Área destinada a discussões sobre todos os outros esportes.
Excelente texto. Mauro Beting ruleia.Mauro Beting escreveu:Jogo de Ceni
Quando ele não é convocado para a seleção brasileira, não é crime lesa-pátria ou lesa-bola. É questão de gosto. DiscutÃvel como tudo na vida, ainda mais no futebol.
Com as mãos, há goleiros do mesmo excelente nÃvel. Até (poucos) um pouco melhores.
Com os pés, Rogério é Pelé da meta. Dá até para dizer que é gênio técnico e um monstro tático, com sua saÃda com os pés (aperfeiçoada de Van der Sar), seu posicionamento mais avançado (invenção do argentino Amedeo Carrizzo, lá nos anos 50), e outras bossas bem exploradas pela reportagem da capa paulista da "Placar".
Tem muito mais virtudes que seus não poucos detratores elencam. Se é igualmente discutÃvel a sua saÃda de meta em forma de cruz "argentina" (nem sempre das mais bem executadas), Rogério tem méritos e tÃtulos incontestáveis.
Além da liderança absurda, e da invejável capacidade de trabalho. É dos mais corretos e aplicados profissionais que já vi. Até quando não dá para ver - mesmo: em treinos no CCT, fica até escurecer (ou mesmo no escuro) batendo faltas.
Não é acaso. É caso muito bem pensado por um sujeito acima da média. E acima de qualquer suspeita para a mÃdia que ama idolatrá-lo.
Ceni tem mais defeitos que os imaginados por seus não poucos defensores. É respeitadÃssimo pelos rivais. Mas não tem a admiração que outros craques despertam. Talvez sejam os tantos tÃtulos tricolores. Talvez o modo como se comporta em campo e fora dele. Usar camisa azul em decisão no Beira-Rio, da Libertadores-06, por exemplo, é atitude que corrobora algumas das crÃticas.
A crise com a antiga administração são-paulina, em 2001, que poderia ter levado o craque-bandeira tricolor para fora do clube (se Marcelo Portugal Gouveia não tivesse vencido as eleições, em abril de 2002), teria mudado a história de amor de Ceni com o São Paulo.
Não mudou. E ele tem sido o mesmo. Um espetáculo de goleiro. Para o bem e para o mal.
Tanto que uma contusão na panturrilha vira quase caso de polÃcia, no clássico contra o Corinthians.
Ceni não teria saÃdo no gol eterno de Betão se estivesse 100%. Ele não tem saÃdo mais como saÃa da meta em lances similares. E poucos goleiros fariam algo diferente, em qualquer condição fÃsica ou técnica.
Se ele poderia ter saÃdo da meta e do jogo pela contusão com a bola rolando? DifÃcil. Em qualquer sentido, Rogério é fominha.
E seria o caso de jogar o jovem Fabiano, 19 anos, calouro profissional, numa gelada daquelas?
Outra: contusão é subjetiva. Não sou médico, nem goleiro, nem Ceni para dizer o que deveria ser feito.
Teria, sim, evitado tiros de meta e lançamentos. O que ele não fez.
Mais: quando Rogério jogou com o dedão doendo e catou tudo em São Januário, foi herói. O São Paulo ganhou do Vasco por 2 a 0.
Quando tomou um gol naquelas condições, no clássico, vira vilão?
É o preço que Ceni paga por estar acima do bem para muitos, e abaixo do mal para tantos.
É o jogo de Ceni.
