Sucessão Familiar
Este post vai para 2 categorias de pessoas que geralmente são oprimidas pela sociedade: os gordinhos, que querem praticar algum esporte e são esculhambados sem piedade, e para aqueles irmãos mais novos, que tem um irmão mais velho que é o tipo de pessoa que faz tudo milimetricamente certo, nunca erra e se torna referência de comparação para os pais (e como no caso a seguir, se torna exemplo para o país).
Pois bem, Marc Gasol foi um cara que encarou tudo isso. Gordinho quando jogava no High School americano e sempre a sombra do irmão bom de bola no restante da carreira. Aqui no Brasil já teve locutor se referindo a ele como “Gasolzinho”.
Em 2001, quando Pau se mudou para Memphis, foi acompanhado por toda sua família. Marc, ainda cursando o colegial, foi jogar basquete na Lousanne School, a qual defendeu por 3 anos. Lá, além de receber o apelido de “Big Burrito” (pela foto, pode-se deduzir que ele não era um dos mais leves) ajudou a equipe a chegar a um vice-campeonato estadual da 2ª divisão do estado do Tennessee. Suas médias foram impressionantes: 26 pontos, 13 rebotes e 6 tocos por jogo. Tudo isso e mais o fato de ser o primeiro e único atleta da escola a chegar a NBA lhe renderam um pequeno feito: em 2008 (ano de sua estreia na liga americana) sua camisa foi aposentada do time de Lousanne. Ironicamente, foi o primeiro Gasol a ter tal honraria (uma camisa retirada) em Memphis.
Após a formatura, Marc retornou a Espanha, para defender o Barcelona, clube que revelou o irmão. Em 3 temporadas no time catalão, a que ele mais jogou foi à última (2005/2006), mesmo assim com números modestos: média de 10 minutos e 3 pontos por jogo – é bom não esquecer que ele só tinha 20 anos.
Foi quando aquele famoso clichê “lugar certo na hora certa” resolveu dar as caras. Junto com outros 2 jovens (Eduardo Sonceca e Jordi Trias), Marc foi convidado a participar dos treinos da seleção espanhola que se preparava para o Mundial do Japão. Os 12 jogadores que iriam para a Ásia já estavam definidos, quando Fran Vasquez, pivô que já chegou a ser considerado o melhor fora da NBA (foi o mais votado naquela famosa eleição entre os donos de franquias da NBA) sofreu uma contusão. Como Marc já estava ali mesmo…
Primeira participação com a seleção, primeiro título. Além do peso gigante que o Mundial representou, houve a quebra de um tabu que incomodava a Espanha: foi a 1ª vez na história que a “Roja” voltava com uma medalha desta competição. Nunca havia conseguido mais que um 5º lugar.
A partir daí, a carreira começou a deslanchar, mas ainda ofuscada pelo brilho do irmão. Na liga ACB, logo após o triunfo com a seleção, Marc se transferiu para o Girona (equipe atualmente extinta) onde ganhou mais tempo de jogo e seus números começaram a subir. Em 2007, foi escolhido pelos Lakers na 2ª rodada (48ª posição) do Draft, mas continuou jogando na Espanha. Na temporada 2007/2008, um desempenho de 16,2 pontos, 8,3 rebotes e 1,8 tocos em 33 minutos por jogo lhe renderam o prêmio de jogador mais valioso da liga espanhola. Ainda em 2008, mas no início do ano, seu caminho e o do seu irmão voltariam a se cruzar. Seus direitos da NBA foram envolvidos na troca que levou Pau para Los Angeles e ele acabou repassado aos Grizzlies. Os fãs – claro – a princípio torceram o nariz, mas o futuro mostraria que a cidade de Memphis continuaria tendo um Gasol como ídolo.
Em sua temporada de novato, um desempenho bem sólido. Participou de todos os 82 jogos, sendo 75 como titular com médias de 11,6 pontos e 7,4 rebotes o que lhe valeu um lugar no 2º time dos calouros e com uma porcentagem de arremessos de quadra (% FG) maior que o de Pau em sua temporada de estreia: 53,0% contra 51,8%, que poderia até ser relevante, se o mano mais velho não tivesse sido escolhido o calouro do ano. Marc continuou evoluindo mental e fisicamente, mesmo longe das marcas do irmão. Quando pisou pela 1ª vez na quadra para disputar um jogo dos playoffs em 2010, Pau já tinha ganhado 2 anéis de campeão da NBA.
Nesta última temporada, surgiram indícios que o bastão começou a ser passado e que em breve o principal Gasol da NBA será outro. Pela 1ª vez, Marc teve uma média de pontos maior (14,3 contra 13,7), terminando a temporada em alta e sendo o 1º estrangeiro a ser reconhecido como o melhor defensor da liga. Pau, por sua vez, limitado a 49 jogos na temporada regular devido a lesões, mergulhou no inferno dos Lakers.
Na seleção espanhola, onde Marc sempre foi o Gasol coadjuvante, há grandes possibilidades de que a condição de estrela principal já comece a ser compartilhada, ainda mais se ele guiar a equipe ao tricampeonato do EuroBasket, competição que está sendo disputada na Eslovênia e na qual Marc chega com status de principal homem de garrafão, como diz o artigo do ex-jogador e pivô George Zidek, tcheco que jogou pelo Charlotte Hornets nos anos 90.
Na Espanha dizem que existe uma santíssima trindade do esporte, formada por Rafael Nadal, Fernando Alonzo e Pau Gasol. Marc ainda não tem o peso dos 3 e é provável que nunca tenha. Mas não resta dúvida de que o Gasol mais famoso já tem um ótimo sucessor.