Primeiras impressões

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Publicado em: 8/08/2009

Ontem foi mais um daqueles dias inteiramente dedicados ao basquete

Depois de passar a tarde preparando uma matéria especial, que espero publicar ainda neste final de semana, cheguei ao Maracanãzinho por volta das 18:30 horas para acompanhar a 1ª rodada do Super4 brasileiro.

Ao entrar no ginásio, tive uma enorme surpresa positiva: a CBB preparou uma super produção para o torneio.

Para falar verdade, ao longo dos últimos anos acompanhando o basquete brasileiro, nunca havia visto uma produção tão espetacular para uma partida da seleção brasileira.

Das últimas partidas disputadas no país, acompanhei pessoalmente Brasil x Nova Zelândia, tanto no Tijuca Tênis Clube (Rio de Janeiro), como no ginásio da ASCEB (Brasília) e, com exceção da oportunidade de ver nossas maiores estrelas, foram verdadeiros programas de índio para os basqueteiros (calor, cadeiras sujas, nenhum atrativo extra quadra, serviços péssimos).

Em 2008, com o Maracanãzinho já reformado pós-Pan 2007, a seleção brasileira enfrentou a Venezuela em 2 noites seguidas, mas sem que o evento contasse com qualquer tipo de produção.

Ontem, verdade seja dita, a CBB surpreendeu positivamente ao dar ao preparar uma produção digna ao nosso basquete.

A assessoria de imprensa estava especialmente bem equipada e instruída, foi disponibilizada rede wireless dentro do ginásio para os jornalistas, o ginásio contou com um super sistema de iluminação colorida, potentes canhões de luzes, placas publicitárias eletrônicas e etc.

Do lado de fora da quadra, um trio de animadores promovia brincadeiras com o público e o telão do ginásio era utilizado como ferramenta de interação. No intervalo das partidas, por exemplo, rolou a tradicional brincadeira do “Kiss cam”, tão famosa nos EUA.

Fica o lamento apenas para o fato de a CBB não ter divulgado minimamente o o torneio. Chega a ser surreal o fato de a imprensa estar praticamente ignorando o evento.

Outra coisa inexplicável é o sumiço das homenagens prometidas aos campeões mundiais de 1959, como relatado por Wlamir Marques, em sua comunidade da internet. Apenas para lembrar, os argentinos, dias atrás, aproveitaram o Super4 deles para homenagear Alejandro Montecchia, Pepe Sánchez e Luis Espil.

Agora, a maior crítica fica mesmo por conta da falta de divulgação e da pouquíssima presença da imprensa.

Ontem, entraram em quadra nada mais, nada menos do que 2 campeões olímpicos (Luis Scola e Leo Gutierrez), 4 medalhistas de bronze (Román González, Paolo Quinteros, Juan Gutiérrez, Federico Kammerichs – sem contar Scola e Gutierrez, novamente), 4 jogadores que atuam na NBA (Leandrinho, Anderson Varejão, Nathan Jawai e Luis Scola), dentre outras estrelas do basquete mundial e, nos principais jornais da cidade, o Super 4 foi divulgada por notinha de 1 parágrafo.

Não é pouca coisa, se considerarmos que a imprensa esportiva muitas vezes reserva meia página de jornal para falar sobre a presença “ilustre” de um campão olímpico do ciclismo ou de um campeão mundial da categoria XYZ do iatismo na cidade.

Dito isso, vamos ao que interessa: a seleção brasileira entrou em quadra para a partida contra o Uruguai com uma formação titular que não traz muitas surpresas: Huertas, Leandrinho, Alex, Anderson Varejão e Tiago Splitter.

Como Marcelinho Machado estava machucado, a única posição em que poderia haver alguma dúvida no quinteto foi preenchida automaticamente por Alex.

E, após um período um tanto o quanto turbulento de preparação, a seleção não poderia ter começado a sua jornada à Copa América de maneira mais positiva.

Jogando um basquete mais organizado e solidário do que estamos acostumados, a seleção não encontrou adversário na noite de ontem.

Tudo bem que Garcia Morales, o segundo jogador mais importante do Uruguai, havia se integrado à seleção apenas no Rio de Janeiro, não participando da fase de preparação, mas nada justifica a péssima exibição da seleção uruguaia, completamente apática, principalmente na defesa.

Esteban Batista até que começou bem a partida de ontem, com o seu tradicional domínio no garrafão. Depois, foi tomado pela apatia generalizada da sua equipe, e sumiu no jogo.

Por outro lado, a seleção brasileira contou com atuações marcantes principalmente de Anderson Varejão e Alex Garcia.

É impressionante o quanto Varejão agrega à seleção. Ele simplesmente toca em todas as bolas disputadas e atrapalha todas as jogadas ofensivas dos adversários. Assim, os 19 pontos e 11 rebotes só contam uma parte do que Varejão fez em quadra contra o Uruguai.

Já Alex Garcia foi exatamente aquele Alex que nós estávamos acostumados a venerar. Um jogador solidário e agressivo, ao invés do chutador descontrolado que vimos atuar pelo Universo/BRB na última temporada.

Diante da fragilidade do adversário, Leandrinho pôde atuar da sua maneira preferida, explorando os contra-ataques em alta velocidade.

Com muita troca de passes, a seleção conseguiu um feito impressionante. Dos 40 arremessos de quadra convertidos, 32 foram “assistidos” por um companheiro, isto é, 80%. Um colírio nos olhos para o basquete brasileiro, que leva a fama de ser individualista.

Aliás, o jogo coletivo é o maior valor agregado por Moncho Monsalve em seu trabalho frente à seleção brasileira. Na fase preparatória do ano passado, a seleção também já havia demonstrado essa característica. Infelizmente, contudo, contra as melhores defesas, a seleção não conseguiu manter a produção e os jogadores voltaram a apelar para o individualismo.

De qualquer maneira, esse selecionado é muito mais forte do que aquele que tentou a vaga olímpica em Atenas. Vai ser interessante vê-lo atuar com a “filosofia Monsalve” nos jogos para valer, principalmente contra Argentina e Porto Rico.

No outro jogo da noite, a seleção Argentina foi derrotada pela seleção australiana, após 2 prorrogações. Conversei com um amigo argentino ao longo da semana que me dizia da possibilidade de a seleção entrar com freio de mão puxado para esconder o jogo dos brasileiros antes da Copa América.

Sinceramente, não acredito que os argentinos tenham entregado a partida ontem. Até porque, a Austrália só sobreviveu no tempo regulamentar graças a uma arremesso milagroso de Joe Ingles no estouro do cronômetro. No entanto, parecia mesmo que os argentinos não faziam a menor questão de jogar para valer, tanto que Luis Scola jogou por apenas 21 minutos (dos 50 disponíveis).A diferença de talento entre os dois selecionados é gritante.

Por causa de um problema de saúde, não pude assistir às prorrogações. De qualquer forma, os argentinos vão ter que engolir o fato de terem perdido para uma seleção comandada por Nathan Jawai, apelidado de Obina pela irreverente torcida carioca após uma cravada sensacional (o Draft Brasil conseguiu captar!).

No fim das contas, acabou sendo uma noite especial para o basquete brasileiro, que pôde voltar a ver as suas principais estrelas e, de quebra, acabou ganhando uma boa moral para a Copa América.

Áudio na íntegra da entrevista coletiva com Marcelo Huertas e Moncho Monsalve:

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