O Palmeiras, atravessando gerações
Por Paulo Loboda *
Meu pai tem 76 anos e sofre com insuficiência renal. Faz hemodiálise 3 vezes por semana há mais de 2 anos. Perdeu metade do peso que tinha tempos atrás, está fisicamente fraco devido ao tratamento e às inúmeras restrições alimentares.
Minha irmã mora em S. José dos Campos. Meu irmão mora na capital, próximo ao Pacaembu. Meu irmão mais novo mora aqui em Jundiaí, perto da casa dos meus pais e à 10 minutos da minha.
Sou casado, tenho dois filhos, João Paulo (8) e Heloísa (5), e mais um terceiro, temporão que descansa na barriga da minha esposa e chegará no final de maio.
Todos, mais minha mãe, cunhada e minha mulher – que são a parte restante da família do meu lado – somos palmeirenses. Descendentes de italianos, palmeirenses apaixonados.
A década de 90 inteira frequentamos o Palestra, Pacaembu e Morumbi acompanhando os esquadrões que vestiram a camisa do Palmeiras. Meu filho não era nascido, e meu pai nem sempre ia. Mas com meus irmãos e minha irmã cansamos de assistir jogos juntos.
Vimos os títulos de 93/94, inclusive o Rio SP; o paulista de 96, a Mercosul e a Libertadores. Acompanhamos muitos outros jogos de boas lembranças e outras não tão boas assim.
Tempo foi passando e já não era tão comum irmos em família assistir o Palmeiras. Tentávamos, mas não era sempre que dava certo. Um tem seus amigos, outro tem compromissos profissionais, outra mora longe, meu pai com idade avançada e saúde debilitada; e eu com a filharada, trabalho,…
Há uns 4 anos, com agravamento do estado de saúde do meu pai tive certeza que jamais conseguiríamos, todos juntos, pisar numa arquibancada novamente.
Mas como o destino também prega suas peças e nos momentos mais inusitados nos proporciona coisas inesquecíveis, esse cenário mudou no último domingo.
A raça e a vontade que o time tá jogando me contagiou. Foda-se a 2ª divisão, foda-se a falta de ídolos, foda-se a venda do Barcos. Eu amo o meu Palmeiras! Assim decidi levar o João – que já é um baita palestrino nos seus 8 aninhos – pra assistir o jogo contra a Barbarense. A queda no preço dos ingressos também foi um estímulo.
Cogitei, meio desesperançoso, a idéia com meus irmãos e, para minha surpresa, minha irmã e meu irmão que mora em SP, aderiram.
No sábado que antecedia o jogo, à noite, reunidos num aniversário de família, escutei do meu pai que gostaria de ir à partida. Quase caí pra trás, pois jamais esperaria ouvir isso dele novamente – nem no Paulista, aqui de Jundiaí, que ele sempre frequentou, ele foi mais. Achei muito legal, mas tive que avisar: “pai, a gente já comprou arquibancada, não sei se seria uma boa pro senhor…”.
Por tabela, ele convenceu meu irmão mais novo, e a todos nós, que iria no jogo com a gente, na bancada!
Porra! Achei demais!
E domingão, não é que saímos de Jundiaí, juntos novamente vestidos de Palmeiras – tinha camisa do Ademir da Guia, da Parmalat, atual… – e fomos pro Pacaembu! Todos no mesmo carro!
Chegando 1 hora antes do jogo, conseguimos estacionar num bom lugar e ajudamos meu pai – ele tem dificuldades para andar – a entrar e se acomodar no setor verde, ali na curva, perto das cadeiras cobertas.
Foi então que vi meus irmãos, minha irmã, meu pai e meu filho entoando cantos, batendo palmas, cantando o hino, aplaudindo jogadores e vibrando pra caramba com o jogo do verdão.
A gente sabe que o time não é nenhum primor. Mas a raça e a vontade dos caras contagia, chama a gente pra jogar juntos, faz a torcida cantar e vibrar como sempre deveria ser.
Eu vi meu pai pulando, ou pelo menos tentando, meu filho contente pra caramba e meus irmãos com o mesmo semblante das épocas em que o Evair arrebentava com as costelas do Wilson Mano e deixava o Ronaldo (marido da “Andrea vagabunda….”), deitado no chão…
A hora do gol foi indescritível: totalmente de forma espontânea, quando percebi, estávamos os 6 abraçados, pulando e gritando! Puta que pariu!!! Num sei por que, mas parecia que tínhamos ganho mais um título!
Registramos, no final do jogo, o momento – que na minha vida é histórico!
Ajudamos meu pai a subir as escadas, deixamos meu irmão na casa dele, pegamos a estrada de volta; batemos um rango no Frango Assado e chegamos em Jundiaí, felizes pra cacete!
E penso até hoje: cara, como um jogo tão simples, com uma vitória com o placarzinho miúdo, com o nosso time tendo que aguentar uma segundona pelo resto do ano, e tantos outros pesos contra, foi tão legal!!
O espírito de luta dos jogadores, a dedicação da comissão técnica, o amor da torcida e as declarações seguras dos gestores, nos levaram ao Pacaembu e nos fizeram sorrir, mesmo com tantas adversidades que o maior campeão nacional atravessou nos últimos tempos!
Um fato simples, um dia simples. Mas que jamais sairá da minha memória, nem dos meus irmãos e do meu filho. E muito provavelmente do meu pai também. Ele que já viu Jair da Rosa Pinto, Oberdan, Djalma Santos, Julinho, Dudu, Ademir, etc, neste domingo vibrou com Marcio Araújo, Wesley, Souza e Vinícius, vejam só!
Muitos falam isso mas só percebemos quando acontece com a gente: as boas coisas boas da vida de vez em quando nos aparecem nas coisas mais simples!
E é assim mesmo. Domingo vi isso de perto!
E ontem, meu pai me puxou num canto e falou:
- Contra o Paulista eu quero ir…. Mas desta vez quero ficar na cadeira…
*Paulo Loboda é leitor do Verdazzo