Assistentes de Magnano na seleção levam seus clubes ao topo do NBB
Técnicos de Flamengo, Paulistano e Limeira, respectivamente, Neto, Gustavinho e Demétrius classificaram seus times entre os quatro primeiros da fase de classificação
Comandante da seleção brasileira masculina desde janeiro de 2010, o argentino Rubén Magnano tem contrato com a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) até as Olimpíadas de 2016. Mas, se por alguma razão, seja de ordem técnica ou pessoal, o técnico da seleção argentina nas campanhas do vice-campeonato mundial de 2002, em Indianápolis (EUA), e da medalha de ouro de 2004, em Atenas (GRE), não renovar seu vínculo com a CBB após os Jogos do Rio de Janeiro e decidir voltar para casa, o basquete nacional estará em boas mãos. Quem garante é o próprio Magnano. Não bastasse a confiança do homem que levou o Brasil de volta aos Jogos Olímpicos após um jejum de 16 anos, seus assistentes José Neto, Gustavo de Conti e Demétrius Ferraciú têm provado na prática que não fazem parte da comissão técnica da seleção por acaso.
- Estamos falando de ótimos jovens treinadores de basquete. Com capacidade e uma enorme paixão pelo que fazem. Com uma percepção muito grande, cada um à sua maneira, eles têm aproveitado as oportunidades de acompanhar competições internacionais para desenvolverem seus trabalhos como técnico nas equipes que estão dirigindo. Fico feliz com o sucesso deles, pois estão dando grandes contribuições na seleção adulta. São treinadores inteligentes, que gostam do jogo coletivo e com características semelhantes. Vejo um brilhante futuro pela frente para eles - destacou Rubén Magnano.
Coincidência ou não, os elogios do chefe refletem diretamente no desempenho do trio à frente de seus clubes no NBB 6. Nos comandos de Flamengo, Paulistano e Limeira, respectivamente, Neto, Gustavinho e Demétrius classificaram seus times entre os quatro primeiros da fase de classificação e conquistaram a vantagem de entrar nos playoffs diretamente nas quartas de final.
Atual campeão carioca, nacional e da Liga das Américas, o comandante rubro-negro teve o melhor desempenho entre os três e levou o Flamengo à liderança da fase de classificação, com 26 vitórias em 32 jogos. Presente no banco de reservas da seleção em todas as competições disputadas pelo Brasil desde a entrada de Magnano, José Neto destaca a atitude do argentino como sua maior virtude.
- O que mais caracteriza o Rubén é sua atitude. A maneira como executa aquilo que fala impressiona e é sua marca registrada. As ações dele, seja nos treinos ou nos jogos, são sempre baseadas no grupo e nenhum tipo de individualidade sobrepõe o coletivo. Não existe vaidade no trabalho dele. Ele faz todo mundo acreditar nos seus métodos e usa todo seu conhecimento para desenvolvê-los - afirmou José Neto, desde 2004 na função e técnico da seleção sub-19 nos Mundiais da Sérvia, em 2007, e da Letônia, quatro anos depois.
Gustavinho pode não ter chegado ao topo da tabela com o Paulistano em nenhum momento da fase de classificação, mas venceu a queda de braço com o tricampeão Brasília e garantiu a segunda melhor campanha com apenas nove derrotas. Com uma trajetória semelhante à de Neto, de quem foi assistente por sete anos no próprio Paulistano, o técnico mais jovem do NBB dirigia a seleção sub-18 quando foi convidado para integrar a comissão técnica da seleção adulta. Há quatro anos trabalhando ao lado de Magnano, Gustavinho reconhece que o conhecimento do chefe está bem à frente dos demais.
- Parece que ele sempre está um tempo na frente dos outros nas questões táticas e nas variações de jogo. Isso é o que mais me chama atenção no trabalho dele. Quando vamos conversar com ele sobre adversários, ele já conhece todos os movimentos dessas equipes e está sempre preparado para lidar com todos os tipos de situações que aparecem durante os jogos. Apesar de ser um cara muito exigente, sabe lidar tanto com os jovens quanto com jogadores mais experientes - explicou o técnico do Paulistano, de apenas 34 anos.
O terceiro escudeiro de Magnano por pouco não foi comandado pelo atual chefe em quadra. Aposentado como jogador desde 2007, Demétrius defendeu a seleção brasileira por onze anos, seis deles como capitão. Na nova função, conquistou o Campeonato Paulista com o próprio Limeira em 2010, mesmo ano em que assumiu a seleção sub-17 e um ano antes de ser chamado para fazer parte da comissão do técnico argentino.
Na atual temporada, Demétrius fez do Limeira a sensação do início da temporada do NBB, com oito vitórias nas oito primeiras rodadas. Mesmo perdendo o fôlego do meio para o fim da fase de classificação, sua equipe terminou em quarto e conseguiu fugir das oitavas.
O ex-armador de Franca, Vasco, Minas e Fluminense destaca a liderança de Magnano e afirma que sua experiência em quadra facilita muito seu trabalho como assistente.
- Como jogador eu já conhecia essa intensidade do dia a dia e dos jogos internacionais, mas como técnico aprendi muito com ele. E o que ajuda é o nível dos atletas da seleção que jogam na NBA e na Europa. Tudo isso nos dá uma bagagem interessante. O fato de ter jogado contra todos eles nos clubes e junto com a maioria na própria seleção ajuda demais no relacionamento, na confiança e na convivência diária. Facilita o diálogo e a comunicação, pois falamos a mesma lingua - disse Demétrius, que também é o técnico da seleção sub-17.
Embora nunca tenham trabalhado juntos ao mesmo tempo na seleção, os três definem o estilo de Magnano como diferenciado da maioria dos demais treinadores. Exigência, profissionalismo e sinceridade são as características que melhor definem o jeito de trabalho do técnico da seleção brasileira.
- O estilo dele é muito diferente em relação ao do treinador brasileiro, desde a cobrança dentro da quadra na parte defensiva até a questão tática. Ele tem um estilo bem europeu de jogo e gosta de rodar bastante o time. Experiência e profissionalismo são suas maiores virtudes como treinador. Outra qualidade do Magnano é tratar os profissionais com sinceridade, sem rodeios - afirmou Demétrius.
Como qualquer treinador, José Neto não esconde sua vontade de um dia ser o técnico da seleção brasileira. Porém, não enxerga a atual geração sem a presença do argentino.
- O Rubén é o técnico do Brasil e eu não gosto de trabalhar com hipóteses. Claro que tenho o sonho de um dia dirigir a seleção brasileira, acho que todo treinador tem, mas no momento não vejo essa possibilidade. Não imagino a seleção sem ele. Da mesma maneira que não me vejo fora da comissão técnica como assistente. Gosto do trabalho que realizo de pode ajudar com informações - afirmou Neto.
Caçula da turma, Gustavinho destaca o intercâmbio com outros países e a vontade de se atualizar como segredo para o sucesso da nova geração de treinadores brasileiros.
- Tenho certeza que temos uma ótima geração vindo aí, mas não podemos esquecer que aprendemos muito com os mais velhos, como Hélio Rubens e Cláudio Mortari. Temos sempre intercâmbio com outros países e participamos das melhores competições e de clínicas muito boas. Tudo isso nos permite estar sempre em contato com outros técnicos para trocar ideias. Acho que essa vontade de estudar e fuçar coisas novas estão no sangue dessa geração. Estamos sempre querer aprender - garantiu Gustavinho.