Por que somos contra?
No meio da festa, uma notícia desagradável. Foi na entrevista coletiva do Final de Semana das Estrelas que a LNB informou ao público que o NBB passaria a ser decidido em uma única partida, já a partir da próxima temporada.
Não é a primeira vez que você ouve falar neste assunto: há alguns meses a LNB ameaçara utilizar a mesmíssima fórmula para decidir a terceira temporada do NBB, mas diante de uma forte reação contrária viu-se obrigada a recuar. Pudera, uma pesquisa realizada na maior comunidade do NBB do orkut constatou que, entre centenas de torcedores, mais de 90% rejeitavam a ideia.
Dessa vez, contudo, os clubes e dirigentes da LNB resolveram atropelar a opinião da quase totalidade dos basqueteiros para adotar a fórmula descrita na foto acima em destaque.
Como se vê, a partir da próxima temporada o basquete brasileiro passará a ter a o regulamento mais complicado do mundo.
Enquanto Lula Ferreira desafiava a inteligência dos jornalistas ao tentar convencê-los de que a final não seria realizada numa única partida, o presidente da LNB, Kouros Monadjemi, foi sincero e objetivo: “estamos mesmo abrindo mão parcialmente da parte técnica em prol da financeira“. Kouros lembrou da dificuldade dos clubes e enalteceu a parceria com a Rede Globo, que, em suas palavras, foi a única emissora a “apostar no basquete brasileiro”.
Ora, tomada a decisão, cabe à imprensa e aos torcedores debaterem e questionarem sobre os limites dessa perda técnica. Já foram eles ultrapassados?
No meu modesto entender, sim. Para começar, a LNB derruba um sistema tradicional do basquete que é adotado em todos os grandes campeonatos nacionais do mundo: a série final. Para minimizar a perda de bilheteria dos clubes, a LNB criou um sinistro quadrangular que, além de confundir os torcedores, possibilita que um time antecipadamente eliminado influa na classificação para a final. Não bastasse, a LNB admitiu a possibilidade de a final ser disputada em quadra neutra, longe das torcidas dos times finalistas, o que é desastroso.
E que não venham os dirigentes aparecerem eufóricos no dia 10 de junho de 2012, um domingo, entoando dizeres como “eu já sabia”. A questão não é se a final será um sucesso de audiência, vista por milhões de telespectadores. Ora, ao conseguir 2 horas de TV aberta, talvez espremidas na grade do programa Esporte Espetacular, o basquete, segunda modalidade esportiva mais popular do planeta, terá conquistado um feito menor do que a maratona aquática brasileira ou o showbol, por exemplo.
No fim das contas o que leva o público efetivamente aos ginásios? Qualidade técnica e fortalecimento dos clubes ou 2 horas anuais de divulgação em rede nacional? Por causa de um dia no mês de junho, ginásios como HSBC Arena e o Nilson Nelson torna-se-ão abarrotados de pessoas durante toda a temporada regular? Eu duvido, e muito.
E o futuro? Quais serão os próximos passos da LNB? Nos próximos 10, 20, 30 anos teremos que nos contentar com essas 2 horas anuais de basquete na TV aberta? Será esse o grande diferencial do NBB para a popularização do basquete? Qual é o planejamento a longo prazo da LNB, já que houve o compromisso de que essa seria uma decisão “temporária”?
Como o próprio Kouros admitiu, a LNB ganhará um aumento na “mesada”. Mas e aí? Como serão investidos esses recursos? Teremos uma “liga rica”, mas com um campeonato fraco, clubes deficitários e com público muito aquém do potencial? Pois se esse script lembra a relação entre CBF/Globo/Futebol, não se trata de mera coincidência, com a diferença de que a popularidade do futebol é tão grande no Brasil que nem as imposições toscas de TV conseguiram aniquilar com a modalidade. Ainda assim, é triste ver clubes de futebol que, ao contrário do resto do mundo, não conseguem garantir retorno financeiro através de seus torcedores, dependendo sempre da mesada da TV.
Deveras, não é de mesada que os clubes precisam. Eles precisam é de auto-suficiência. Eles precisam de um espaço maior na TV, aberta ou fechada; eles precisam que seus jogos ocorram em horários decentes; eles precisam que seus jogos nas competições continentais sejam transmitidos; eles precisam que o nome de seus patrocinadores não sejam omitidos, eles precisam que a TV não crie uma série de imposições na utilização de espaços de ginásio/quadra; eles precisam de regulamentos inteligíveis; e, finalmente, eles precisam que seus fiéis torcedores sejam ouvidos e prestigiados.
A curto prazo, dirigentes sorrirão com os recursos inéditos que serão obtidos, mas o sucesso a médio e longo prazo dependerá exclusivamente de como esses recursos serão utilizados ou contigenciados, no sentido de que essa dependência do basquete brasileiro com diante da TV seja minimizada no futuro.