Sexta-feira: Os deuses do basquete recompensam Franca
Dando continuidade à série de textos sobre o Final de Semana das Estrelas, escreveremos sobre a sexta-feira, dia dos “Desafios NBB” e também da “Partida entre Veteranos”.
Textos anteriores:
Quinta-feira: Sim, Franca respira basquete.
Sexta-feira: Os deuses do basquete recompensam Franca
Num final de semana iniciado numa quinta-feira, a sexta-feira amanheceu com uma tremanda cara de sábado. E foi neste espírito que alguns jornalistas e os animadores de quadra do Jogo das Estrelas se reuniram para um basquetinho na quadra do hotel.
O passo seguinte foi entrar, meio como penetra, no workshop promovido pela LNB com Ned Dishman, na Unifran. Ned vem a ser o fotógrafo oficial do Washington Wizards (NBA), Washington Mystics, Washington Redskins (NFL), e foi à Franca transmitir a sua experiência aos clicadores brasileiros.
Não pude assistir à palestra inteira, mas o tempo em que permaneci foi suficiente para me deixar impressionado com o grau de profissionalismo, detalhismo e de tecnologia da fotografia esportiva norte-americana. Para capturar as melhores imagens, por exemplo, Ned sabe minúcias do movimento de bandeja do John Wall e da mecânica de gancho dos pivôs do Wizards.
Seus cliques preferencialmente enquadram as placas publicitárias que, na NBA são estrategicamente posicionadas no alto do ginásio (ao contrário daqui), capturando o voo dos atletas de baixo para cima. Por fim, Ned conta com máquinas que chegam a custar 20 mil dólares, mas que, segundo ele, valem cada centavo do investimento. Isso para não falar dos “robôs” que ficam posicionados atrás das tabelas e dos “strobers” que disparam poderosos flashes do alto dos ginásios.
Precisei sair no meio do workshop para participar da entrevista coletiva do Final de Semana das Estrelas que ocorreria no hotel, às 15h30m. Entrevistas coletivas costumam ser chatíssimas, ainda mais num evento festivo como este.
Contudo, todos os jornalistas foram surpreendidos com a quebra de protocolo promovido pela própria LNB. Na mesa inicial, ao invés das “estrelas”, estavam presentes dirigentes. O discurso do presidente da LNB, Kouros Monadjemi, foi todo sobre a criação (de novo!!!) da Associação de Atletas de Basquete, da Associação de Técnicos e da Associação de Árbitros. Aproveitei a deixa para questionar Kouros e Ratto (presidente da Associação de Atletas) sobre o calendário, arrancando dos dois o reconhecimento do estado crítico e a promessa de que ocorrido nesta temporada não se repetirá no futuro.
A maior e mais desagradável surpresa da coletiva, contudo, ainda estava por vir. De supetão, a LNB resolveu anunciar que os clubes resolveram mudar o formato da competição para a 4a temporada do NBB, adotando um sistema de disputa confuso que culmina na temida “final em jogo único”. O clima ficou tenso, já que na coletiva havia mais integrantes da imprensa especializada do que da grande mídia. É um tema que será aprofundado pelo Draft Brasil mais adiante, em espaço próprio.
E, finalmente, começou o Final de Semana das Estrelas propriamente dito, no Pedrocão.
A LNB acertou em cheio com a mudança dos formatos dos “Desafios do NBB”. Com a limitação de participantes, as competições se tornaram muito mais atraentes para os espectadores.
Outro acerto foi a inclusão do Torneio de Habilidades. E quis o destino, ou os Deuses do Basquete, que esta competição se tornasse um dos pontos altos do final de semana.
Afinal, o duelo final colocou de um lado Fernando Penna, um ídolo local, nascido em Franca e que nesta temporada finalmente voltou a atuar na cidade, e de outro lado aquele que a cidade há quase 10 anos elegeu como seu “inimigo número 1”, Nezinho.
A energia do Pedrocão naqueles poucos minutos foi algo indescritível. O animador do evento tentava pedir que a torcida francana desse uma trégua a Nezinho, mas a única coisa que conseguiu foi ganhar sua própria vaia.
Contudo, para explosão do ginásio, Fernando Penna foi o campeão. Mais tarde, na zona mista, tive o privilégio de ser o primeiro a entrevistar o armador francano e ouvir esta bem humorada declaração: “eu sabia que se perdesse essa final, a coisa ficaria complicada para mim na cidade”. E esta não seria a única alegria que Fernando Penna daria aos conterrâneos naquela noite.
Em seguida, veio o Torneio de 3 pontos, e mais um francano se classificou para a final: Vitor Benite, herói da vitória sobre o Flamengo na noite anterior. O problema é que do outro lado estava Fernando Fischer, campeão do torneio na primeira edição do Final de Semana das Estrelas e líder de aproveitamento do NBB, com absurdos 57%. Não deu para Benite, mas foi legal ver a torcida francana começar a aplaudir Fischer ainda durante seus arremessos, quando o título do bauruense já estava confirmado.
Logo adiante, o Torneio de Enterradas, evento que é sempre o mais aguardado num festival como este. A expectativa da torcida sobre o participante local, Lucas Mariano, era contida. Afinal, o que esperar de um garoto de apenas 18 anos, diante de tanta pressão?
De fato, com uma nota baixa na primeira tentativa, parecia que esta seria a única ausência de Franca nas finais. Foi aí que apareceu novamente Fernando Penna. Do alto das arquibancadas, o armador disparou um passe que de tão alto por pouco não esbarrou no teto do Pedrocão. A bola quicou uma vez no chão e caprichosamente se transformou numa perfeita assistência para o voo do garoto Lucas. O ginásio veio abaixo e nem os jornalistas conseguiram se conter.
Nota máxima para a melhor enterrada da noite, que colocou Franca em mais uma final, mas que não foi suficiente para superar a impulsão e precisão do também jovem Jordan Burger. O garoto do Paulistano foi campeão com total justiça.
Na zona mista, Fernando Penna me confidenciou que de aproximadamente 50 tentativas no treino, apenas 3 foram bem sucedidas. Mais uma obra dos tais Deuses do Basquete…
Para fechar a noite, a reedição de uma das maiores rivalidades da história do nosso basquete: o confronto entre veteranos de Franca e do Sírio/Monte Líbano. Quem ficou até o final da noite no Pedrocão, pode se deliciar com o bom basquete que os veteranos ainda conseguem jogar e até com uma inesperada cravada do mitológico pivô José Vargas. E, com tudo conspirando a favor, é óbvio que os veteranos locais venceram o confronto.
Fotos: Luiz Pires/Divulgação – LNB.