Quando a irracionalidade predomina

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Publicado em: 11/07/2010

Teve fim nessa última quinta feira um dos momentos de maior insanidade já visto no mundo esportivo. O tão aguardado verão de 2010 teve seu maior mistério finalmente decidido, quando o trio James/Wade/Bosh optou por jogar numa mesma equipe. “The Decision”, como acabou sendo chamado o show particular proporcionado por LeBron James não é o objetivo desse artigo, tampouco a decisão propriamente dita, assunto que foi abordado com maestria por Guilherme Tadeu, aqui no Draft Brasil. O foco aqui será até que ponto um jogador pode influenciar tanto as equipes.

Durante toda a semana tive a oportunidade de cobrir a Free Agency 2010 no twitter do Draft Brasil e acompanhar os mais diversos comentários sobre as contratações e movimentações das equipes. Algumas frases chamaram a atenção, como a de um leitor que dizia algo como: pode uma idéia ser genial e ao mesmo tempo dar certo para várias equipes? A idéia em questão é promover uma limpeza total no elenco, abrindo cap suficiente para a contratação das grandes estrelas no mercado. Os atores principais são Miami Heat, New Jersey Nets e New York Knicks. O Cleveland Cavaliers também faz parte desse elenco, mas com motivos diferentes, que serão abordados mais a frente.

Ao fazer o anúncio de que testaria o mercado em 2010, LeBron James promoveu uma seqüencia de eventos em diversas equipes da liga. Várias equipes começaram a realizar movimentações aparentemente sem sentido, mas que tinham por objetivo final a possibilidade de oferecer um contrato a alguma das superestrelas disponíveis. Pouco importava o desequilíbrio na liga, pouco importava a possibilidade de movimentações que organizassem a equipe, deixando-a competitiva. Estava dado o pontapé ao que foi apelidado de “Projeto LeBron”.

As três equipes citadas anteriormente foram as mais radicais nesse “projeto”. Enquanto equipes como Chicago Bulls e Los Angeles Clippers apenas abriram o espaço suficiente para oferecer o contrato, o trio Heat/Knicks/Nets foi além. Eles abdicaram de praticamente todo o elenco para promover o rebuild em torno do superatleta que contratariam. O Heat por exemplo, tinha apenas 2 jogadores sob contrato, Mario Chalmers e Michel Beasley. A idéia principal era trazer LeBron, claro, mas caso não conseguissem, havia trocos pra lá de interessantes, como Bosh, Wade, Boozer, Stoudemire e Gay.

Então as negociações começaram. Logo de início Rudy Gay renovou com o Memphis, deixando as equipes com uma opção a menos. E em meio aos rumores mais variados, um em especial começou a crescer: e se esses superastros jogassem juntos? O primeiro rumor foi que Bosh e Wade jogariam juntos, uma vez que eram representados pelo mesmo agente. Vendo essa situação, o New York Knicks foi a primeira equipe a caminhar nessa direção de formar um trio. Contratou Amare Stoudemire na esperança de que a presença do pivô fosse vista com bons olhos por LeBron e Wade. E enquanto o Heat trabalhava na dupla Wade/Bosh, o Nets tentavam seduzir LeBron com os bilhões de dólares russos.

E o Cleveland Cavaliers? Não desmancharam a equipe, mas ao longo dos 7 anos em que o “rei” esteve na cidade fez todas as suas vontades. Fosse contratando os jogadores que James queria, fosse passando por cima de jogadores queridos e identificados com a torcida, como no episódio em que Ilgauskas foi trocado para retornar após um buyout do Washington Wizards. O veterano pivô ficou tão ressentido com episódio que mudou-se para Nova York e só considerou voltar ao Cleveland após vários telefonemas dos companheiros de equipe. Em suma, o Cleveland não só não impôs um limite às vontades de LeBron, como desprezou sua história para satisfazer essas vontades.

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O resultado, todos já sabem, mas e o que foi deixado para trás? Enquanto a equipe de Miami ri a toa com a sorte (sorte? Ou competência nas negociações?), os adversários terão que se reerguer com o que sobrou no mercado. O Knicks ainda conseguiu em Amare um jogador com status de franchise player. Mas terá que recompor todo um elenco. O único titular mantido é o bom Gallinari. Terá que se reerguer em torno de Stoudemire torcendo para que seu joelho e sua retina não voltem a dar problemas durante os 5 anos de contrato, enquanto o Nets tentará se reerguer em cima de.. ninguém. E o Cavs? O Cavs está lá com todo mundo que o LeBron pediu, menos o próprio.

Confesso que meu conhecimento histórico não me permite responder essa pergunta da forma que eu gostaria, mas quantas vezes o “projeto futuro” teve algum retorno na NBA? As equipes campeãs se formam do nada ou são frutos de um trabalho que envolve a manutenção de um elenco competitivo com a adição de outros bons jogadores? Talvez a história até tenha exemplos de casos assim. Caso existam, são uma parte insignificante.

Vale então agir de forma tão irracional? Vale as equipes se venderem e se humilharem tanto por um jogador? Vale manter 2, 3 anos de penúria na esperança por um projeto que não só não tem garantias, como também pode afundar a equipe ainda mais?

Alguns dirão que foi ousadia, outros dirão que elas apostaram alto sabendo os riscos. Eu discordo. Acho que foram burras. Foram burras ao tentar o caminho fácil que era recomeçar do zero e assinar com astros, ao invés de trabalhar pra fortalecer o que eles tinham em mãos. Foi burra no caso do Cavs ao não impor limites à “vontade real”. Obviamente, o Miami está aí para desmentir tudo aquilo que eu disse. Que vale a pena e tudo mais, mas não pensem no Heat como a regra.

Se você ainda tem dúvidas sobre valer a pena ou não, a frase, brilhante, de Henrique Lima resume bem: “O Nets foi dormir com LeBron e acordou com Travis Outlaw”. Enquanto uma equipe conseguiu assinar com os 3 jogadores mais talentosos do mercado, outras equipes ficaram desmanteladas.

Espero, mesmo sabendo que é utopia, que esse tenha sido o ápice da irracionalidade na NBA. Espero que ao olhar para as próximas movimentações, os GMs considerem tudo que aconteceu em 2010 e reflitam sobre até que ponto vale a pena arriscar o futuro da equipe. Espero que a partir desse ponto o equilíbrio predomine nas negociações e relações entre equipes e atletas. A Free Agency de 2010 tem tudo para ser um marco na história da liga, para isso bastará ser lembrada.

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