Questão de currículo

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Publicado em: 11/11/2012

“Uma final com o Pinheiros no Ibirapuera seria um fiasco sem tamanho. O ginásio certamente estaria as moscas (considerando a capacidade dele)… O Pinheiros tem até melhorado em relação a público nos últimos anos, graças aos bons resultados, mas nunca terá uma torcida grande. É um clube elitista demais, não tem a menor identificação com a população, com a massa… E nunca terá”

O trecho acima é parte de um comentário de um leitor no blog ‘Bala na Cesta’. No post em questão (leia aqui) Fabio Balassiano, entre outras coisas, pergunta se já não é hora do Pinheiros, que havia se classificado pela terceira vez seguida para a final do campeonato paulista, começar a expandir suas fronteiras.

Infelizmente este comentário pode fazer sentido. É provável que a torcida do Pinheiros não consiga ocupar metade do Ibirapuera, mas se olharmos para um passado não tão distante, veremos que esta situação pode ser revertida.

Sempre que se fala sobre Ibirapuera lotado, automaticamente as lembranças remetem as finais do campeonato paulista até meados da década de 80 e juntamente com as mesmas, os nomes de dois clubes que já foram patrimônios do basquete brasileiro: Sírio e Monte Líbano.

Dois clubes da colônia árabe paulistana, extremamente fechados (o Monte Líbano só permite acesso à sua página na internet para quem é sócio), além de uma rivalidade intensa entre eles (clique aqui e veja reportagem de uma Placar de 1981), costumavam sempre lotar o Ibirapuera. Os principais motivos? Vamos a eles.

O campeonato paulista era sem dúvida o melhor realizado no Brasil. A Taça Brasil, equivalente ao campeonato brasileiro da época, era disputada de forma idêntica a atual Liga Sul Americana, com quadrangulares e mais quadrangulares. Então era natural considerar o campeão paulista como a melhor equipe do território nacional. Hoje, apesar da enorme tradição, seguindo uma tendência que se acentua ano após ano e já se espalha por todos os esportes, o campeonato estadual vai perdendo sua força.

De 1982 até 1986, Sírio e Monte Líbano estiveram em todas as etapas finais do campeonato paulista, que tiveram um formato variável no decorrer dos anos: hexagonal (1982), heptagonal (1983), quadrangular (1984) e pentagonal (1985 e 1986). Além da concentração de jogos entre as melhores equipes e da presença dos melhores jogadores do país (tirando Oscar e eventualmente, Israel e Marcel, que tinham suas aventuras na Itália), o fato da etapa decisiva ser sempre disputada nos meses de janeiro/fevereiro, facilitava muito a inclusão do basquete como uma opção de entretenimento para o público. Atualmente nossos melhores jogadores estão fora do país, existe um preconceito terrível contra quem joga aqui (e não dá para dizer que seja totalmente injusto) e até em termos de calendário não deverá demorar muito para que o campeonato paulista seja considerado um empecilho.

O currículo dos dois extintos clubes também impressionava e era um chamativo para quem gostava de basquete na capital bandeirante: nesta época o Sírio já tinha sete títulos paulistas, seis Taças Brasil, oito títulos sul-americanos e um título mundial. O Monte Líbano, já acumulava três títulos paulistas, outras cinco Taças Brasil e outros dois sul-americanos. O atual campeão paulista, o Pinheiros ainda precisa engordar seu currículo, apesar de números recentes bem positivos: chega pela terceira vez seguida a uma decisão do estadual, recorde para uma equipe da capital (anteriormente Monte Líbano em 1987, Sírio em1988, Paulistano em 2005 e 2009), desde que o sistema de playoffs foi adotado em 1987, duas semifinais do NBB, e vice-campeonatos da liga sul-americana e do interligas. Porém, o clube do jardim Europa ainda é novato quando o assunto é competir entre os primeiros. Até 2006 o clube conviveu com a condição de formador e fornecedor de mão de obra – No campeonato brasileiro de 2002, por exemplo, o COC tirou do Pinheiros e levou de uma só vez para Ribeirão Preto Guilherme Giovanonni, Lucas Costa e Marcio Cipriano – portanto, ganhar o NBB seria um degrau importantíssimo para recolocar o basquete como uma boa opção de entretenimento na agenda do paulistano.

Por fim, e esta vale para todos. Inserir novamente os clubes brasileiros no mapa mundial do basquete. Era comum Sírio e Monte Líbano (Corinthians e Franca também tinham grande contribuição) participarem de amistosos na Europa contra os gigantes do continente (se quiser ver Dražen Petrović em ação contra o Monte Líbano, clique aqui) quando não os enfrentavam por aqui mesmo (lembro-me de um Monte Líbano x Barcelona no Ibirapuera, porém não achei nenhum registro do jogo). Qual foi a última vez que um clube brasileiro cruzou os limites da América Latina? O que me vem à memória é o Vasco, no antigo McDonald´s Open em 1999.

A relação clube/ginásio no Brasil é complicada desde longa data. Os próprios, Sírio e Monte Líbano só iam para o Ibirapuera na hora do filé mignon. Atualmente, para o Brasília, nem o fato de ser o atual tricampeão brasileiro e ser de uma cidade onde o futebol não oferece concorrência alguma, ainda não o encorajaram de estabelecer o Nilson Nelson como casa oficial. O Flamengo há algum tempo desistiu da moderna Arena da Barra e se acomodou no acanhado Tijuca.

Hoje, imaginar que ginásios como Ibirapuera, Arena da Barra, Mineirinho e até o belíssimo e abandonado ginásio de Barueri sejam os palcos do basquete brasileiro durante toda a temporada é totalmente utópico, para não dizer insano. Será que veremos isso algum dia?

Nota do Autor:

Gostaria de agradecer ao Danilo Castro, comentarista do BandSports pela troca de idéias que ajudaram a desenvolver este texto, ao Fabio Balassiano por permitir que um comentário do seu blog fosse citado e ao Sandro (o leitor, a quem me referi no início do texto), por colocar o dedo na ferida.

Bingo!

Juan Carlos Navarro. Pode não estar em suas melhores condições físicas, pode ser considerado baixinho (1,91m) para um ala, mas como joga! Sua atuação contra o CSKA em Moscou (vitória do Barça por incontestáveis 81 x 60) foi primorosa. Faz jogar basquete parecer fácil.

Amassando o Aro!

O caso do panamenho Pinock(io), demissão de Mike Brown, lambanças da Abasu e as 1001 trocas de horário do jogo Bauru x São José. Podem escolher!

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