Quebra de paradigma?
Tentarei neste artigo destacar alguns pontos de um fato que, até então (muito por culpa do vexaminoso desdém da Globo com o Pan de Guadalajara), acabou passando despercebido por grande parte da mídia especializada em basquete no país. Trata-se da mudança na escolha dos jogadores da seleção dos EUA para competições de menor monta. É senso comum que para esses jogos a seleção estadunidense era majoritariamente composta por jogadores que atuavam no basquete universitário. Entretanto, nesse Pan a base da seleção estadunidense é composta por jogadores que atuam na D-League (a liga de desenvolvimento da NBA), inclusive o treinador, Nate Tibbetts. Nas linhas a seguir, tentarei apontar algumas questões pertinentes ao assunto.
Primeiramente, devemos ressaltar que a última medalha de ouro conquistada pelos EUA na maior competição esportiva das Américas data o ano de 1983. O craque do time? Um tal de Michael Jordan, acompanhando por nomes como Mark Price, Chris Mullin e Sam Perkins. Também é válido observar que, nos 9 jogos pan-americanos disputados entre 1951 a 1983, os EUA só não se sagraram campeões em 1971, perdendo a final para o Brasil de Hélio Rubens, Marquinhos Abdalla, Menon, Mosquito e cia.
De lá pra cá, a fórmula seguiu sempre a mesma: levar para a seleção apenas jogadores que atuam no basquete universitário. Porém, a gradual evolução do basquete europeu e consequentemente o latino-americano acabou forçando o país a repensar essa já defasada estratégia. E deve-se ressaltar que os últimos elencos dos EUA para os jogos contavam com nomes interessantes no cenário universitário, sendo que alguns desses figuram hoje com certa relevância em times da NBA, como o caso de Roy Hibbert, Emeka Okafor, Ben Gordon, Josh Childress e Eric Maynor. Além disso, soma-se o fato de que muitos desses jogadores possuíam pouca ou nenhuma bagagem internacional, que atrelado a falta de experiência de jogo acabaram contribuindo para a perda da hegemonia estadunidense na competição. Para ilustrar essa questão, dos nomes citados, o britânico/americano Ben Gordon teve a singela média de 5,6 pontos por jogo, bem aquém dos posteriores 21,4 ppg que veio a ter na NBA e lhe garantiram o prêmio de melhor reserva da temporada 06-07.
Em contrapartida, é notável o sucesso da D-League, que tem ano após ano mais jogadores recrutados para completar times da NBA (como os casos de Marcin Gortat, Ramon Sessions, Kellena Azubuike, Reggie Williams, entre outros), além de inúmeros outros jovens jogadores enviados as equipes filiadas para desenvolverem seus jogos sem a pressão de atuar em um time da NBA. Há também jogadores que sairam da D-League para atuar no basquete europeu, como o caso do pivô Richard Hendrix. Embora seja um torneio secundário, grande parte dos jogadores completaram o circuito universitário, além de alguns deles já possuírem certa bagagem internacional, mesmo que atuando em competições menores na Europa.
Dito isso, é interessante observar a quebra de paradigma na escolha dos jogadores para a competição inciada na última sexta-feira (14). Com nomes desconhecidos no cenário internacional, a seleção dos EUA aposta em jogadores como Anthony Mason Jr. (foto), filho do ex-jogador do Miami Anthony Mason, Jerome Dyson, Gregory Stiemsma, entre outros, para quebrar esse tabu que já dura 28 anos. Além disso, é a oportunidade de um maior reconhecimento e visibilidade internacional a esses jogadores, que estão, após a saída do basquete universitário, a procura de um lugar ao sol. Se vai dar certo ou não? Ainda é cedo para saber. Mas não podemos negar que trata-se de uma aposta ousada.