Spurs vs Suns, por Marlon Krüger
Finalmente, depois de dez longos anos após a partida de Michael Jordan, os fãs ardorosos da NBA acostumados com o jogo físico da década de 90 puderam ver um duelo no nível daqueles. É clara a referência ao jogo um da série entre San Antonio Spurs e Phoenix Suns, rivais dos últimos anos nos playoffs da Conferência Oeste. Daquelas partidas em que não interessa onde se joga ou qual o aproveitamento de quadra do principal jogador adversário, mas sim daquelas em que o time se desdobra e não há mais o que tirar de jogadores e técnicos. Não falo tecnicamente, até porque o jogo foi recheado de erros dos dois lados. Erros que o San Antonio costuma não cometer, aliás. E erros que o Phoenix Suns tenta cortar ao longo dos anos. Falo particularmente de uma entrega dos jogadores e comissão técnica, além do clássico jogo físico que predominava no final da década de 80 e na quase totalidade da década de 90.
Primeiramente há que se notar a claríssima evolução do Phoenix Suns, que aumentou sua força surpreendentemente com a chegada de Shaqquile O’Neal. Curiosas foram as críticas na época da troca, onde os contrários a troca diziam que Shawn Marion valia mais que O’Neal nesse momento. Inacreditável pensar assim após um jogo completamente inesquecível como esse. O’Neal deu ao Phoenix a presença física (não por acaso..) que libera Amare Stoudemire, um jogador absolutamente monstruoso em um dos lados da quadra, a atacar. Dá ainda uma presença intimidadora que preveniu cestas fáceis no garrafão até conseguir sua quinta falta. Ginobili e Parker, em temporadas passadas, faziam festa no pobre garrafão do Phoenix. Claramente debilitado fisicamente, mas e daí? Zach Randolph provavelmente não se jogou em bola alguma em 82 jogos da temporada regular. Mas O’Neal, para evitar uma cesta de Duncan e defendendo sabiamente com um footwork preciso jogou-se ao chão para tentar salvar uma posse. É essa a presença necessária. Brilhante troca de Steve Kerr.
O problema é: há outro desses gigantes em quadra, e vestindo a outra camisa. É Tim Duncan, jogando de forma absurda, como sempre, quando chega abril. Números não significam nada. Não foram contados quantos passes Duncan deu para fechar o lado do arremesso de Amare, ou quantas vezes as mãos foram levantadas para tirar a visão de Nash durante suas penetrações. Perfomance impecável, e isso enquanto na temporada regular o grande Tim Duncan que dava sinais de cansaço e decadência.
Arbitragem justa e sem grandes erros, há que se lembrar, principalmente aos fãs do Phoenix que geralmente carregam uma bronca enorme de árbitros. Poucos erros e para os dois lados. San Antonio cometeu mais turnovers do que geralmente comete. Com Popovich como treinador, coisa que deve ser reparada já para o próximo jogo. Ainda alguns erros simples, como o rebote ofensivo de O’Neal no segundo OT com uma enterrada. O fato é que o Phoenix Suns conseguiu, novamente, pela terceira vez, errar mais: o time esteve com o jogo nas mãos durante duas vezes e falhou. No final do período regulamentar, Finley empatou com uma bola de três enquanto Leandrinho poderia ter feito uma falta para a cobrança de dois lances livres. E, com o tempo sobrando, numa jogada bisonhamente executada, Barbosa perdeu a chance de decidir o jogo. Ao final do primeiro OT Suns também tinha uma liderança de três pontos e enquanto Ginobili penetrava (porque não fazer a falta, para dois lances livres?) Shaq e Bell deixaram Tim Duncan livre. De Tim Duncan não há o que se esperar. Bola de três – a primeira na temporada, a vigésima quinta na carreira com um aproveitamento de 19% – para empatar novamente e Amare Stoudemire fora com seis faltas. E para os que dizem que Tim Duncan é um jogador frio, o que dizer de sua comemoração? Após essa bola e após o jogo, num abraço com Ginobili?
A (suposta) defesa intimidadora de Raja Bell e – pasmem – Nash para cima de Ginobili e Parker sumiu. É claro que há ligação direta desse fato com as cinco faltas de O’Neal. Sem uma cobertura, Raja Bell e Nash não seguravam mais as penetrações, e Shaq, sem poder sair do jogo, pois era o jogador que mantinha – e vai manter, ao longo da série – a equipe no jogo. Steve Nash sempre foi um frustado defensivamente, mas Raja Bell é um grande defensor. Mas que, perante Manu, não funcionou. Manu fez seis pontos no segundo OT, todos passando por Bell. Apesar de ter feito uma boa defesa no primeiro e Ginobili ter conseguido os pontos graças a Shaq que não podia lhe fazer uma falta, na segunda e na terceira jogada defendeu de forma ridícula, dando o lado esquerdo – seu favorito – para o argentino e Ginobili finalizou sem grandes problemas.
Mas o Phoenix Suns ainda está vivo, vivíssimo na série. Com o melhor time desde que Nash chegou a cidade, talvez consigam eliminar o San Antonio. Manter Shaq fora do foul trouble. Esperar que Amare aprenda a jogar defensivamente e mesmo ofensivamente a fazer algo que não seja finalizar, a única coisa que faz muito bem. E muito bem mesmo, vale ressaltar. Erros não são permitidos. A mínima diferença faz jogar em casa ou fora de casa, apesar da proximidade da torcida e dos gritos tudo, o que se vê nos olhos dos jogadores é um olhar concentrado no adversário. Como se fosse um outro universo dentro das linhas da quadra. Saudades desses grandes jogos, verdadeiras batalhas? Acompanhe a série, e ela desaparecerá.
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Marlon Krüger (marlonks), escreve exclusivamente para o Draft Brasil na série San Antonio Spurs x Phoenix Suns
Foto1: Joe Murphy/NBAE/Getty Images
Foto2:D. Clarke Evans/NBAE/Getty Images