Os bastidores das eleições da CBB

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Publicado em: 4/05/2009

Conforme alguns leitores notaram através do nosso twitter, o Draft Brasil compareceu ao local das “eleições” da CBB, que acabaram definindo Carlos Nunes como o sucessor de Gerasime “Grego” Bozikis.

Antes mesmo de começar o discurso do (ex-)presidente, houve o anúncio de que a Federação Goiana de Basquetebol, que não teria direito à representação na assembléia, conseguira uma liminar garantindo o voto (mais tarde, verificou-se que o mesmo seria de Carlos Nunes. Vale anotar o número do processo, que tramitará na 41ª Vara Cível do TJRJ: 2009.001.106928-0).

Do salão, recebo mensagem no celular do Balassiano, antecipando o que sairia 5 minutos da boca do até então presidente da CBB: a chapa de situação renunciaria, fazendo com que Carlos Nunes fosse eleito o presidente da máxima entidade do basquete brasileiro.

A nossa reação inicial, é bom dizer, é da que se tratava de uma manobra orquestrada entre as partes. Afinal, os dois candidatos trabalharam juntos por anos e, de todo modo, Grego não ficaria afastado do poder, já que há pouquíssimo tempo atrás se elegeu presidente da ABASUL (entidade sul-americana de basquete).

No discurso em que anunciou a sua renúncia, Grego exaltou o período (12 anos) em que esteve à frente da CBB, afirmando que o “vetor do basquete não está mais assim” (apontando para baixo). E, para completar, lançou um “e não foi obra do Viagra, perguntem às meninas”.

Piadinha machista (e sem graça) à parte, é quase constrangedor ter que ouvir um discurso tão fora da realidade. O basquete brasileiro nunca esteve tão mal como no período em que o Sr. Gerasime Bozikis esteve na presidência da CBB…

Argumentou o (ex-)presidente que o basquete brasileiro não se limitava apenas às seleções – como se de resto o nosso basquete estivesse uma maravilha…

Por fim, fez questão de frisar que ele e Carlos Nunes formavam “um grupo só” e que retiraria a sua candidatura pelo bem do basquete brasileiro, que precisaria de uma união de forças.

O discurso de Grego foi recebido com efusivas palmas pelos presidentes das Federações. As palmas foram ainda mais estridentes para a aprovação por aclamação das contas no exercício de 2008.

Em seguida, foi realizada a “tão aguardada votação” para definir o presidente da CBB. Quando o primeiro “eleitor” anunciou que optaria pela abstenção, em ingênuo otimismo chegamos a cogitar um voto de protesto. Na verdade, era apenas a primeira de 11 abstenções daqueles que votariam em Grego, caso ele não tivesse renunciado. E com 16 dos 27 votos possíveis, Carlos Nunes foi eleito o novo presidente da CBB.

Após um breve cumprimento entre vitorioso e derrotado, Grego se retirou da assembléia, seguido pela maior parte dos correligionários (os mesmos que optaram pela abstenção nas eleições). Apenas aí ficou realmente claro que não houve qualquer articulação entre os candidatos (salvo hipótese de um movimento ensaiado à perfeição) e muito menos a união anunciada e pregada por Grego.

Muito pelo contrário, as informações dos bastidores era a de que Grego teria tentado reverter votos até a noite anterior às eleições e que, sem sucesso, preferiu renunciar a ser derrotado nas eleições.

O racha existente ficou ainda mais escancarado na disputa pelos 4 cargos no Comitê Executivo da entidade, que gerou uma certa confusão na assembléia.

Refeita a ordem, foi então a vez de Carlos Nunes proferir as suas primeira palavras como presidente eleito da CBB.

De acordo com Nunes, ele de fato esteve ao lado de Grego até o passado recente, mas que passara a ter algumas propostas dentro da CBB que não estavam sendo executadas, o que teria motivado a dissidência.

