Vamos com a notícia direta e reta: o jovem Bruno Caboclo, ala do Pinheiros que nem 19 aos completou ainda, manteve seu nome na lista de jogadores inscritos no Draft da NBA, assim como o pivô Lucas Mariano, do Franca e 21 anos. Os atletas estrangeiros tinham até esta segunda-feira para decidir se permaneciam no processo de recrutamento de novatos da liga norte-americana. Discretamente, os promissores atletas, por enquanto pouco mencionados pelos jornalistas especializados na cobertura do evento, seguiram essa linha.
Poderíamos escrever aqui que é uma surpresa. Quer dizer, não deixa de ser uma surpresa, especialmente no caso de Caboclo – poucos olheiros e dirigentes da NBA tinham contato com os brasileiros – especialmente Caboclo. Se Lucas Mariano se apresentou em Treviso por dois anos seguidos, Caboclo não deu as caras. A familiaridade que têm com seu jogo é, em geral, mínima. Mas a decisão de manter o nome na lista de candidatos vai de encontro rumor que o blog ouviu há mais de um mês. O de que ele já teria a promessa de uma franquia de que seria draftado. E de um time que disputou os playoffs da Conferência Leste. Fiquem de olho especificamente em
Indiana Pacers (#57) e Toronto Raptors (#59).
Veja bem: não li nenhum documento que comprove isso. Na verdade, as coisas nem funcionam assim. Mas ouvi de fontes diferentes da liga, no início de maio, a suspeita de que o o ala do Pinheiros já havia recebido a garantia de que seria escolhido na segunda rodada – sobre Mariano, não tenho informações a respeito. Na época, entrei em contato com o agente brasileiro de Bruno, Eduardo Resende, da EW Sports, que trabalha em parceria com a Octagon, gigante do marketing esportivo dos Estados Unidos. Resende me disse que o ala havia sido inscrito apenas para chamar a atenção dos clubes de lá. Ganhar exposição. De que não havia a menor intenção de mandar o atleta para os Estados Unidos para já. Que ele ficaria no mínimo mais um ano no Pinheiros, para ganhar cancha, rodagem e trabalhar fundamentos.
Acontece que, no caso de um jogador ser draftado, não há obrigação nenhuma que ele se apresente de imediato ao time que o escolher. Tiago Splitter e Serge Ibaka estão aí para comprovar isso, mesmo tendo sido selecionados na primeira rodada. Na segunda, então, os times tendem a agir com ainda mais liberdade – ou flexibilidade, que é o termo que usam. Podem apostar num menino ultratalentoso, pouco burilado, de olho no futuro. Em dois ou três anos, pode não dar em nada. Ou, quiçá, pode vir por aí um novo Manu Ginóbili ou Luis Scola, dois craques que não saíram nem mesmo entre os 50 primeiros de seus respectivos Drafts, e hoje são o que são. Nunca se sabe exatamente, mas pode-se projetar e apostar.
Então temos a seguinte questão: se havia chances reduzidíssimas – quase 0% era a impressão passada – de que ele continuaria no Draft, o que mudou desde então para que ele pudesse permanecer no Draft, desde que o companheiro aqui de UOL Esporte, Fabio Balassiano, divulgou sua inscrição? Ou será, mesmo, que mudou alguma coisa?
Uma coisa é certa: a partir do momento que o nome de “Bruno Correa Fernandes'' apareceu entre os inscritos no recrutamento, a NBA ficou ouriçada. Os clubes não gostam de se deparar com o desconhecido. Não por medo, mas simplesmente porque, num ambiente extremamente competitivo, com 30 clubes procurando qualquer vantagem possível sobre os concorrentes, a busca por informação é grande. Não saber = fraqueza, posição de desvantagem. Então quem diabos era esse menino Bruno Caboclo?
Pode parecer estranho, não? Afinal, no ano passado mesmo o ala do Pinheiros foi eleito o melhor jogador do “Baketball Without Borders'', camp oficial da liga realizado na Argentina. Foi um sinal de fumaça, e a partir daí alguns clubes começaram a sondar o Pinheiros e jogador – pelo menos cinco franquias o fizeram por meio dos canais oficiais durante a temporada. Mas não foi o suficiente para colocá-lo oficialmente no radar de dirigentes. Daí que os clubes inicialmente fora da alçada saem em busca de qualquer informação, qualquer novidade possível a respeito do jogador. Queriam vídeos, queriam saber sobre o comportamento do jogador e tudo o mais. No caso de um adolescente brasileiro, que nem bem jogou no campeonato principal de seu país? Estamos falando de termos como “obscuro'' e, ao mesmo tempo, “intrigante''.
O que os clubes estão vendo nas gravações de jogos a que têm acesso é um garoto ainda muito cru tecnicamente, mas com potencial absurdo. Destacam sua envergadura, altura, atributos físicos incomuns. “A história mostra que prospectos da segunda rodada não vingam. Então por que não apostar em um garoto assustadoramente atlético?'', pergunta retoricamente um scout.
