Opinião: avante com o Avanti
Salve Palmeirense.
O assunto da semana que quero destacar na coluna de hoje é o Avanti.
O programa sócio-torcedor palmeirense ultrapassou a marca de 20 mil sócios. Neste domingo o Palmeiras tinha 21.924 sócios de acordo com o site
www.futebolmelhor.com.br. Nas últimas semanas o Avanti ultrapassou em números - de acordo com o torcidômetro do Futebol Melhor - os programas do Flamengo e do SPFC.
Um dos grandes motores do atingimento deste número deve-se ao fato da Diretoria palmeirense ter feito uma mudança na política de venda de ingressos: agora a "janela" (pré venda) para compra de ingressos pelo sócio torcedor é maior. Dado que o Palmeiras tem uma partida importante com o Tijuana e muito provavelmente com o Atlético MG pela Libertadores, o torcedor que gosta de ir aos jogos pensa rapidamente: associando-se, ganha desconto (na modalidade mais econômica o desconto é de 50% do ingresso, o que compensa rapidamente o valor da mensalidade de R$ 19,99) e consegue assistir a partida. Vimos movimento semelhante nas finais da Copa do Brasil do ano passado. A antiga diretoria lançou o novo Avanti e obteve um crescimento forte de associados. Depois o time decaiu e a inadimplência aumentou, recuando o número de sócios.
Dizer que o sócio torcedor é importante é chover no molhado. Todos sabemos disso. Lançado em 2009 na gestão Belluzzo (com graves problemas operacionais e desposicionado), o Avanti teve melhorias em 2010 e foi relançado em 2011 com uma nova roupagem. Agora em 2012 a gestão Nobre está dando um revamp no Programa e apostando no seu crescimento para ajudar a resolver as questões financeiras. Numa conta simples, com 100 mil sócios (o Inter tem 81 mil adimplentes e lidera o ranking de sócios-torcedores) poderíamos ter por baixo R$ 24 milhões de receitas anuais.
Ou seja, o Avanti (principalmente o plano Minha Vida é Você) é um programa bom para quem é frequente nos estádios. Financeiramente compensa para o associado. E para o Palmeiras é fundamental.
Todos concordamos com isso.
Veja a tabela abaixo com os planos. A fonte é o site do Palmeiras:
Ok, legal, bacana. Avanti é importante. Quase dobramos o número de associados em um mês. Resultados ótimos.
Maravilha.
Então qual o problema?
Não vamos falar em problemas, mas vamos falar em oportunidades. Eu vejo algumas.
Primeiro que o Avanti - por ser visto por todos os palmeirenses que querem o melhor pro Palmeiras como um importante canal de financiamento para o clube, pode e deve aproximar o torcedor. Como: proporcionando ao torcedor influência política no clube. Para isso é mandatório que o Avanti dê direito a voto para presidente.
E a atual administração precisa se manifestar sobre isso e liderar o processo de mudança estatutária para esse sentido. Se não fizer, se largar na mão do Conselho, não vai conseguir que esse tema vá para a pauta. Então esse ponto é o mais importante do que qualquer outro quando falamos de Avanti.
Concordam?
Segundo: "só" o desconto financeiro no ingresso é bom mas não é apelo para quem mora fora da cidade e não vai a jogos do Palmeiras. Logo, deveria haver um plano em que não há desconto no ingresso mas aproxima o torcedor do clube. Vai aproximar como? Com informações, com um relacionamento frequente, com o envolvimento deste torcedor com promoções, levando o Palmeiras até as cidades onde estes torcedores estão, nem que seja através do mundo online. E com voto. Direito a voto. Qualquer torcedor que tem paixão pelo seu clube, quer ajudar a influenciar na vida do seu time do coração. Logo, poder votar para Presidente é o mais eficaz instrumento que inventaram até hoje para isso. Voltamos novamente ao tema voto.
Terceiro: anabolizar o programa com as ações de venda em momentos decisivos, é oportuno, bom pro Palmeiras, mas pouco sustentável ao longo do tempo. Atrai um grupo de torcedores que quer prioridade na compra, mais do que o desconto. É aquele torcedor que tem medo de ficar de fora de partidas decisivas. Quando a oferta de ingressos for menor que a demanda, o torcedor interrompe o pagamento e o número de adimplentes cai.
