Templos do esporte?
Flamengo x Boca Juniors, clássico do futebol transportado para a quadra de basquete. Sinônimo de grande presença de torcida.
O local? Ginásio do Tijuca Tênis Clube. Capacidade? O site oficial do clube fala em 5 mil pessoas, mas é difícil acreditar que caibam mais de 4 mil pessoas confortavelmente lá dentro. Estrutura? Zero. Em caso de incêndio ou de pancadaria, a tragédia é INEVITÁVEL.
O Ginásio foi construído para receber partidas de pequeno e médio porte, e ponto final.
Agora, você deve ser lembrar bem das promessas dos nossos governantes na época dos Jogos Panamericanos, segundo os quais o Rio de Janeiro entraria no circuito olímpico, com uma série de equipamentos a favor do esporte.
Pois bem, os Jogos Pan-Americano terminaram, e o melhor ginásio disponível para as semi-finais da “Libertadores do basquete” é…o surrado Ginásio do Tijuca Tênis Clube.
Arena Olímpica? Já é difícil reconhecer por esse nome. Virou uma casa de shows chamada HSBC Arena. Isso mesmo, cerca de R$ 120 milhões investidos, piso de última geração, telão “estilo NBA”, arquibancadas projetadas para o esporte. Tudo isso serviu para um punhado de jogos durante o Pan e, se perdurá, um final de semana por ano em favor do esporte (ex: Mundial de Judô). No mais, com o Pan, o Rio de Janeiro ganhou (mais) uma casa de shows.
E o Maracanãzinho? Esse ginásio tem ampla história esportiva, e ela está muito ligada ao basquete. O seu nome real, Ginásio Gilberto Cardoso, foi uma homenagem ao ex-presidente do Flamengo que ali faleceu ao ver a sua equipe ganhar um título com uma cesta no último segundo.
O ginásio ficou largado às moscas durante intermináveis anos e, para o Pan, foi reinaugurado com as mesmíssimas promessas de virar um templo do esporte. De concreto, apenas a realização de um “Disney on ice” e a previsão de um “Holiday on ice”, ou seja, tornou-se um ring de patinação.
Vejam, não tenho nada contra a realização de grandes eventos culturais nesses ginásios. Muito pelo contrário, sou daqueles que defendo a auto-sustentabilidade dos equipamentos esportivos, ao invés de deixar a gastança total nas mãos do Poder Público – ou seria em nossas mãos?.
Ora, o sistema sempre funcionou muito bem em outros países. Quer um bom exemplo? Visite o site oficial do Pepsi Center, ginásio do Denver Nuggets. Só no mês de abril, você encontrará no calendário: partidas do Denver Nuggets (basquete), partidas do Avalanche Colorados (hóquei sobre o gelo), partidas do Colorado Mammoth (lacrosse?!), partidas do torneio da NCAA (basquete universitário), uma exibição dos Harlem Globetrotters, um show do Kanye West e outro do Roger Walters. E mais, fora das temporadas das competições esportivas, o ginásio costuma receber grandes eventos, como o Cirque du Soleil e as Convenções do Partido Democrata.
Já no Brasil, o que era para ser Multiuso, virou Mono uso. E o pior, quem sambou nessa história foi o esporte. Ou melhor, na verdade, apenas o basquete, o vôlei, a ginástica, etc, pois o futebol foi contemplado (pela enésima vez) com a concessão (ou doação) do Engenhão para o Botafogo.
PS: A foto que ilustra a capa se refere ao show de Ozzy Osbourne, realizado no último dia 3 de abril na Arena Multiuso.
Nota: O leitor “The_Garden” lembrou-nos através do nosso fórum, que o Maracanãzinho foi utilizado para as finais do Campeonato Estadual de basquete e para uma partida de vôlei do Rexona. Ele tem toda razão, mas ainda assim, é pouco, não é?