Um olhar sobre a Seleção brasileira no Sul-Americano

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Publicado em: 23/06/2012

por Filipe Furtado

Analisar o desempenho de uma equipe como a seleção brasileira que disputou o Sul Americano não é uma tarefa simples. Trata-se afinal de uma equipe formada com uma dupla função que frequentemente seguem em conflito: classificar-nos para a Copa America do ano que vem e ao mesmo tempo dar rodagem internacional para um grupo de jovens jogadores. Não é uma tarefa das mais simples a que Gustavo De Conti recebeu e ela se tornou ainda mais complicada por conta de algumas dispensas tanto de veteranos como Murilo como de alguns jovens como a dupla do draft Scott Machado e Fabricio Melo. Dispensas que somadas a algumas decisões curiosas (enviar Raulzinho direto para o time olímpico, preterir alguns veteranos em boa fase que poderiam ajudar) nos deixou com um dos elencos mais peculiares, mesmo entre as seleções “B” que enviamos para competições deste porte.

Logo não seria justo exigir o título ou uma performance sempre consistente de uma equipe como esta, na qual Nezinho era o único veterano com experiência em competições mais fortes e com vários garotos estreando em seleção, alguns dos quais como Gui Deodato sequer eram cotados para o tal um ano atrás. No que cabe aos resultados basta dizer que a despeito de um susto maior do que o necessário na estreia contra o Paraguai (vitória por magros 67-63) numa típica estreia nervosa e afobada de nossa seleção, o objetivo de ficar entre os quatro primeiros colocados foi atingido e a derrota nas semifinais para o bom time da Venezuela não se revelou nenhuma grande surpresa apesar de um péssimo trabalho defensivo ter colaborado muito para o resultado. O quarto lugar pode soar decepcionante, mas os garotos foram bem competitivos enfrentando equipes bem mais experientes de Uruguai e Venezuela.

Isto dito, o desempenho do time confirmou questionamentos feitos quando da convocação. A forma reduzida com que De Conti frequentemente usou sua rotação diz muito sobre os problemas de elenco. Quem só olhar o box score pode não perceber, mas era visível seu desconforto em utilizar Marcus Toledo, que com vários anos na Europa deveria trazer certa estabilidade ao elenco, e muitos dos garotos, em especial Elinho e Gui, só eram aproveitados em situações especificas. Vale dizer que com Rafael Luz limitado por contusão, Elinho deveria ter espaço de sobra na armação, mas isto nunca aconteceu, 34 dos seus 38 minutos aconteceram contra o limitadíssimo time boliviano, que pouco acrescenta a sua experiência internacional.  Se a falta de confiança no jogador era tal, valeria mais a pena levar outro armador experiente como Fúlvio, e ter dado a ele experiência de grupo nos treinos da seleção principal.

A boa notícia para o Brasil foi o desempenho de dois jogadores jovens do qual muito se esperava, Vitor Benite e Augusto Cesar Lima. O ala-armador recém-contratado pelo Flamengo assumiu sem dramas sua posição de principal arma ofensiva da equipe (seus 17,2 pontos por jogo lhe valeram ser vice-cestinha do torneio e vale dizer seus pontos foram distribuídos de forma consistente entre as partidas sem nenhuma grande explosão que inflasse estes números). Benite sempre se mostrou disposto a aparecer nos momentos mais críticos com um sólido misto de arremessos de longa distancia (41% de aproveitamento nas bolas de 3) e infiltrações. Na partida mais dramática contra o Paraguai quando em meados do terceiro quarto, o time perdia por 6 pontos (resultado desastroso que poderia por em risco a vaga para a Copa America e por consequência a do mundial de 2014), Vitor Benite compareceu com força e marcou 13 pontos no quarto garantindo a virada brasileira e gordura o suficiente para administrar o placar. Foi um jogador muito mais confiante do que o discreto especialista em arremessos de Mar Del Plata ano passado, e mostrou menos afobação que os outros armadores do elenco, sendo inclusive de longe a opção ofensiva mais sólida no desastroso segundo tempo contra a Venezuela. Ele segue não criando tantas oportunidades para os companheiros quanto o ideal, mas exigiu o respeito e a atenção constantes das defesas adversárias.

Já Augusto Cesar Lima mostrou muito do que se espera dele. Seu potencial atlético e agilidade garantem uma presença impactante na defesa e um elemento diferenciado em relação a muitos dos nossos pivôs mais pesados (diria que somente Splitter e Varejão tem similar capacidade de cobertura apesar da juventude ainda lhe trazer algumas falhas ocasionais com maior frequência). Alem disso Augusto a despeito de alguns momentos de impaciência segue dono de uma habilidade ofensiva diferenciada. As boas medias de 11 pontos e 7 rebotes em pouco mais de 22 minutos por jogo reforçam estas qualidades. Vale dizer que por conta das ausências de Murilo e JP Batista, Augusto foi obrigado a jogar quase o tempo todo fora de posição como um pivô clássico e se adaptou a função sem grandes dramas. Entre os jogadores que disputaram o sul americano, me parece aquele que mais justificaria uma vaga no time que vai a Londres.

Entre os outros jovens, nos parece injusto tecer grandes comentários sobre Rafael Luz que limitado por uma contusão enfrentou somente Uruguai e Venezuela e exibiu uma timidez que deixava clara seu incomodo com suas condições físicas resultando em muitos erros. Elinho e Gui foram, como já mencionado, pouco aproveitados, o que nos deixa os pivôs Leonardo Waszkiewicz e Cristiano Felicio.  Leonardo não fez um bom torneio a despeito de alguns minutos competitivos no segundo quarto contra a Venezuela. Parecia por vezes muito nervoso e perdendo muitas bolas. O pivô do Uberlandia ocasionalmente incomodou os pivôs adversários, mas foi um não-fator ao longo da maioria do torneio. Já Felicio teve uma semana melhor a serviço da seleção. O Pantera cresceu ao longo do sul americano e se firmou como principal opção do garrafão vinda do banco. Felicio mostrou muitos dos atributos que quem o acompanhou no Minas ano passado pode perceber: uma grande explosão física e potencial defensivo alternados com momentos em que a sua inexperiência ficava visível. Mesmo cru converteu metade das suas cestas e se impôs nos rebotes sendo especialmente hábil para buscar importantes rebotes ofensivos. Que Gustavo De Conti ao longo do torneio reduziu os minutos do muito mais experiente Marcus Toledo em seu favor deixam claro que Cristiano fez uma competição muito boa para o jogador mais jovem e inexperiente do elenco.

No geral, o Sul Americano a despeito da perca do título e de algumas decisões questionáveis na formação do elenco sem dúvidas se mostrou um torneio bem mais útil para o trabalho de médio e longo prazo da comissão técnica do que o desastroso Pan Americano do ano passado e aponta para um uso mais consistente dos nossos times B.

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