VOCÊ É A LENDA!
Em meados da década de 90, um vírus chamado Dólar tirou do Brasil todos os ídolos que nos faziam apaixonados pela bola. Num período de 15 anos todos eles foram para longe, deixando o país do futebol quase que as moscas.
Quase às moscas.
Entre os milhares que sonhavam com dólares e champions League, alguém ousou sonhar diferente. Ele queria a América, pois pra ele o mundo se resumia a três cores, um templo e uma nação.
Nação que, em parte, um dia o questionou. Mas, soberano, perdoou.
Foram anos difíceis, onde a falta de resultados lhe escondia dos devidos aplausos. Foram vaias, rótulos de “pipoqueiro” e “amarelão” por comandar times, em alguns casos, indignos da camisa tricolor.
Mas ele persistiu. Foi ousado ao ponto de, ao notar que não chegaria ao topo de verde-amarelo, cobiçar o mesmo alvo em preto, branco e vermelho. Ele queria conquistar o mundo, mesmo que isso demorasse.
Vieram pequenas conquistas, outros momentos difíceis e choros discretos, longe das câmeras, mas sinceros ao fracassar. O que era uma profissão virava uma paixão, e o que era um sonho se tornava uma obsessão.
Em 2005, já ídolo, este cidadão até então de poucas glórias atingiu seu momento maior. Conquistou a sonhada América e disse: “Eu posso morrer!”.
Não, não podia.
Caberia a ele, ainda, a missão de conquistar o planeta. Era através de suas mãos que o maior clube das Américas voltaria ao topo dentro de campo. Com defesas incríveis, liderança incontestável e gols! Isso mesmo, gols!
Não satisfeito em defender, ele quis atacar. Segurar um 0 no placar não lhe preenchia. Era preciso mudar o outro.
Assim ele se fez um ídolo, como tantos outros se fizeram.
Vieram entrevistas, pontos de vista, polêmicas e inveja. Os que o odiavam, passaram a respeitar. Os que torciam contra, o queriam na seleção. Virou unanimidade, o que é quase um absurdo no futebol.
Vieram conquistas menores, mas também significativas. Até que um dia seu reinado foi colocado a prova.
Diante de seu time de infância, uma nova decisão.
Credibilidade é algo conquistado através do tempo, de atitudes e de história. Serve, basicamente, para determinar quem tem direito a o que no mundo. Só os de credibilidade inquestionável podem errar.
Ele errou. E do seu erro veio a dor de uma nação que, há 6 meses, pelas mesmas mãos, chorava de alegria. Não, ele não errou sozinho. Mas, errou.
Ao voltar pra casa, de cabeça baixa e chateado, não foi dormir. Foi treinar. Ele não aceitou o erro, pois heróis não falham.
Dias depois, em outra prova de fogo, defende um pênalti, marca 2 gols e quebra o recorde mundial de gols da sua posição. A nação, de braços abertos, o perdoa, mesmo sem jamais tê-lo condenado.
Seu sucesso incomoda. Atinge um nível tão raro que quem não consegue engolir, engasga. Alguns rotulam, acusam. Ao vivo, ele rebate. Na justiça, ele vence.
No gramado ele aumenta sua notável ficha de conquistas. Fora dele, sua legião de fãs não pára de crescer. No planeta seu nome é conhecido e respeitado, e mesmo longe do centro, aparece e ganha prêmios.
Melhor goleiro, melhor jogador, melhor capitão, melhor do mundo, melhor do Brasil, melhor do que esse, melhor do que aquele. Melhor, sempre o melhor.
Humildade é, para muitos, um termo criado para que alguns persigam pessoas notáveis. Humildade, para muitos, é se fazer de idiota e não admitir sua importância. Para outros, é apenas dividir com os demais os méritos da vitória e os erros da derrota.
Ele é humilde, pois nunca esqueceu de seus companheiros. Não se faz de palhaço, pois sabe a importância que tem, e isso incomoda alguns. Fala bonito, mas não porque lhe falta humildade, mas sim porque lhe sobra cultura.
Amanhã ele voltará a falhar, e depois voltará a brilhar. Seja como for, o final da história está determinado. O jogador que virou ídolo, o ídolo que virou mito e o mito que vira lenda.
O dono do meu time será, fatalmente, o personagem central das histórias que eu contarei para meus filhos e netos. Será parte, portanto, das próximas gerações de tricolores. Será eternizado em relatos, fotos, vídeos e corações apaixonados.
Hoje ele acorda, vai ao CT e treina. Chega em casa e, talvez, ganhe um bolo da Sandra, sua esposa que o acompanha desde jovem. Talvez um beijo de suas lindas filhas Clara e Bia, ou talvez um especial numa emissora de TV ou num site de apaixonados pelo Tricolor.
Se fosse possível, 15 milhões de pessoas adorariam te abraçar nesta data e cantar parabéns sabendo que você ouviria. Não é possível, então nos contentamos em lembrar, pedir a Deus que te proteja e devolva em dobro o que fez por nós.
É um exagero idolatrar alguém desta forma, sem dúvida. Ele não merece tanto, pois é um ser-humano, como eu, você e todos os outros.
Mas... se Deus o escolheu para fazer muito mais do que um simples mortal é capaz, quem somos nós para tentar minimizar isso?
Obrigado, Capitão!
Feliz aniversário!
Nós, tricolores, temos você como um membro da família e, nesta data querida, viemos desejar muitas felicidades e muitos anos de vida.
Desculpa Will, eu sou seu fã! Sei que atualmente você é a lenda, mas... o mundo não acabou de verdade. De verdade mesmo ele foi conquistado, e pela verdadeira lenda: Rogério Ceni.
Estação Tricolor (RicaPerrone)