PARA EVOLUIR, BASQUETE BRASILEIRO PRECISA ESTREITAR RELACIONAMENTO COM A EUROPA
Não deu para o Pinheiros. O Olympiacôs (é assim que se pronuncia) é muito mais forte.
Os brasileiros foram batidos nos dois jogos que marcaram a final da Copa Intercontinental de Clubes (81-70 na primeira partida, na sexta-feira; e 86-69 na segunda, neste domingo). Perderam para o bicampeão europeu, mas perderam com dignidade, lutando sempre, do começo ao fim.
A diferença entre as duas esquadras é muito grande. Enquanto o Olympiacos tem um orçamento anual de R$ 60 milhões, o Pinheiros dispõe de R$ 2 milhões. Só para vocês terem uma ideia, Vassilis Spanoulis, o ala-armador do time grego, eleito o MVP dos dois últimos Final Four europeu e um dos melhores jogadores de basquete da atualidade jogando fora da NBA, esse Spanoulis ganha por temporada R$ 6 milhões — o triplo do “budget” do clube brasileiro.
Mesmo com essa diferença abissal, o Pinheiros, como disse, enfrentou com dignidade o Olympiacos.
“Vocês imaginavam que a gente ia perder por uns 30 pontos, não é mesmo?”, perguntou o ala Shamell Stallworth. O norte-americano que joga no Pinheiros fez esta pergunta aos jornalistas depois da primeira partida. Ninguém respondeu, mas eu digo: sim, nós, da mídia brasileira, tínhamos essa desconfiança.
Quando a NBA começou a colocar seus times diante de seleções europeias e esquadras do Velho Continente, ela ensacava quem aparecesse pela frente. Os primeiros embates vieram no extinto McDonald’s Championship. Seleções da extinta URSS e Iugoslávia perdiam para times medianos da NBA, como Milwaukee e Denver.
Com o passar do tempo e o estreitamento no relacionamento entre essas escolas, o “gap” diminuiu. Praticamente zerou. E o resultado disso é que times da NBA, jogando na Europa, passaram a perder. E mesmo a seleção dos EUA formada por jogadores da liga profissional foram batidas em Mundiais e Olimpíadas.
Somente o intercâmbio pode aproximar escolas. Somente o intercâmbio melhora o nível de uma em clara inferioridade em relação a outra.
O basquete brasileiro está ensimesmado há décadas. Não se preocupa em “trocar figurinhas” com equipes europeias. Este é o primeiro passo; o segundo, enfrentar times da NBA — ora, por que não?
Jogando mais e mais vezes diante dos europeus, a tendência é de evolução do nosso basquete. O Olympiacos deu um show no ginásio de Barueri, que estava um brinco, diga-se.
Os europeus sabem trabalhar espetacularmente o corta-luz, executam por conta disso o “pick’n’roll” de maneira mortal, fazem marcação sufocante sem cometer faltas, protegem o garrafão com esmero, rodam a bola com exatidão, são organizadíssimos no jogo de transição, arremessam com precisão; enfim, jogam um basquete que a nós parece muito distante.
A mesma distância que existia entre o basquete europeu e o da NBA e que já não é tão grande assim, como disse. Ontem, por exemplo, o Bilbao perdeu para o Philadelphia por 106-104. Isso mesmo: apenas dois pontos. O jogo foi no pau o tempo todo.
Mas eles, como disse, enfrentam a NBA regularmente. E é isso que temos que começar a fazer: colocar nossos times para jogar contra os europeus num primeiro momento e depois, quem sabe, diante das equipes da NBA.
Somente assim o nosso basquete vai evoluir. Ficar ensimesmado, jogando apenas o NBB e torneios no continente, isso jamais vai melhorar o nível do nosso basquete, pois a diferença entre equipes brasileiras e latino-americanas praticamente inexiste.
Esse intercâmbio, essa “troca de figurinha” com a Europa é muito importante. Somente assim vamos evoluir.
Fonte: Blog do Sormani