Aqui a conta é simples: o Palmeiras deve fazer esse ano no máximo 40 jogos em casa (se a conta não está errada são 19 da série B, 9 do Paulistão, 7 na Libertadoes, 4 na Copa do Brasil, nos dois últimos casos, se chegar na final). Exceto pela Libertadores e Copa do Brasil - fases mais importantes - o Palmeiras não tem "demanda maior que oferta" de ingressos. Passando a Libertadores - e esperamos que seja após a final - voltamos à oferta maior que a demanda. A não ser que na Copa do Brasil tenhamos um time efetivamente em condições de ganhar o título. Ou que tenhamos jogadores diferenciados que atraiam torcedores ao estádio.
Quarto: eu tomaria muito cuidado com os descontos de 100% do valor dos ingressos. E mesmo 50%. Eu sei e reconheço que o sócio-torcedor com desconto no ingresso financia o clube. Paga antes (nas mensalidades) o uso dos ingressos. Mas faz com que o clube "perca" receita de bilheteria.
Em 2008 e 2009 o Palmeiras teve cerca de R$ 20 milhões em receitas de bilheterias (por ano). Foram anos que tínhamos ídolos e disputávamos títulos. Portanto o melhor do mundo para os cofres do clube é maximizar a receita de bilheteria com a receita do sócio-torcedor. Só que o sócio-torcedor que dá desconto no ingresso derruba a receita da bilheteria. Claro, é questão de fazer conta e não tenho todos os dados aqui para isso. Mas de forma intuitiva diria que o desconto não pode ser de 100% para o ingresso (apesar do valor caro do plano Meu Palmeiras). Também tomaria cuidado com o valor dos ingressos. Alguns setores são mais nobres e devem ser mais caros. Outros são mais populares e - como está no nome - precisam ter preços populares. Esse equilíbrio deve ser importante para garantir acesso ao estádio de todas as camadas sociais de torcedores. Dizer que teremos um estádio como um teatro é uma falácia e há que se buscar uma equação que equilibre isso.
Particularmente gosto do plano do Internacional RS. O Inter teve uma abordagem mais prática: são só dois planos. Um com desconto e outro sem desconto. Veja abaixo (fonte: site do Inter RS):
Notem que o plano mais barato, de R$ 15,00, o torcedor tem "apenas" prioridade na compra. E direito a voto.
Ou seja, tanto quanto comprar ingresso com prioridade, na pré-venda, um sócio do Inter pode votar para seu presidente. Claro, há aspectos políticos. Lá o filtro - se não me engano de 20% - fez com que o último Presidente tenha sido eleito no Conselho Deliberativo, pois 2 dos 3 candidatos não tiveram o filtro mínimo (mesmo risco corremos, mas aí é outra história, outro post, outra coluna).
Outra coisa bem legal desse plano do Inter: diferenciação de preços pela distância. A diferença de valor é bem pequena, mas o Inter reconhece que seus torcedores estão em diferentes raios de distância da sede e por isso não vão usufruir o benefício do desconto do ingresso. Por isso pagam menos. Tão simples que dá raiva.
Conclusão dessa longa opinião: Avanti é bom, está crescendo, estamos todos felizes com isso, parabéns e o blá blá blá de confete que esta administração tanto gosta.
Entretanto, sócio-torcedor:
- sem direito a voto, não cumpre sua verdadeira função;
- com ações oportunísticas de vendas (como dar um gás em época de participação de finais) não dá sustentabilidade;
- precisa de uma conta econômica profunda para entender o trade-off mensalidade x desconto de ingresso;
- e por último, mas não menos importante, precisa de um time forte, competitivo, com ídolos, para disputar títulos e encher estádio.
Aï o ciclo estará completo.
Concordam?
Discordam?
Deixem seus comentários. Como eu sempre digo, esta é uma opinião, nada mais que uma opinião.
Mas se seu comentário for "fora das regras" será cortado, ok?
E aproveito para desejar às mamães - todas elas - um verde dia. Felicidades, amor e paz.
E saudações alviverdes!