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por R49 » Qua Set 03, 2008 1:37 pm
Dubai virou a cidade da moda. Milionários e famosos – principalmente os da Europa – vão até a cidade dos Emirados Árabes para passarem férias. Grandes eventos internacionais são realizados lá (torneio de tênis, Dubai Cup, golfe, críquete, rúgbi, feiras internacionais...). A campanha de marketing da Emirates, uma das companhias aéreas que mais cresce no mundo, tem em Dubai seu ponto de referência. Um dos hotéis e um dos aeroportos mais extravagantes do mundo estão lá. Mas a capital e maior cidade dos Emirados Árabes não é Dubai, é Abu Dhabi.
Esse crescimento de Dubai no cenário internacional faz parte de um plano do para se preparar para o momento em que o petróleo começar a escassear. Assim, os Emirados Árabes já teriam novas fontes de renda, e o turismo seria uma das principais. De qualquer modo, a concentração de ações em Dubai não passou impune internamente. Pelas regras estabelecidas na criação dos Emirados Árabes Unidos, na década de 1970, a presidência do país é sempre da família Al-Nahyan, de Abu Dhabi, e o primeiro-ministro é da família Al-Maktoum, de Dubai. E, depois de Dubai se lançar mundialmente, é a vez de Abu Dhabi fazer sua parte.
Khalifa bin Zayed Al-Nahyan emir de Abu Dhabi e presidente dos Emirados Árabes já acertou a realização de um Grande Prêmio de Fórmula 1 em sua cidade. A capital emirense também é provável sede da final do Mundial de Clubes de 2009. Em seu plano, Abu Dhabi se tornaria a capital do esporte do Oriente Médio, suplantando a concorrência de Doha (Catar) e, claro, Dubai. A idéia da família Al-Nahyan é aparecer, algo que sempre foi sua especialidade. E ela raramente apareceu tanto quanto nos últimos três dias.
No último domingo, o emirense Sulaiman Al-Fahim comprou o Manchester City do polêmico Thaksin Shinawatra, ex-ditador da Tailândia que estava foragido na Inglaterra depois de ter sido deposto. Sulaiman chegou falando grosso, prometendo transformar o City no maior clube do mundo (“maior que Real Madrid e Manchester United juntos”) com contratações extravagantes. Até uma improvável compra de Cristiano Ronaldo do rival United foi especulada pelo fanfarrão e novato dirigente.
Sulaiman nada mais é que representante da ADUG (Abu Dhabi United Group), empresa que comprou os Citizens de fato e que pertence à ADIA (Abu Dhabi Investment Authority, uma espécie de BNDES da capital emirense). Ou seja, por trás da compra do Manchester City está o governo de Abu Dhabi.
Para apontar uma pessoa que comanda essa ação, ela seria o xeique Mansour bin Zayed Al-Nahyan, irmão de Khalifa bin Zayed Al-Nahyan (emir de Abu Dhabi e presidente dos Emirados Árabes) e casado com Manal bin Mohammed bin Rashid Al-Maktoum, filha do emir de Dubai. Mansour é dono do Al-Jazira, um dos principais clubes emirenses cujo técnico é Abel Braga, ministro dos assuntos presidenciais do país e diretor de banco e fundo de investimentos.
Dinheiro não falta aos Al-Nahyan. Estima-se que a fortuna familiar alcance o US$ 1 trilhão (nada mal!). Os investimentos da família e do ADUG são surreais. Na semana passada, o grupo anunciou o lançamento de um empreendimento imobiliário de US$ 60 bilhões. Nesse universo, que se assemelha ao de Roman Abramovich, gastar “alguns milhõezinhos” no futebol é trocado.
Isso explica como um grupo dos Emirados Árabes comprou o Manchester City um dia antes do fechamento do mercado de transferências, data para lá de inadequada. Shinawatra já tinha problemas com sua gestão no clube mancuniano e estava à procura de parceiros. A aparição do ADUG veio a calhar e o negócio foi fechado rapidamente por valores não divulgados oficialmente.
Os emirenses quiseram aproveitar bem seu único dia de ação no mercado. Foram 24 horas de intensas especulações, que ligavam o nome do City a qualquer jogador que parecesse disponível. No final das contas, a nova diretoria apostou pesado para ganhar do Chelsea a corrida por Robinho, pagando € 40 milhões pelo brasileiro.
Para os defensores do ex-santista, pode soar como uma grande contratação. Mas não é bem assim. Robinho ainda não jogou futebol para justificar um investimento tão alto. Teve excelentes fases no Real Madrid, mas nunca foi capaz de mantê-las por mais de um mês. Além disso, mostrou enorme dificuldade de lidar com a obrigação que se impôs de se tornar o melhor do mundo.
Desse modo, o Manchester City ainda é um time que precisa de melhorias. Shaun Wright-Phillips e Robinho formam uma dupla de meias-atacantes leves, que podem abrir pelas pontas criando espaços para Jô. Além disso, Elano teve momentos de brilhantismo no clube, Mark Hughes é um técnico promissor e Kompany e Micah Richards são defensores talentosos. Mas ainda é pouco, e a torcida precisa saber disso.
O impacto da chegada dos Al-Nahyan à Inglaterra não será imediato. Afinal, a família teve pouco tempo para realmente reforçar o Manchester City. Assim, a tendência é que os celestes tenham um início de temporada perto do que já se esperava, brigando por vagas na Copa Uefa. No entanto, se os planos megalomaníacos dos emirenses forem efetivados, os Citizens podem se tornar realmente uma força nos próximos anos. Como o Chelsea.
Trivela