Em suas palavras, a maior meta de sua gestão será mesmo a classificação da equipe masculina para os Jogos Olímpicos.

Em tom de compromisso, Carlos Nunes afirmou categoricamente que uma de suas primeiras medidas será convocar uma assembléia para alterar o estatuto da CBB, restringindo o número de reeleições para apenas uma.

Questionado sobre os 15 anos em que ficou no poder na Federação do Rio Grande do Sul, Nunes afirmou que naquele estado a situação diferente, pois, em suas palavras, ninguém mais queria assumir o cargo.

Sobre as comissões técnicas das seleções adultas, Carlos Nunes afirmou que, no masculino, o seu plano é manter Moncho Monsalve e que, no feminino, o trabalho de Paulo Bassul será avaliado nas próximas semanas (o que se fala nos bastidores é que Bassul dificilmente continua no cargo).

Perguntamos a ele quando ele recebera a notícia da renúncia de Grego e o que ele achava da saída abrupta do ex-presidente e seus correligionários da assembléia. Em resposta, Nunes afirmou que soube da renúncia cerca de 30 minutos antes do início da assembléia e conteporizou sobre a atitude de Grego, dizendo que era normal o ex-presidente querer aliviar a tensão do processo eleitoral em casa, já que não havia mais nada a ser decidido ali.

Ainda no salão, assessores de Carlos Nunes nos passaram a informação de que Hortência lideraria uma “tropa de choque” de personalidades relacionadas ao basquete que fariam parte da nova gestão. Aparentemente, Hortência seria a responsável pelo basquete feminino na gestão Carlos Nunes.

Por fim, tivemos a oportunidade de conversar rapidamente com José Carlos Brunoro, que vinha sendo anunciado pela chapa vencedora como responsável pela implementação de um modelo profissional de gestão na CBB. Perguntamos se ele já havia estudado as fontes de despesas e receitas e feito um planejamento para o manejo de recursos na nova gestão.

Contudo, por maior prestígio que Brunoro possua na área de gerenciamento esportivo, ficou evidenciado que ele nitidamente ainda não tem qualquer informação sobre a CBB e muito menos projetos para gerí-la.

Alguns pontos merecedores de destaque da assembléia:

1) Total ausência de atletas, ex-atletas e técnicos no salão (salvo aqueles que estavam diretamente ligados ao pleito eleitoral. Ainda assim, raras exceções). Em especial, sentimos a ausência de Kouros Monadjemi, presidente da LNB. Teria algum significado?

2) Basquete? Que basquete? Sinceramente, só me lembro de ter ouvido a palavra basquete no salão quando mencionavam o nome da confederação por extenso. Mesmo nos bastidores, basquete era um tema distante. Os detentores de votos, esses então, só falavam de empregos, funções, recepções de delegações, verba de cada estado…

3) O novo presidente é gaúcho, o antigo era grego, mas o fato é que o basquete brasileiro é dominado pelas Federações do eixo Norte/Nordeste. As duas regiões, habitadas por menos de 35% da população brasileira, somam juntas 16 dos 27 votos disponíveis, isto é 59%.

Enfim, hoje termina o reinado de 12 anos de Gerasime Bozikis na CBB, mas ainda paira uma enorme dúvida: será mesmo o fim da era negra do nosso basquete?

O passado de Carlos Nunes, seja como braço direito do ex-presidente, seja durante os seus 15 anos à frente do basquete gaúcho, devem ser considerados péssimos antecedentes. O fato de ele insistir que a gestão de Grego fez bem ao basquete brasileiro chega a impressionar…negativamente, óbvio.

A seu favor, contam os 2 importantes passos anunciados: 1) o compromisso com o fim das reeleições indefinidas e 2) o convite a Hortência.

Vamos torcer para que não sejam apenas bravatas de início de mandato.

Texto de Alfredo Lauria com a colaboração de Thiago Valcacio.

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