Peñarol surra Universo, mas distância já foi maior
O Interligas serviu para mostrar que a distância entre equipes brasileiras e argentinas não é aquela que havia aparecido na Liga das Américas. Os times do NBB venceram vários jogos e a final colocou frente a frente, de fato, as duas melhores equipes dos dois países.
Agora, que especificamente a final, mostrou o abismo tático que reúne os dois líderes dos nacionais de cada país, não tenho dúvida. Claro que a ausência de Guilherme (por um erro do próprio Brasília, diga-se, que submeteu seus atletas a uma jornada bizarra de 17h de translado, misturando ônibus e avião) pesou e o fato da decisão ser jogo único e na casa do adversário é um significativo atenuante, mas não justifica tamanha surra.
Não falo especificamente do placar, 90-78, que é bem comum para partidas de alto nível. A verdade é que o Peñarol não deu qualquer chance para os campeões da fase de classificação brasileira. Sergio Hernandez é um comandante impecável, que sabe ler as defesas e as alterações pra lá de básicas de Lula variando entre uma zoninha-quase-sem-matchup e uma individual que não consegue defender picks.
O time do Peñarol tem em seu elenco dois jogadores excepcionais: Kyle Lamonte e Léo Gutierrez. O primeiro é fantástico reboteiro, conduz muito bem a bola – sua facilidade em cortar e sua altura acabam lhe garantindo muitas vantagens nas trocas propiciadas nos picks, e sobretudo na velocidade de contra-ataque, o que lhe conduz à linha de lance livre inúmeras vezes ao longo da partida. O segundo é quase um jogador de uma bola só, mas é praticamente imparável. Léo Gutierrez vai meter aquelas bolas de 3 dele em qualquer nível, em qualquer jogo. Uma equipe que enfrentá-lo é obrigada a se preparar para isso.
Pois os brasileiros também têm muito talento em seu elenco. Não tenho dúvidas em afirmar que, apesar de ser fã dos dois acima citados, o melhor jogador em quadra era Alex. Além disso, com qualquer idade, Valtinho será um armador de ponta. No garrafão, não morro de amores por Estevam e Márcio Cipriano (menos ainda por Mineiro), mas eles não ficam devendo tanto assim para os argentinos Leiva, Vega e Reinik. A diferença, ao meu ver, está no banco: um é medalhista olímpico, semifinalista em mundial e Lula, por mais que esteja na elite entre os nossos comandantes, fica muito, mas muito aquém da capacidade do Ovelha. O jogo da última quinta-feira lembrou aqueles duelos da época em que Lula treinava a seleção brasileira e enfrentava seleções que tinham uma defesa mais intensa.
Ainda estamos atrás no ponto de vista defensivo. Isso é notório. E precisamos entender que a defesa começa numa melhor seleção de ataques. O Universo continua sendo uma das melhores equipes brasileiras a compreender isso em competições que realmente demandam uma melhor seleção de chutes – caso das continentais contra adversários argentinos, por exemplo. O Franca claro que entra nesse pacote que, mesmo muito desfalcado, jogou em bom nível em Mar del Plata – melhor que o Universo, diga-se, mas acabou perdendo.
Mas de fato, a distância entre as duas ligas já foi bem maior. E o Interligas, por mais que tenha trazido sérios problemas para algumas equipes (falo das possibilidades sérias de desfalque para os playoffs do NBB em Murilo, Guilherme e Benite), traz o importante saldo de ter dado rodagem internacional às quatro melhores equipes brasileiras e jovens como Cauê, Cauê Borges, Raulzinho, por exemplo. E serviu também para reafirmar a coroa a Sergio Hernandez e ao Peñarol, a melhor equipe latinoamericana de 2009-10: campeão da Liga das Américas, do Torneio Super 8 argentino e da Copa Desafio. E agora, do Interligas. A temporada mais bem-sucedida da história dos de Mar del Plata.
Foto: Infoliga.