Flamengo x Regatas Corrientes
Senhoras e senhores, mais uma vez faremos as coisas diferentes. Pouco irei falar sobre o jogo. Ao invés disso, irei falar um pouco sobre o passado recente do basquete do Flamengo, sobre a temporada atual e o que podemos esperar para o futuro da equipe.
O Flamengo venceu o jogo, mas não ficou com o título. Com a vitória do Brasília sobre o Peñarol, para ser campeão, o Flamengo precisava vencer seu adversário por uma diferença de 13 ou mais pontos. Como venceu por apenas um ponto de diferença, o título ficou com a equipe do Regata Corrientes, por conta do cesta average, o critério de desempate.
Em partida bastante disputada, as duas equipes, embora uma ou outra tenha disparado um pouco no placar em momentos distintos, o panorama se manteve assim até o final do terceiro quarto, quando o Flamengo começou a ensaiar uma reação e encheu o torcedor de esperança. No começo do último período a equipe carioca não apenas passou à frente no placar, como conseguiu colocar oito pontos de vantagem sobre o adversário e fez o torcedor acreditar que fosse possível atingir o resultado necessário. Mas, jogar na Argentina é sempre complicado e a arbitragem tratou de dar uma mãozinha para os donos da casa com uma série de marcações, no mínimo, questionáveis e com isso o Regatas Corrientes diminuiu a vantagem e apenas a administrou até o fim da partida.
O Flamengo começou com: Kojo (10), Benite (21), Marquinhos (10), Olivinha (12) e Caio Torres (12). Entraram: Shilton (15), Duda (2) e Gegê (-).
Mas, apesar de não voltar com o título, a equipe do Flamengo tem motivos para se orgulhar e a torcida para se encher de esperança com relação ao futuro dessa equipe. E a campanha da equipe nessa edição da Liga Sul Americana suporta o meu argumento.
No final da década passada, o basquete rubro-negro se tornou referência no cenário nacional, com a equipe conquistando o bi campeonato do Brasil e o seu primeiro título continental. Em uma época de vacas magras para o futebol, o basquete era exaltado pelos torcedores que se referiam ao time como "os guerreiros da nação", pois os jogadores enfrentavam atrasos de salários e todo tipo de humilhação, mas a entrega dentro de quadra sempre foi maior do que todos os problemas. E com ela veio o apoio da Nação e a enxurrada de títulos.
Nos anos seguintes, apesar do aumento no investimento, a coisa começou a mudar de figura, os adversários se reforçaram e, de repente, o clube já não era a equipe a ser batida. Pelo contrário. Passou a ficar de fora das finais, seus jogadores mostravam preciosismo e nervosismos exacerbados em momentos cruciais e com isso foram perdendo terreno.
Nesse ano, após mais uma campanha sem títulos relevantes, a direção do clube resolveu radicalizar e se desfez de jogadores que fizeram parte de várias campanhas históricas, mas que há muito já atrapalhavam mais do que ajudavam. Restaram somente o pivô Caio Torres e os irmãos Machado. Chegaram Gegê, Kojo Mensah, Vitor Benite, Marquinhos, Shilton e Olivinha. Para comandar essa verdadeira seleção, o clube trouxe o jovem técnico José Neto, credenciado pelo bom trabalho no Joinville e na seleção brasileira, como auxiliar técnico de Rubén Magnano.
Com tanta mudança era de se esperar que a equipe demorasse a entrar nos trilhos, correto? Sim, mas para felicidade de todos não foi o que aconteceu. Atropelamos nossos adversários no campeonato carioca e fomos campeões pela oitava vez seguida.
Fizemos boa campanha na primeira fase da Liga Sul-Americana e nos classificamos sem sustos, em segundo lugar no grupo. Estreamos com vitória no NBB, mas perdemos o nosso melhor jogador em jogada boba. Quando todos temiam que a equipe fosse ser eliminada na segunda fase da competição, os jogadores superaram o sério desfalque e superaram com sobras os adversários na segunda fase da liga, com três vitórias em três jogos.
Mais do que as vitórias, a equipe impressionava pelo poderio ofensivo, por se defender muito bem e, principalmente, pelo senso de coletividade (algo raro nos últimos anos), que acabou sendo o grande diferencial do time. Ponto para o excelente trabalho do técnico José Neto. Tudo isso contribuiu para que a equipe chegasse ao Final Four praticando o melhor basquete da América do Sul e com boas possibilidades de trazer de volta para a Gávea o título que nos escapa desde 2009.
Na estréia, uma daquelas partidas mágicas que ficará por muito tempo na mente do torcedor. Os rubro-negros tiraram uma diferença de 26 pontos e venceram uma partida emocionante, contra o tri campeão argentino. No dia seguinte, a pior partida do Flamengo na temporada acabou por selar o nosso destino na competição. A derrota para o Brasília foi difícil de digerir. No dia seguinte, a equipe da capital derrotou o Peñarol que entrou em quadra com uma equipe reserva e perdeu o jogo, o que dificultou o caminho do Flamengo até o título. Agora precisávamos vencer o nosso adversário, o dono da casa, por, no mínimo, 13 pontos de diferença. Não conseguimos, mas novamente a equipe fez uma exibição de gala.
Mas tudo bem. Esse time já conquistou algo muito mais precioso. Em tão pouco tempo cair nas graças e contar com o apoio da exigente Nação Rubro-Negra é algo a se louvar. Após alguns anos o torcedor rubro-negro voltou a comentar sobre o basquete, a se interessar, a assistir os jogos. Eles podem não ter conquistado o título, mas trouxeram o orgulho de volta para uma das modalidades mais tradicionais do clube.
A temporada está apenas começando. Tem muito basquete pela frente ainda. Saudações Rubro-Negras e Magia Neles!
Rodrigo Gonçalves - @piroquio