Para Limeira e Paulistano, a hora é de crescer crescendo
Há uma escola na Índia, uma das melhores do país, que possui um método muito curioso de educar crianças de 8 a 12 anos: eles as colocam para viver o cotidiano de adultos durante as aulas. Pagamento de contas com dinheiro ganho através do próprio “trabalho” (quase todos, professores de francês ou programadores de computador), além de outras responsabilidades como cozinhar, cuidar de bebês e outras tarefas domésticas.
Ao entrar na sala, há uma placa sobre a porta onde está escrito: “Crescer crescendo”. Basicamente, parte do princípio de que o crescimento não é algo que acontece de uma hora pra outra e que o caminho até alcançar é o que realmente faz a diferença.
Causou um certo alvoroço os reforços contratados pelo Winner/Kabum/Limeira e pelo Paulistano/Unimed. Equipes com tradição em São Paulo, que investem há séculos no basquete, mas que nunca conseguiram qualquer resultado expressivo em termos de título. Usando uma gíria carioca, “nadam, nadam e morrem na praia”.
Partindo para a montagem das equipes, começando pelo Limeira, é claro o salto de qualidade à primeira vista. David Jackson é um dos maiores calibres do continente e um estrangeiro dos mais respeitados no forte basquete argentino. Guilherme Teichmann é ex-atleta do clube, conhece e gosta da cidade além de ter se consolidado como um ala-pivô dos mais confiáveis por essas bandas. Outro reforço expressivo é o pivô Bruno Fiorotto, que voltou do Pinheiros e chama atenção por seu tamanho e mobilidade.
Da temporada passada pode-se tirar muito pouca coisa. Jovens jogadores como Matheus Dalla e Deryk se mostraram talentosos, mas o restante do elenco era composto por jogadores de rotação definitivamente medianos. Nos jogos em casa, a equipe costumava ganhar alguns jogos difíceis, mas no geral, apresentava um basquete tão empolgante quanto um filme do Woody Allen.
Diante disso, a pressão por resultados após anos de investimentos fez com que o clube fosse ao mercado.
São bons reforços? Claro que são. Inegável. Mas se por um lado o poder de fogo da equipe melhorou, por outro ressalta uma deficiência a ser explorada potencialmente pelos seus adversários: a defesa.
Fazendo um breve exercício de memória, podemos lembrar dos 3 jogadores que integraram o elenco do Flamengo semifinalista na temporada 2011/2012 e que agora fazem parte da equipe base do time. Com exceção de Teichmann, Hélio e David Jackson não são defensores dos mais confiáveis. Para ser mais exato, estão bem longe disso.
Hélio é um armador com alto QI de basquete. Cadencia e acelera o jogo sempre com eficiência. Pontua bem e é constante nas assistências. Mas na defesa, quando precisa dar o primeiro combate, é comum observar o armador cercando à distância o seu marcador ao invés de agredí-lo. E isso prejudica qualquer tipo de defesa que Demétrius venha a armar, mas principalmente no caso das marcações por zona em que invariavelmente o armador precisa exercer essa função.
Já David Jackson possui um repertório ofensivo monstruoso, combinando um arremesso calibrado de curta, média e longa distância com um jogo de perímetro para lá de confiável com improváveis infiltrações, mesmo com sua baixa estatura (seus 1,85 metros estão bem aquém dos 1,95 metros que os sites especializados anunciam). Entretanto, o grande problema do ala também se refere ao auxílio na defesa.
Ao contrário dos alas americanos, que costumam defender razoavelmente bem graças ao bom atleticismo, Jackson é um defensor bastante limitado. Suas médias de roubadas e tocos na carreira são de razoáveis 1,1 roubadas e 0,68 tocos por partida respectivamente, mas que mascaram todas as lacunas do jogador na hora de contestar arremessos adversários. Claro que não se pode exigir de um ala pontuador que ele faça o trabalho sujo na defesa no mesmo ritmo dos marcadores de perímetro e dos pivôs, mas a participação dele costuma ser mesmo quase nula nesse quesito.
Além dos dois, os outros jogadores do provável quinteto titular (Ronald Ramon e Bruno Fiorotto) são marcadores regulares mas esforçados e interessados na função. De fato, Guilherme Teichmann é o melhor defensor da equipe. Vindo do banco, temos Matheus Dalla e Deryk, que curiosamente são defensores muito mais seguros do que os titulares do perímetro. Dito isto, é fato de que os dois ajudarão e muito na rotação, mas fica a questão de qual será a quantidade de minutos que eles atuarão, o que provavelmente não será muito grande.
Já o Paulistano parece ter montado um time um pouco mais equilibrado. Kenny Dawkins e Desmond Holloway, os reforços americanos da equipe da capital, embora não possuam a mesma experiência e repertório ofensivo de David Jackson, são atletas mais dinâmicos, que contribuem em mais aspectos do jogo e também na variação de esquemas defensivos.
Henrique Pilar é um ala-pivô que pode perfeitamente jogar como ala. Tem bom chute de perímetro, habilidade nas infiltrações e é muito vibrante e ativo na defesa. Com Mineiro, ex-pivô do Minas de 2,13 metros e que embora não seja tão pontuador, faz bem o trabalho sujo, tornando o time bem mais seguro e consistente do que a temporada passada. Soma-se a isso jogadores como o promissor Arthur Pecos e o ala Pedro, e temos um time bem interessante.
Limeira e Paulistano mostraram que querem incomodar os grandes e crescer também. Ao meu ver, o time da capital saiu na frente. Mas só o tempo para nos mostrar quem vai dar o maior passo e quem aprendeu do jeito certo.