Porque perdemos para o Uruguay

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Publicado em: 1/06/2009

Terminou hoje o Sul-Americano Sub-17 disputado no Uruguay e que teve um resultado abaixo do esperado para a seleção brasileira. O time comandado pelo técnico Gustavo de Conti perdeu a semifinal para os donos da casa e ficou apenas com a terceira colocação (Argentina campeã – foto, Uruguay vice).

É preciso entender o porquê da derrota para o Uruguay, afinal, o pequeno país sul-americano não é uma seleção que costuma nos vencer históricamente.

De um lado está o péssimo trabalho de base brasileiro sendo comprovado mais uma vez. O time sub-17 brasileiro é um espaço em branco quando falamos de basquete coletivo. Tirando as individualidades de Raul Togni Neto, Felipe Taddei e Icaro Parissoto é difícil citar algo de muito bom nessa seleção. Engraçado notar que nem na base, aonde os resultados poderiam ser deixados em segundo plano se tivéssemos um bom nível de jogo, temos um trabalho para alavancar o jogo coletivo. Não seria mais importante jogar bem para depois vencer? Pelo visto no Brasil não se pensa assim, afinal, se aposta somente nas individualidades para destruir adversários pífios (Bolívia, Paraguay, Chile e Equador) e assim buscar vitórias. Porém, quando nos deparamos contra times organizados e com bons talentos a individualidade brasileira não resolve e as derrotas surgem quase que sempre. O basquete adulto brasileiro nos mostra isso a anos e pelo visto a base também. Mudar é necessário, organização e jogo coletivo são necessários.

Do outro lado temos o ótimo trabalho feito no Uruguay (espelhado na Argentina). A seleção celeste está cada vez mais emergindo como força sul-americana no basquete adulto (resultados no Pan-Americano e Pré-Olímpico das Américas) e agora começa a mostrar que o seu futuro continua promissor. A geração uruguaya não conta somente com alguns talentos individuais (Mathías Calfani, Iván Loriente, Nicolás Alvarez, Diego García e Juan Pablo Alvarez). A organização do basquete uruguayo gera o maior fruto dessa seleção: organização.

Mostramos aqui no Draft Brasil por mais de uma vez o excelente trabalho que é feito no Uruguay em termos de organização de clubes e da própria liga nacional uruguaya (LUB). Disponibilizo o link de um dos artigos aqui.

Toda a organização e trabalho uruguayos levam o país a ter essa geração de qualidade. O time joga com bastante consistência e com um padrão de jogo definido a bastante tempo (trabalho na base e nos clubes).

A seleção sub-17 especificamente tem talentos que provam que a vitória contra o Brasil não foi nem um pouco por acaso. Iván Loriente é um ótimo ala-armador com um chute do perímetro incrível (16-38, 42% de aproveitamento na competição). Nicolás Alvarez é um excelente jogador, afinal, teve 42% de aproveitamento do perímetro e incríveis 73,5% nas bolas de dois pontos. Com tamanha facilidade de pontuar, Alvarez é o fator determinante dessa seleção, afinal, o Uruguay não possui um jogador com tanta facilidade de pontuar fora do garrafão a bastante tempo em sua seleção adulta (Leandro Garcia Morales e Nicolas Mazzarino são exímios arressadores mas não grandes pontuadores e Martín Osimani é mais um organizador do que definidor). Mathías Calfani (que já mostrou seu bom basquete em alguns minutos da Liga das Américas dessa temporada) é o pivô desse time e contribuiu muito com pontos e rebotes. O jovem jogador figura no plantel profissional do ótimo Biguá. Por fim, Diego García arma bem esse time (3.6 assistências de média na competição e 43% de aproveitamento nas bolas de três). Um time que conta com essas peças, além de um padrão de jogo coletivo e encravado desde cedo nos jogadores sempre vencerá um time que corre muito, precipita arremessos de mais e marca de menos.

No jogo contra o Brasil, os uruguayos deram um show de jogo coletivo ao distribuírem quase o dobro de assistências do que os brasileiros (14 contra 8). Além disso, Iván Loriente (26 pontos) e Nicolás Alvarez (28 pontos) fizeram chover do perímetro por conta da fraca marcação brasileira. Por final, Alvarez tomou conta da partida na prorrogação e ninguém da seleção verde-amarela foi capaz de pará-lo.

Vale ressaltar ainda que os uruguayos não venceram a Argentina na primeira fase por causa de um terceiro período desastroso (24×7 para os argentinos) e que foi determinante para a derrota por apenas 7 pontos (65×57). O time treinado por Fernando Cabrera é a prova viva de que o trabalho bem feito gera resultados sempre. Os talentos uruguayos podem não ser os melhores, entretanto, todas as peças do time sabem sua função e estão plenamente adaptados à um sistema de jogo bem definido. Isso gera vitórias.

Enquanto os brasileiros não fizeram um trabalho sério na base, perderemos sempre para aqueles que trabalham com qualidade e seriedade. As desculpas brasileiras se mostram cada vez mais ridículas. Não seria a hora de trabalhar e organizar o basquete brasileiro para devolver ao país a dignidade que merece nesse esporte?

Raoni Moretto
raokiller@hotmail.com

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