Usar o nacionalismo é fazer o jogo ideológico da CBB

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Publicado em: 18/06/2008

O nacionalismo, historicamente, serviu a todos os propósitos de dominação ideológica que a humanidade moderna teve em curso. À esquerda e à direita, todos os processos que, por algum motivo, se basearam nesta praga – que tenta dar identidade aos que nascem dentro de um pedaço circunscrito de terra – serviram muito mais à irracionalidade do que a uma interpretação objetiva dos fatos.

Olhar a deserção dos atletas brasileiros sob o viés patriótico é fazer o jogo da CBB. Muda-se o foco do culpado e joga, aos ombros de Leandro Barbosa e Anderson Varejão, a desculpa para a provável não classificação à terceira olimpíada consecutiva. Pura abstração ideológica.

Se o Brasil não for às Olimpíadas, é porque não tem um campeonato forte. É porque não tem uma divisão de base de alto nível. É porque não conseguiu um departamento que cuidasse das seleções com o mínimo profissionalismo, fato que, se realizado com qualquer competência, não permitiria que a vaga tivesse nas mãos da Argentina, conquistada com sua equipe reserva (cheia de desertores na ocasião, mas com comando, padrão e inteligência tática). É porque tem, na organização de seu jogo, a Confederação Brasileira de Basquete.

A seleção brasileira não é brasileira. A seleção é da CBB.

Quando descortina-se algumas meias-verdades, entendemos que o que está em jogo nada tem a ver com a pátria. A pátria brasileira, a nação, o espaço territorial delimitado, nem sabe quem é Grego. A pátria nem sabe quem foi Amaury e Wlamir, Oscar e Marcel, Janjão e Helinho, Leandrinho e Varejão. O que está em jogo é a Comunidade Basqueteira.

Essa comunidade é boicotada há anos. É ela que foi traída. Profundamente traída. Não por Leandrinho, Varejão, mas pela CBB, o órgão responsável pela organização e envio de times que representem essa Comunidade do Basquete no exterior. A decepção de que fala Alfredo Lauria, aqui no Draft Brasil, é dentro e fora de quadra, com o que poderia significar o potencial dessa geração e não significou. A não ida ao Pré-Olímpico representar a equipe da CBB nada tem a ver com amor à pátria ou à comunidade basqueteira. Não ir à Grécia disputar as Olimpíadas é, no máximo, escolher o próprio destino e pensar na carreira profissional em vez de fazer o jogo dos ratos. A maior culpa que tem os jogadores da NBA não é não ir: é não deixar claro que não vão porque esta seleção não é deles. É não deixar claro que esta seleção não é nossa.

É fácil exigir sacrifícios pessoais assim, baseados neste irracional patriotismo. É fácil pedir que Varejão peite quem lhe banque o milionário custo de vida. É fácil pedir para que Leandrinho negue o que aqueles que lhe trataram com profissionalismo exigem. Não é tão fácil olhar pra trás e lembrar o que aconteceu no caso Alessandra.

Moncho Monsalve, um sujeito que parece ser sério, bebe o tempo todo neste nacionalismo. Faz o jogo da CBB. Já sabe que se perder, terá os culpados na cruz e não ele. E se ganhar, será transformado em uma espécie de mártir: um Bolívar da bola laranja. Já bradou aos céus: “Leandrinho não joga mais comigo”. Caro Moncho: azar o seu, e nosso, que adoraríamos ver nossa Comunidade de Basquete representada em um campeonato olímpico.

É claro que há culpa nos desertores: a passividade. Nem quando forjaram um boicote, o fizeram com competência. Faltou força, faltou limpar esse nacionalismo boboca da cabeça e esquecer que não tem nada a ver com pátria em jogo. Guga até nisso foi superior a eles. Agora, criticá-los por não servirem à pátria?

Que pátria, amigos? Que nação?

Guilherme Tadeu de Paula
Editor do Draft Brasil

Foto: http://www.inf.ufrgs.br

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