Pelo fim do limbo!
Depois de uma era de marasmo, as nossas seleções de base conseguiram obter alguns resultados expressivos ao longo dos últimos 3 anos. De fato, há uma boa leva de jovens no basquete brasileiro. O maior desafio é desenvolver o maior número possível desses jogadores.
Até 2007, o cenário das nossas seleções de base não era nada promissor. Há tempos sem derrotar a Argentina, o Brasil começava a perder espaço também para países menos tradicionais no basquete, como Uruguai e Venezuela.
Surpreendentemente e meio aos trancos e barrancos, a seleção sub19 chegou à semifinal do Mundial na Sérvia, revelando Paulão, Betinho e outros bons jogadores. No ano passado, a seleção sub19 que não se classificou para o Mundial da categoria, reforçada de Lucas Nogueira e Raulzinho, obteve bons resultados no Nike Global Challenge 2009.
Há menos de um mês, na Copa América disputada em San Antonio, a seleção brasileira sub 18 teve atuações exuberantes, ficando com a medalha de prata.
A questão delicada a ser resolvida de agora em diante é como aproveitar e desenvolver esse grupo de cerca de 30/40 jogadores que compõem essas “gerações” de 1988 a 1992.
Vejo muita gente já clamando pela convocação de Lucas Nogueira e Raulzinho na seleção principal.
Particularmente, sou contra queimar etapas na seleção brasileira, e a favor de que a inserção seja feita aos poucos, com uma preparação gradual e cuidadosa.
Casos como o de Tiago Splitter (Mundial 2002), Lebron James (Atenas 2004) e Ricky Rubio (Pequim 2008) são excepcionais. E não apenas pelo o fato de esses jogadores serem fora de série, mas principalmente por terem começado a atuar no basquete profissional competitivo muito cedo.
Assim, é bem interessante a fórmula da CBB de convidar jogadores jovens para aclimatação com as seleções adultas, bem como o envio da seleção sub18 para a versão 2010 do Nike Global Challenge.
O que incomoda, por outro lado, é ver o quão restrito é esse trabalho de desenvolvimento, quando deveria abranger toda a geração 1988/92.
Ora, o objetivo do basquete brasileiro não deveria ser tão somente uma boa colocação no Mundial Sub19 de 2011. Resultados na base deveriam ser sempre encarados como como consequência, e não como um fim de um trabalho.
O objetivo maior, sem dúvidas, é formar e dar experiência a uma grande quantidade de jogadores, a fim de não tornar a seleção brasileira tão dependente da boa vontade de um ou outro valor individual.
Nossos vizinhos argentinos, por exemplo, através de um projeto denominado “2014/2018“, enviaram à Ásia um grupo de jogadores jovens, que enfrentou seleções adultas de países como Austrália e China.
São jogadores que não teriam espaço nem na seleção argentina principal que disputará o Mundial, nem tampouco na seleção B que disputará o Sul-Americano, mas que já estão ganhando uma valiosa experiência internacional.
Aqui no Brasil, há um limbo preocupante entre as seleções de base e as primeiras oportunidades na seleção principal . Há inúmeros casos de jogadores que, apesar de talentosos, podem ficar um período de até 5 anos sem atuar na seleção brasileira.
Isso ocorreu, por exemplo, com o ala Diego e o armador Luiz Felipe Lemes, que tiveram boas atuações na base, e só foram reencontrar a seleção brasileira um bom tempo depois, já veteranos.
Por esse motivo, ao invés de cuidar apenas da geração X ou Y, ou do jogador Z ou W, é imperioso fazer um trabalho de aproveitamento em larga escala desses jovens valores.
Para ilustrar bem a questão, citamos o caso de Jordan Burger, sobre o qual me alertou ninguém menos do que o bicampeão Wlamir Marques. Tal como Tiago Splitter, Jordan Burger saiu muito cedo para atuar na Espanha. Destaque da seleção que foi bem no Nike Global Challenge 2009, a grande promessa hoje está “sem seleção” e também sem clube, já que, sem passaporte comunitário, acabou sendo dispensado por seu clube espanhol, apesar das boas atuações.
Será que estamos mesmo em condições de negligenciar um talento como o de Jordan Burger?
Mas Jordan Burger não está sozinho. Jovens como Betinho, Cauê Verzola, Thomas Melazzo, Adonis Souza, Cauê Borges, Felipe Taddei, Ícaro Parisotto, Durval Cunha são apenas alguns exemplos de jogadores que podem passar anos afastados na seleção e vir a serem convocados daqui a 5/6 anos, seja por mérito próprio, seja para suprir ausências. Obviamente, faltará bagagem, como nitidamente faltou ao Diego e ao Luiz Felipe Lemes, dentre outros.
A conclusão não pode ser outra. O basquete brasileiro não pode continuar refém de valores individuais. Formar um grupo de múltiplas “gerações de jovens” e dar-lhe experiência internacional não pode ser encarado como uma despesa, mas sim como um investimento muito bem feito, e que certamente trará resultados importantes a médio e longo prazo. Infelizmente, todavia, os argentinos largaram mais uma vez na frente…