Sorte de campeão: há 10 anos, Spurs ficavam com Manu Ginóbili na escolha 56 do Draft
Faz dez anos de um dia chave para Manu Ginóbili: quando foi escolhido pelo San Antonio no Draft. Agora se sabe que os Spurs tinham dúvidas entre dois argentinos. Como decidiram? Em uma moeda… Assim descartaram Victoriano e levaram o fraquinho desconhecido nos Estados Unidos.
Já haviam passado 56 dos 58 jogadores. Aquele 30 de junho de 1999, em Washington, ao San Antonio restava fazer sua seleção no penúltimo lugar. Chegava ao fim do draft, o sistema que a NBA usa para que as equipes assegurem direitos sobre um jogador, assim que o salão estava quase vazio e não se esperava um nome importante. Aí foi quando Rod Thorn, então vice da liga, fez o anúncio tratando de pronunciar o mais claro o possível: “No número 57 os Spurs escolhem Emmanuel Ginóbili do Reggio Calabria da Itália”.
Sim, Emmanuel e não Emanuel, como se vê no vídeo. Fotos? Nenhuma. Dados? Poucos. Vários meios de comunicação no dia seguinte lhe davam como italiano em vez de argentino. Agora, passados dez anos, a seleção de Manu Ginóbili se define como um dos grandes “steals” da história do draft. Um jogador que ninguém conhecia nesse momento e logo se transformaria em uma grande figura. Hoje também se sabe que os Spurs duvidaram até minutos antes de escolhê-lo. Outro argentino, Lucas Victoriano, eles gostavam igualmente que o bahiense. Como definiram? Tirando uma moeda.
R.C. Buford, chefão de San Antonio, reconhece que “as vezes é melhor ter sorte que ser bom. Não imaginava que Manu ia chegar tão longe. Mas saber pouco de um jogador significa que há espaço para sonhar. Isso acontece frequentemente com estrangeiros”. Buford havia descoberto Ginóbili em 97, durante o Mundial Sub22 de Melbourne (Austrália), quando trabalhava na equipe como recrutador e buscava jóias de qualquer procedência. As figuras argentinas nesse torneio haviam sido Victoriano e Fabrício Oberto. Manu? Saiu dos suplentes e terminou como titular, mas chutando 0-8 da quadra na derrota para a Iugoslávia na decisão de terceiro lugar.
Victoriano, que na última temporada jogou para o Zaragoza, em 99 pertencia ao Real Madrid e aos 22 anos prometia mais que Ginóbili. Teve um contra: Gregg Popovich, o técnico dos Spurs, não estava convencido de deixar a condução a um armador estrangeiro. Buford lembra que em 2001 foi duríssimo convencê-lo para que escolhessem o francês Tony Parker no draft. Pop tampouco dava um dólar por Manu: “Nenhum dos jogadores que restava parecida fundamental para o êxito da equipe, mas o vimos como mais atlético que o resto e o pegamos em nossa segunda escolha. Nunca imaginamos semelhante desenvolvimento. Nem nos nossos sonhos”.
Ginóbili essa noite sonhava, vai saber com o que, quando supervisor da seleção o foi acordar a pedido do Olé para lhe contar a notícia. Estava em Macapá, uma cidade brasileira perto do Amazonas, esperando para jogar um amistoso. Muito longe da NBA. “Não quero criar em mim falsas expectativas para não me desiludir depois. Não tenho em conta, seriamente” contava um dia antes do draft. Com o com computador havia entrado em todas as listas de candidatos e não se encontrado em nenhuma. Inclusive seu agente havia lhe dito que o mais interessado era Boston (que tinha a escolha número 55). “Não pude crer, estou no céu. Agora ninguém me tira a NBA da cabeça” mentalizava no dia seguinte.
Manu acabava de jogar sua primeira temporada no Reggio Calabria, debutando na B da Itália e brilhando no acesso à série A (17.9 pontos de média). San Antonio havia monitorado seu crescimento através de Julio Lamas, treinador da seleção, a quem Buford mandou cartas com perguntas concretas. Fala inglês? Por que não é conhecido nos EUA se faz tantos pontos na Itália?
Também o haviam visto aproveitar seus minutos no Mundial da Grécia 98 contra rivais com mais experiência. Lamas o bancava em Macapá: “Vem se preparando para essa oportunidade. Tomara que seja o começo de uma grande história”. E os Spurs, com uma moeda, roubavam a maior.
A melhor escolha de segunda rodada
Fran Blinebury, um dos jornalistas de basquete mais prestigiados nos EUA, fez uma coluna no NBA.com para eleger os 10 jogadores draftados no segundo round que tiveram o maior impacto na história da liga. E em primeiro lugar colocou Manu Ginóbili…
Na coluna, deu seus motivos; “Os Spurs foram astutos em deixar que amadurecesse na Itália. Teve um impacto imediato na NBA com o título em seu ano de novato. Foi o “Ají Picante na salsa”, ouro olímpico com Argentina e três vezes campeão do San Antonio. Os Spurs não foram candidatos quando ele esteve mal fisicamente. Isso é uma prova do seu impacto”.
Blinebury deixou o aposentado Dennis Rodman em segundo lugar e o pontuador Gilbert Arenas em terceiro. Entre os outros sete também há nomes importantes: Jeff Hornacek, Carlos Boozer, Mark Price, Rashard Lewis, Jerome Kersey, Michael Redd e Cedric Ceballos.
Duncan: “Não o conheço”
Duas semanas depois do Draft, jogando no Pré-Mundial de Porto Rico com a seleção, Ginóbili teve sua primeira prova contra os estadunidenses da NBA. Em sua frente estava Tim Duncan, futuro companheiro nos Spurs e agora amigo de Manu, mas naquele momento nem sequer conhecia o bahiense. O pivô nascido nas Ilhas Virgens contava ao Olé com sua habitual cara de pôquer.
– Viu que um argentino foi eleito por sua equipe?
– Realmente não estava interado disso. É verdade?
– Sim, claro, é o número 5. Se chama Emanuel Ginóbili.
– Ninguém havia me dito até agora. Não o conheço.
– O que achou dele? Pode jogar ao seu lado em pouco tempo?
– Não sei. Da equipe argentina só me lembro do número 7 (Nocioni) pela espetacular enterrada que fez. Mas o garoto que me falou também teve ter condições, porque não é qualquer um que chama atenção de minha equipe e consegue um lugar no draft.
Andrés Pando, jornalista do Olé.
Esta matéria foi ao ontem no Olé, data exata dos 10 anos de escolha. Andrés Pando autorizou a sua tradução e publicação aqui no Draft Brasil. A reportagem original do Olé você pode ler clicando aqui. As fotos também são do jornal argentino, considerado o mais importante periódico esportivo do país.
Tradução de Guilherme Tadeu, editor do DB.