Unicaja e CBB travam guerra por Rafael Luz
A notícia de que o pivô Paulão foi afastado da seleção brasileira pegou todo mundo de surpresa. O motivo divulgado pela CBB foi que o Unicaja, equipe que detém o “passe” de Paulão, havia solicitado o afastamento do mesmo, até que a sua situação contratual fosse resolvida.
Hoje, contudo, uma publicação do Diario Sur, da Espanha, mostra que o imbróglio existente entre o clube de Málaga e a Confederação Brasileira pode ser muito mais amplo.
Isso porque a CBB aparentemente resolveu vetar a transferência do jovem Rafael Luz para o Unicaja.
Rafael Luz, para quem não sabe, é um armador de apenas 17 anos, caçula de uma família que deu ao basquete brasileiro feminino 3 grandes jogadoras: Helen, Cíntia e Silvia.
Talentoso, Rafael despertou muito cedo a cobiça de empresários e de clubes da Espanha.
O problema é que, além de contar com Rafael, os espanhois querem também nacionalizá-lo.
É que nas principais ligas nacionais européias há regras para favorecer os atletas locais. Assim, um jogador considerado “selecionável” passa a valer ouro.
Como brasileiro, Rafael Luz teria que disputar uma das poucas vagas disponíveis em cada elenco para atletas internacionais. Como espanhol, no entanto, Rafael poderia circular livremente entre as equipes.
E não é só o Unicaja que tem interesse na naturalização de Rafael Luz. Aparentemente, a FEB vem tentando de todas as formas ganhar mais um armador selecionável para o futuro. Não que a Espanha precise de jogadores nesta posição, mas nunca é demais contar com mais uma opção…
A CBB, por sua vez, tenta dificultar a manobra e encontra respaldo numa norma da FIBA que proíbe a transferência de menores de 18 anos para fora do país de origem, salvo em casos excepcionais, chancelados pela federação local.
Esses casos exepcionais seriam aqueles em que o jogador viaja ao outro país “por outro motivo” e, já estando no exterior, acaba sendo contratado por um time. Na maior parte dos casos, trata-se de mero subterfúgio para fraudar a norma da FIBA. No futebol, por exemplo, são comuns os casos de pais de jogadores “contratados” por empresas mantidas por clubes, apenas para justificar a ida de um menino para o exterior.
Ainda segundo a reportagem do Diario Sur, o antigo presidente da CBB, Gerasime Bozikis (Grego), costumava facilitar essas transferências, o que não teria se repetido na gestão Carlinhos Nunes.
Seja como for, a CBB parece estar com a razão neste aspecto. Se a regra existe, é porque um garoto menor de idade ainda não é maduro suficientemente para tomar decisões que repercutirão para o resto da sua vida.
Neste caso específico, Rafael Luz não parece estar bem assessorado. Sem qualquer apego a razões patrióticas, naturalizar-se espanhol parece uma medida que trará benefícios a curto prazo, mas que pode não ser a decisão mais acertada a longo prazo.
Primeiramente, Rafael Luz tornaria-se completamente dependente do mercado espanhol. Lá evidentemente teria vantagens por ocupar um posto de “jogador selecionável”.
Contudo, a partir do momento em que o mercado espanhol não se interesse mais por Rafael, o armador teria problemas para se contratado até mesmo em seu país natal, eis que contaria como “jogador estrangeiro” para atuar no Brasil.
Aliás, ao tomar essa decisão, Rafael precisaria estar ciente de que não teria mais volta ou espaço para arrependimento. Se não for bom o suficiente para se tornar um jogador inquestionável na seleção da Espanha, sofrerá sempre o preconceito por ser um “estranho no ninho”.
Para o restante da Europa, não há qualquer diferença entre a naturalização e a simples obtenção da cidadania espanhola.
Fora isso, tornar-se espanhol poderia significar a abdicação em atuar por torneios de seleção. Afinal, a Espanha conta com um sem número de jovens armadores, liderados por Ricky Rubio, de apenas 18 anos.
No Brasil, por outro lado, Rafael Luz tem uma chance realmente grande de comandar uma posição carente por anos e mais anos.
E atuar pela seleção brasileira poderia valorizar o seu passe mais do que o status de “jogador selecionável europeu”.
Jogadores como Tiago Splitter e Marcelo Huertas sempre tiveram na seleção brasileira uma excelente vitrine e nunca precisaram trocar a nacionalidade para obter bons contratos na Europa.
Tiago Splitter, é bom lembrar, poderia ser multi-milinário hoje em dia, não tivesse assinado um longo contrato com apenas 16 anos de idade.
Espera-se que o jovem Rafael Luz tome a decisão mais acertada para a sua carreira e que não se torne apenas mais uma vítima de empresários e dirigentes insaciáveis.
Atualização – 16 horas:
Apesar da reportagem indicar que o flerte da FEB continua, a assessoria de imprensa da CBB informa que o atleta Rafael Luz participou do Torneio Sul-Americano Cadete 2006 e, por ser uma competição oficial FIBA, o jogador não poderia atuar mais por outra seleção, senão a brasileira.
Atualização – 22 horas
O leitor Peter Schiling nos traz a seguinte informação do site da FIBA:
“H.2.3.4 A player who has played in a main official competition of FIBA before reaching his seventeenth (17) birthday may play for a national team of another country if both national member federations agree; in the absence of an agreement the Secretary General decides“.
Ou seja, pela norma, o assunto ainda não está resolvido como pensa a CBB e o caso poderá acabar sendo arbitrado pelo Secretário Geral da FIBA, Patrick Baumann (suiço).