UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA… por professor Paulo Murilo

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Publicado em: 23/07/2008

Quando ecoou o sinal estridente da sirene, anunciando o fim do sonho classificatório para a competição olímpica, o grego melhor que um presente mudou um discurso de onze anos, os mesmos em que se encontra no poder confederativo. A desclassificação pela terceira vez, obrigou-o a uma mudança estratégica de planos, visando seu continuísmo naquela entidade. Coincidentemente, a par da desclassificação, 20 clubes se reúnem na cidade sede da CBB, e fundam uma nova entidade, a Liga Nacional de Clubes (LNB), cujos objetivos são idênticos às outras duas ligas fundadas nos três últimos anos. Objetivo principal? A posse das chaves do cofre, ciosa e rigidamente guardadas pelo impoluto grego. Chaves estas que controlam verbas públicas, verbas lotéricas, contratos televisivos e publicitários. Chaves estas que conotavam ao mesmo, poder e tráfico de influências.

Porque somente agora o preclaro presidente aquiesceu das benditas e sagradas chaves, numa hora de comoção nacional pela perda olímpica, depois de bravatas classificatórias e importação de técnico, por que ? Perda de mandato, impossível, já que teve suas contas aprovadas pela assembléia da CBB, constituída pelos clubes que sempre o elegeram através delegação de voto dos presidentes de suas federações, clubes estes que o tem garantido permanentemente. Então, o que o levou a declarar que chancelaria a nova entidade, mesmo sabendo que perderia a exclusividade sobre a propriedade do chaveiro cobiçado?

Talvez, não, com certeza, a garantia de que sua reeleição ( já anunciado seu interesse pela mesma…), não sofreria restrições, por parte destes mesmos clubes, que a inviabilizassem, garantindo apriorísticamente seu “cargo de sacrifício”, assim como os de todos os acólitos que o acompanham na empreitada, como num trato de cavalheiros sobre um principio democrático que sempre serviu de moeda de troca, pelos políticos infiltrados no mundo atraente e popular do desporto nacional.

E porque estes 20 clubes aceitariam tal engodo? Bem, dificilmente, num prazo de alguns meses, seria praticamente impossível demover presidentes de federações envolvidos e beneficiários do butim confederativo, a abdicarem de suas cômodas e bem pagas posições, pelo apoio ao capi, quando protegidos por eleições regulares e democráticas em seus estados, eleito que foram pelos , pelos, ora que novidade, seus respectivos clubes!

Então, estabeleceu-se o impasse. De um lado um grego inamovível a curto prazo. De outro, federações que em sua maioria o garantiriam por mais uma eleição, mas, que de acordo com outras e mais rentáveis propostas , poderiam deixá-lo pendurado na broxa. E com o tempo se tornando cada vez mais escasso para uma retomada de posição visando o soerguimento da modalidade, e aproveitando a sua aparente fragilidade ante o fracasso da seleção, que nem mesmo o sucesso da equipe feminina fez estancar a revolta à sua administração, o plano B teria de ser deflagrado, evitando retaliações, mudanças de lado, pedidos judiciais de vista contábil, entre outras possíveis ingerências indesejáveis.

Aceitar e chancelar a nova liga, entregando, ou dividindo, ou mesmo se contentando com uma pequena parte, que é melhor do que nada, dos valores contidos no mágico cofre, tão disputado a tapa por tantos…clubes, e a recondução sem traumas para mais uma etapa de “sacrificada direção”, não seria um mau negócio, ainda mais quando tem bem guardada em algum compartimento da pelagem felpuda de raposa profissional, aqueles segredos de sobrevivência que o tem premiado com o reconhecimento de maior personalidade do basquetebol nos últimos anos, pois, apesar dos desmandos, fracassos e irretocável incompetência técnico-administrativa, é, sem dúvida alguma, o grande campeão da manipulação de egos, vaidades e dos votos daqueles que o elegeram , reelegeram e se locupletam com as benfeitorias negadas a quem de direito, o basquetebol brasileiro.

Que se cuidem os 20, pois alguns deles já foram defenestrados nas duas ligas anteriores, punidos a maioria pela aceitação do jogo confederativo, e nas traições inter pares, e que nem a aceitação de um novo “trato de cavalheiros”, os tornarão imunes à extrema sagacidade de uma matilha pseudamente encurralada, numa situação que dominam como ninguém, onde o amadorismo inexiste por princípio.

Temo pela iniciativa, que em curto prazo visa organizar um campeonato nacional produtivo, e alguma iniciativa voltada à formação de jovens, mas que se esquece de apoiar o basquete feminino, e que pouca influência terá sobre o controle técnico da modalidade. Seria mais incisiva e decisiva essa união, se fosse voltada, mesmo sem o controle econômico tão ambicionado, pela pressão organizada e bem planejada sobre os clubes e federações estaduais, a fim de que, no próximo mês de maio de 2009, nas eleições da CBB, elegessem desportistas de primeiro time, preparados e bem assessorados, imbuídos na missão de recolocação do basquete em seu devido lugar, sem correrem o risco real de se verem surpreendidos por ações de decisivas estratégias de sobrevivência, emanadas de um certo tipo de político esportivo, para o qual ética, ou mesmo antiética, são princípios de caráter substituídos pelo mais danoso e perigoso deles, o caráter aético.

E pensar que só bastam 14 votos federativos para que se mude algo tão desejado para o soerguimento do grande jogo entre nós…

Amém.

Paulo Murilo
O Prof. Paulo Murilo Alves Iracema é professor da UFRJ (aposentado), técnico atuante de basquetebol, doutor em Ciências do Desporto – FMH -Lisboa, licenciado em Ed.Física pela EEFD/UFRJ, bacharel em Jornalismo Audiovisual pela ECO/UFRJ e é responsável pelo blog parceiro do DB, Basquete Brasil e é nosso colaborador desde o ano passado.

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