7 a 1 foi pouco.
Ótimo relato de um jornalista alemão ao Globo Esporte. Ele fez um livro (
) sobre o 7x1:
Na Alemanha, certamente há uma compreensão sobre por que ocorreu aquela enorme vitória. Mas e o outro lado? Por que o Brasil perdeu, na visão dos alemães?
Acima de tudo, porque Scolari não tinha a menor ideia sobre futebol moderno – a forma como ele foi reinventado em Barcelona, em Dortmund, em Munique, na Liga dos Campeões nos últimos sete ou oito anos, como uma mistura de posse de bola, movimentos coletivos perfeitos e permanente pressão para recuperar a bola. Sua ideia era a mesma de 2002: ter defensores fortes, dois meias marcadores, dois jogadores de velocidade e confiar na magia de dois ou três jogadores excepcionais. Mas em 2002 o Brasil tinha Ronaldo, e Ronaldo tinha Rivaldo, e ainda havia o jovem Ronaldinho, e os laterais eram lendas, Cafu e Roberto Carlos. Sua ideia de futebol funcionou contra a medíocre Alemanha de 2002, mas não em 2014, não com os jogadores que ele tinha, não com os jogadores que a Alemanha tinha. Depois que o Brasil perdeu Neymar, perdeu tudo. Especialmente a calma que é necessária em uma competição dura. A aposta foi muito na emoção, em segurar a camisa de Neymar, e chorar, e cantar.
O que a Alemanha tem a nos ensinar?
O Brasil parece não produzir a mesma qualidade que produzia. Na minha opinião, o Brasil foi a última grande nação a apostar totalmente na crença de que sempre haverá um gênio do futebol crescendo em algum lugar: você apenas tem que colhê-lo, como uma flor, e fazer um belo buquê. Na Alemanha, foi assim por muito tempo. Quando a Alemanha perdeu em casa para a Holanda a Euro de 1988, houve um primeiro debate sobre mudar a estrutura dos jovens, adotar o sistema usado na Holanda. Mas dois anos depois a Alemanha foi campeã mundial, e tudo foi esquecido. Passaram-se mais dez anos até 2000, e a Alemanha não ganhou um jogo sequer na Euro, e não havia um só talento na equipe. Então tudo foi reformado, cada clube da Bundesliga foi obrigado a ter categorias de base supervisionadas pela Federação Alemã, e alguns dos melhores treinadores do país hoje não estão treinando os profissionais, e sim os jovens. Ainda há talento suficiente no Brasil, mas não é protegido. Jogadores talentosos no Brasil parecem não ser considerados como uma joia que precisa ser polida e desenvolvida para se tornar um talento mundial, e sim um objeto do mercado de capital que precisa ser vendido para fazer dinheiro o quanto antes. Observe os 11 jogadores da Alemanha que começaram o jogo em Belo Horizonte: sete deles só haviam jogado na Alemanha. É disso que vocês precisam: bons treinadores de base, boa formação, uma liga forte e clubes fortes, que desenvolvam seus jovens e os defendam dos caras que querem ganhar dinheiro com eles.
A imagem do Brasil, para os alemães, mudou desde aquele jogo? Perdemos nossa aura?
Infelizmente, o Brasil perdeu parte de sua reputação no futebol. Desde que assisti à minha primeira Copa do Mundo na TV, em 1970, ainda criança, o Brasil sempre foi a equipe que você ficava ansioso para ver. Era como Natal, como um grande presente embrulhado em amarelo, e você não sabia o que esperar, mas sabia que seria diferente. Como qualquer pessoa, nós, alemães, torcemos em primeiro lugar para nossa seleção, mas, depois dela, era o Brasil. Mas em 2006, com Ronaldinho preguiçoso e Ronaldo gordo, já não era assim. Em 2010, não foi melhor. E, em 2014, ver o Brasil jogar já não era como Natal. Era um time entediante, sem espírito, sem graça. Os 11 do Brasil eram dez mais Neymar, e contra a Alemanha foram 11 sem Neymar e sem nada daquilo que faz você ver futebol. “The thrill is gone”, como cantou BB King (“O encanto acabou”). Mas a Alemanha mostrou que é possível fazer isso voltar – se o Brasil trabalhar adequadamente na reforma de sua estrutura e se abrir para o futebol moderno. Um grande país pode voltar em cinco ou seis anos. E torço por isso, porque quero meu presente de Natal amarelo de volta.
Mas aí, fizeram um monte de matérias ano passado, estão fazendo várias matérias agora no aniversário de 1 ano, alguém aqui acha que vai mudar alguma coisa?