de 2 mil pessoas, a não ser em Paraíso. Então, os jogos lá têm levado 2 mil pessoas para a Arena. O pessoal tem gostado e a gente tem feito uma festa bem legal. A gente tem mascote, coloca show de dança, outro dia colocamos aquele pessoal da cama elástica que se apresentou em Franca. Estamos tentando criar uma estrutura bacana para que o povo tome gosto pelo basquete, e a cidade nos tem acolhido muito bem, apesar de não estarmos tendo bons resultados na quadra.
Entrevista com Júlio Toledo, ala de São Sebastião do Paraíso (ex-Araraquara)
Júlio, como está essa nova fase da sua carreira em Paraíso?
Está tudo ótimo. A equipe tem uma ótima estrutura para todos os jogadores. A cidade é boa, acolhedora. O basquete lá vem crescendo a cada ano. O time é muito novo, o Jefferson é um técnico novo, que começou a pouco tempo, mas ele tem demonstrado que tem capacidade para dirigir uma equipe de ponta do basquete brasileiro. Acho que a equipe é muito nova e imatura, e ainda deixa a desejar em certos momentos do jogo. Hoje mesmo contra o Tijuca, oscilamos muito no jogo. Jogamos ora como um time grande, ora como um time pequeno. A gente luta, luta para recuperar um ponto e, depois de três minutos, deixa abrir de novo. Temos que ter essa maturidade.
E o que você tem achado da Copa do Brasil?
A Copa do Brasil está sendo ótima. Para times que não puderam estar no NBB, está sendo uma baita oportunidade de mostrar a cidade, o Estado, o basquete que é feito no Brasil. Acho que tem tudo para engrandecer o basquete brasileiro. É uma iniciativa válida, tanto para times pequenos, como para times grandes também.
E você tem acompanhado a temporada do NBB? Você foi o campeão da primeira edição do Torneio de Enterradas do Jogo das Estrelas, e deve ter assistido o torneio de Franca. O título do Torneio de Enterradas está em boas mãos ou você faria melhor?
Acho que o título está em boas mãos! O cara fez por merecer, mas acho que se eu estivesse lá, a coisa poderia ter sido um pouco diferente (risos). Bem, mas agora é me preparar melhor para, se Deus quiser, disputar o NBB na próxima temporada. Com a equipe do Paraíso ou uma outra equipe…