Dungalização
Por Mauro Beting
O termo é de um jornal europeu. O futebol brasileiro está sendo dungalizado. Não a Era Dunga da seleção lazarenta na Copa-90, quando o bravo volante foi exageradamente estigmatizado por um esquema obtuso, retrancado, mal bolado, mal treinado, mal gerido, muito mal jogado na Copa na Itália. Dunga não merecia expiar todos os pecados de uma Seleção sem ideias e sem ideais. Ainda bem que ele deu uma das maiores viradas da história do futebol, quando, em apenas quatro anos, não apenas foi titular, não apenas atuou bem, como ainda ergueu o caneco que havia 24 anos o Brasil não conquistava.
Em 2002, com 100% de aproveitamento, Felipão (Uzbequistão?), pintou o penta. E o hexa, com o Brasil em campo, qualquer Brasil, é sempre possível. Ainda mais em um continente “neutro”, aberto para qualquer seleção sul-americana ou europeia conquistar um caneco.
Sobretudo quando os rivais abrem o jogo, atacam o Brasil como se fossem o próprio Brasil, e acabam goleados pelo próprio Brasil – mesmo, por vezes, ele sendo impróprioa para maiores e menores.
O maravilhoso da maior vitória brasileira no Uruguai em 93 anos é que a Celeste cada vez mais Olímpica (no sentido de “o importante é competir”...) chutou 29 vezes na meta brasileira, criou dez grandes chances de gol, obrigou o melhor goleiro do mundo - Júlio César - a fazer seis defesas imperiais, e não fez gol no menos vazado sistema defensivo das Eliminatórias.
O pior de mais uma grande, gigantesca vitória do Brasil de Dunga é que a Seleção ficou atrás, especulando no contragolpe, sofrendo um sufoco danado, com sérios problemas pelo lado esquerdo, com os três de marcação no meio muito enfiados e enfurnados em nossa área, com a zaga tendo sérios problemas para evitar cruzamentos, e para conter o jogo aéreo uruguaio, e pouco rendendo individualmente na criação. Ainda assim, no contragolpe, ou em falhas rivais, fizemos um (com a colaboração alheia), aproveitamos a segunda chance com um gol de zagueiro (e que zagueiro que é Juan!), fizemos um terceiro gol em bela trama ofensiva contra uma escancarada zaga rival, e marcamos o quarto num infantil pênalti cometido por um atrapalhado zagueiro rival.
O Brasil teve oito chances (bom número), e aproveitou metade (excepcional média). Há como questionar o jogo de Robinho (e como!), o primeiro tempo de Kaká, e mais algumas atuações individuais discutíveis. Mas um 4 a 0 no Uruguai impede maiores contestações. A não ser, mais uma vez, uma constatação imperiosa: seja qual for o momento brasileiro; seja qual for o time brasileiro vestido de amarelo; seja qual for o treinador brasileiro: se você é técnico do rival, não ataque o Brasil como se fosse o Brasil. Resguarde-se. Não dê campo ao Brasil, qualquer Brasil.
Respeite-o muito mais do que eu nas linhas acima. Ou a vítima pode ser você. Pode ser o Uruguai.
O péssimo de mais uma goleada é que o sinal está dado: não se deve atacar o Brasil. Logo, o Brasil deve ficar com a bola. E, aí, com o nosso time atual, é que são elas. No contragolpe, goleamos Chile e Uruguai; com a bola, padecemos em casa contra a Bolívia. Esse é o perigo do rescaldo da operação Uruguai.