Reportagem de O Globo sobre as eleições da CBB em 2005

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Publicado em: 6/02/2009

Confira na íntegra a reportagem publicada, em pelo Jornal O Globo, assinada por Cláudio Nogueira e que conta tudo sobre os bastidores das últimas eleições para presidente da CBB:

TRIUNFO DE GREGO RACHA BASQUETE

Rio, 03 de maio de 2005

http://oglobo.globo.com/jornal/esportes/

Claudio Nogueira

Em eleição aberta, na qual os presidentes das 27 federações estaduais tiveram de anunciar em voz alta em quem votavam, Gerasime Bozikis, o Grego, foi empossado ontem para o terceiro mandato como presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). O dirigente teve 18 votos contra nove dados a Hélio Barbosa, ex-presidente do Grajaú Country, e zero ao técnico José Medalha, que voltou atrás e não retirou a sua candidatura.

A reeleição de Grego deflagrou uma crise. O ex-jogador Oscar Schmidt, presidente da Nossa Liga, declarou ontem que fará um Campeonato Nacional à revelia da CBB, com 42 clubes (incluindo Fluminense, Flamengo, Telemar/Rio, Macaé, América e, talvez, Botafogo).

— Não acredito minimamente que ele aceite a Nossa Liga. A CBB só tenta sabotar a Nossa Liga e já bateu a porta na minha cara duas vezes.A liga começou mesmo sem ele, que não quis falar conosco. Se nós fizermos o nosso campeonato, e eles o deles, paciência. Não é o ideal, mas com dois campeonatos, haverá mais times jogando — declarou Oscar, anunciando que, quinta-feira, haverá reunião, em São Paulo.

Cartola minimiza fracasso da seleção

Dos 16 clubes que disputam o Nacional, apenas o Ribeirão Preto (SP) não se filiou à liga de Oscar. No entanto, equipes não têm direito a voto na eleição da CBB.

Grego sabe que, além do problema da liga, pesam sobre sua administração os fracassos do basquete em âmbito internacional. A seleção masculina deixou de se classificar para as Olimpíadas de 2000 e de 2004, e a feminina não ganhou medalha em Atenas-2004.

Outra polêmica é a afirmação do pivô Nenê, do Denver Nuggets, de que não jogará na seleção enquanto Grego for presidente. O dirigente só falará sobre isso esta tarde:

— Temos dois grandes desafios: manter e melhorar o Basquete Brasil (estrutura interna) e buscar vitórias. Temos este ano os Pré-Mundiais Masculino e Feminino e, ano que vem, os Mundiais masculino, no Japão, e feminino, no Brasil. O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) já me intimou a lutar pelos ouros masculino e feminino, no Pan-2007.

Embora a Argentina domine a América do Sul (é vice mundial e campeã olímpica), Grego disse que o Brasil tem cinco atletas na NBA (a liga americana profissional), quatro na Europa e oito ou nove no Brasil em condições de serem convocados para a seleção.

Segundo o dirigente, levar a seleção masculina de volta às Olimpíadas é o desejo de 175 milhões de brasileiros. Mas tentou minimizar os fracassos do masculino, alegando que dos 212 países-membros da Federação Internacional de Basquete (Fiba), só 12 vão aos Jogos.

Grego pelo menos respondeu sobre as viagens em que presidentes de federações chefiam delegações.


— Se for assim, serei reeleito por 30 anos. Todos os presidentes já viajaram três ou quatro vezes (chefiando delegações). Isso é um ensinamento. Eu, antes de ser da CBB, já havia viajado, e viajar é um abacaxi, é um presente de grego, com muito problema — afirmou, acrescentando que também dirigentes de oposição já chefiaram delegações.


Com nove votos (um terço das 27 entidades estaduais), Hélio Barbosa disse ter sido traído pelos presidentes do Acre, Gilsomar Lopes da Silva, e do Amazonas, Mauro Pinto Chaves, que teriam prometido votos, mas apoiaram Grego. Barbosa atacou o presidente da Federação Paulista, Antônio Chakmati, que lhe prometera que, se tivesse 11 votos, passaria para a oposição. Mas o paulista votou na situação.

— Vamos buscar a mudança no basquete, esporte que é o segundo do mundo e já foi o segundo no Brasil. O que houve foi um voto aberto dirigido — afirmou Barbosa.

Chakmati desmentiu Barbosa.

— Foi uma brincadeira. Disse a ele: ‘Você não tem 11 votos, Hélio. Se conseguir 11, apóio você. Este placar, de 18 a nove, eu havia dito ao Grego há um mês. Não votaria contra ele — declarou, surpreendendo por brincar com assunto sério.

Como a eleição foi anterior à aprovação de contas, a pedido de 17 federações, Hélio Barbosa considerou o pleito irregular:

— É inelegível um presidente que não tem contas aprovadas. Foi pedido tempo para as federações analisarem as contas, o que não foi aceito. Isto fere o estatuto e a Lei Pelé. A CBB nunca foi transparente.

A favor da liga, rejeitada por Grego, Barbosa considera trágica uma cisão, com dois campeonatos:

— Gostaria que Grego chamasse a liga para conversar. Eu nem quero pensar em cisão.

Na assembléia, a polêmica se deu logo de início, quando foi invertida a ordem dos trabalhos. O advogado Juarez Marsson, representando Alagoas, pôs em dúvida o parecer dos membros do Conselho Fiscal (Roberto Stuart Beck, José Lázaro Balassiano e Luiz Jáder Xavier Martins) sobre as contas, porque Beck já chefiou delegação no exterior.

— Peço ao senhor presidente da assembléia (o advogado carioca João Carlos Gomes Ferreira, representante da Bahia) que convoque o presidente (Grego) a prestar esclarecimentos — pediu Marsson.

— Gerasime Nicolas Bozikis! Diga meu nome! O senhor repita meu nome: Gerasime Nicolas Bozikis! — exaltou-se Grego.

A proposta de Marsson foi rejeitada. O representante da Federação Gaúcha, Renato de Sousa Cardoso, contra-argumentou que Marsson deveria denunciar claramente quem estava sob suspeita e por quais motivos.

O presidente paranaense, Amarildo Rosa, falou pela oposição:

— O que nos interessa não é eleição. É o basquete. Vamos buscar nossos direitos. Nisso, há dinheiro público (da Lei Piva, que destina 2% das loterias ao COB, que passa as verbas às confederações)“.

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