Nesse processo, descobre-se que o agente responsável pelas negociações de Bruno em solo norte-americano é Alex Saratsis, o mesmo que representou o grego Giannis Antetkounmpo no Draft do ano passado e que já trabalhou com Jonathan Tavernari, do Pinheiros. Ao entrarem em contato com Saratsis, porém, os scouts tiveram uma ingrata surpresa. O agente não cooperou muito em termos de divulgação de informações de seu cliente. Só souberam que Bruno não faria treinos privados com os clubes no Estados Unidos. Bruno também não participaria do Nike Hoop Summit, em Portland (na época estava contundido), nem do adidas Euro Camp, no qual competiram Cristiano Felício, Lucas Mariano e Rafael Luz. (E aqui cabe um esclarecimento: por terem nascido em 1992, Felício e Luz participam do Draft automaticamente. Eles não entram, nem saem do Draft. Os times podem escolhê-los se bem entenderem. O caso de Mariano é outro: nascido em 1993, ele teria a opção de retirar o nome nesta segunda, sendo que 2015 seria o limite para ser recrutado.)
A pergunta que muitos clubes fizeram: se Bruno quer ganhar exposição, por que sumiria do mapa desta forma? Por que seguir treinando em dois períodos no Pinheiros, com os meninos de sua idade, mantendo a rotina, em vez de ao menos exibir seus talentos mais perto dos olheiros e aguçar de vez o interesse deles? Sniff, sniff, alguma coisa não batia nessa.
Ainda mais porque Saratsis havia apresentado uma conduta completamente diferente no ano passado com Antetokounmpo – hoje uma sensação do Milwaukee Bucks. “Giannis pelo menos convidou todos os times para irem vê-lo na Grécia e inclusive fez treinos para eles. Agora eles simplesmente evitam? Não falam nada nem sobre contrato etc.'', afirmou um scout ao VinteUm, pedindo obviamente para não ser identificado.
Foi nesse contexto que os rumores sobre a suposta promessa a Bruno ganharam força.
O outro cenário possível na estratégia da Octagon seria o seguinte: a recusa para passar informações sobre Bruno teria simplesmente o intuito de realmente criar o burburinho em torno de seu nome e aí, sim, colocá-lo na lista de alvos para o Draft de 2015, de modo a forçar que todo santo time da liga a viajasse ao Brasil para assisti-lo. A expectativa interna no Pinheiros, aliás, é (era?) a de dar não só a ele, mas também ao ala Lucas Dias e ao armador Humberto mais tempo de quadra, inseri-los para valer na rotação.
Seria um caminha realmente plausível. Os mesmos times da NBA que procuraram saber sobre Bruno, também buscaram informações sobre ligas para jovens aqui no Brasil. Calendário, o nível de competição. E se até mesmo haveria a chance de assisti-lo in loco ainda em maio. Com o Pinheiros eliminado e alguns jogos do Paulista sub-19 largados, ficava mais difícil. Ainda existe a especulação de que alguns clubes tenham vindo para São Paulo para vê-lo de perto mesmo assim, em treinos. Algo que não consegui confirmar.
São conjecturas, temos de admitir. Mas o simples fato de Bruno seguir inscrito dá outra cara para esse relato. Das duas, uma: ou os agentes do garoto se sentem realmente confortáveis de que ele será escolhido por um time, ou estão fazendo uma aposta imensa. Até porque esse Draft promete ter uma presença maciça de estrangeiros. Uma breve consulta ao DraftExpress mostra isso: em sua confiável projeção, constam nesta segunda 13 atletas de fora dos Estados Unidos (sem contar canadenses e outros que venham da NCAA ou NBDL). Desses 13, nove sairiam na segunda rodada, justamente a área de projeção para Caboclo.
Qual poderia ser o time interessado no ala do Pinheiros? A expectativa entre as franquias é de que Bruno seja escolhido realmente entre as posições 50 e 60. Podem anotar: Indiana Pacers e Toronto Raptors são candidatos seríssimos.
Outro candidato natural seria o Philadelphia 76ers – mas não por qualquer informação que eu tenha recebido, neste caso, e, sim, por uma questão de lógica. O clube simplesmente tem CINCO escolhas de segunda rodada no recrutamento deste ano – sem contar mais duas no top 10 –, depois de tantas trocas que fez nos últimos anos. Em processo de renovação, a equipe pode juntar todos esses picks para pegar algo mais acima. Ou simplesmente poderia sair escolhendo a torto e a direito jogadores internacionais, sem compromisso ou necessidade de aproveitá-los a curto prazo. O San Antonio Spurs, bastante famoso por seus projetos no exterior, também tem duas escolhas no final da segunda rodada. Com um elenco formado e pouco espaço para apostar em projetos, poderiam muito bem investir seguir essa linha, tal como aconteceu com o ala-armador francês Nando de Colo, o ala letão Davis Bertans, entre outros.
E outra: os picks hoje têm dono, mas durante uma noite de NBA, o que não faltam são transações. Lucas Bebê e Raulzinho, por exemplo, foram draftados no ano passado, usaram o boné de Boston Celtics e Atlanta Hawks e foram dormir como apostas de Hawks e Utah Jazz, respectivamente. É uma área movediça pacas – “como se fosse uma nova loteria'', nas palavras de outro scout.
Resta saber apenas se ele estará disponível para eles ali no final da segunda rodada.
E, de novo: se Caboclo for draftado, isso não quer dizer que vá ser aproveitado de imediato. Ele pode muito bem seguir carreira no Pinheiros. Pode ir para a Europa. Tudo depende da contingência da franquia: espaço no plantel, negociações com agentes livres e, tão ou mais importante, perfil da comissão técnica. Além, claro, do seu progresso.
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