Mensagem
por Raoni_19 » Seg Dez 06, 2010 7:46 pm
Discussão que não vai ir pra frente, já sabemos todos desde o começo, entretanto, vou entrar, o Bitous aposto que também irá. Eu não sou de TO, vale lembrar e por sinal não curto nem um pouco essa cultura do 'pá-pum, matei, morri' das torcidas organizadas. Todavia, eu estudo isso e não me custa dizer pras pessoas o que eu sei, mesmo sabendo que a maioria já tem seus conceitos prévios, irá continuar com eles e não absorver nada.
Primeiramente é muito fácil abrir um tópico com um vídeo desses e dizer: Acabem com as T.O's. É o típico caso do jornalismo "Ratinho" que eu cito sempre. Tu pega um cidadão que estuprou e matou uma menina de 6 anos, esquartejando a garota durante o ato sexual, leva ele pro estúdio, apresenta todos esses fatos, mostra a família da garota arrasada, psiquiatras apavorados e joga a pergunta no ar: "Quem é a favor da pena de morte?". Um tópico desses é a mesma coisa, afinal, tem como defender a atitude desses caras aí?
Mas vamos em frente. Ainda sobre o fato do vídeo, qualquer pessoa que é se considera barra-brava, ultrà, hooligan, TORCIDA (que é o caso do Brasil na sua grande maioria), sabe que essa briga é uma distorção completa do senso de hooliganismo como sub-cultura. Quando tudo isso começou as brigas paravam quando um dos lados corria (esse lado nunca abandonava um soldado pra trás) e muito menos se espancava um cara caído e desacordado. Estamos no Brasil, isso não existe. Os caras correm e deixam os malucos pra trás, os outros covardes espancam até a morte e se vangloriam disso. Mas não seria justamente na vergonha do adversário ter apanhado para uma torcida rival o motivo da briga? Que vergonha de ter apanhado da GALOUCURA esse cara que morreu vai ter? Qual é a moral desse pá-pum todo? Nenhum, afinal, infelizmente a cultura de torcida organizada no Brasil está tomada por ignorantes que nem conhecem a sub-cultura da qual fazem parte ou dizem fazer.
Saindo desse lance da briga, Pablo "Bebote" Álvarez, político como sempre já disse: "As barra-bravas tem violência sim, mas aonde não há violência na Argentina? Nós só somos um reflexo dessa sociedade argentina atual, não há o que eu possa fazer, eu nunca vou começar uma briga, entretanto, são 5-10 mil indivíduos aqui, alguns deles irão brigar, matar, se drogar". Qualquer pessoa que conhece um pouco sabe que Brasil, Argentina e Colômbia são os lugares mais sinistros em termos de pá-pum porque os países também são dos mais sinistros. Na Suécia, Holanda, Inglaterra, Rússia não existe isso em larga escala. Sérvia, Túrquia e Grécia são casos a parte, afinal, os times envolvem muito mais que esporte e geralmente tratam de rivalidades raciais, políticas e tal.
Quanto a cobrar jogadores e viagens, é simples. Há torcedores e torcedores. Tem gente que nunca vai ao estádio, não assiste todos os jogos em casa, etc. Tem os que vão ao estádio lá de vez enquando e tem os que vão em todos os jogos em casa, 2-3 treinos por semana e maioria dos jogos fora de casa. É sacanagem tu considerar todas essas tipificações o mesmo torcedor. Isso é uma coisa típica do Brasil, afinal, só aqui todo mundo é torcedor 'igual' (o cara que se diz colorado lá no Acre, não conhece um jogador e nunca viu o time vivo e é comparado comigo). Geralmente apenas o último tipo que citei é sócio. E geralmente é esse tipo que se envolve com TO ou barra-brava. É exatamente por viver o dia-a-dia do clube que eu vou no treino e cobro os jogadores. Eles jogam em um clube de associados, ou seja, os sócios também são parte do clube e pagam o salário astronômico deles. O mínimo que eles podem fazer é jogar e respeitar esses associados, afinal, não fosse o sócio, a torcida, os que vivem o clube, os jogadores do Internacional não receberiam 200 mil reais por mês e sim 1500 como os do Cerâmica de Gravataí. É uma questão simples de ideologia. Em todos os lugares do mundo (América Latina mais ainda) os clubes são considerados de fora pra dentro, ou seja, dá torcida para os jogadores. No Brasil é tudo invertido, os jogadores parecem donos do time e a torcida mera coadjuvante da coisa toda. Mas pera aí, minha família é sócia do Internacional a 40 anos e o Edu tá aqui a 1. O Edu é o Inter ou o associado que paga e vive o dia que é o clube? Exatamente por viver o clube que os torcedores ganham as viagens, afinal, sem eles, não há ninguém que vá colocar material, cantar, apoiar o time fora de casa. Tem milhões de pessoas que vivem dizendo que viajariam se tivessem as barbadas, entretanto, isso é uma grande mentira. Aqui no DB tem gente que diz isso e nunca assistiu um campeonato inteiro do seu time dentro de casa. A torcida tem uma história, são anos e anos de estrada. Tem gente que tá a 10-20 anos viajando e vivendo a rotina do clube (e nunca deu um soco na vida), é de fato o décimo segundo jogador. Esse torcedor não merece uma vaga num ônibus de 44 lugares que custa 3 mil reais pro clube? (não paga o salário do massagista do juvenil). É simples. Claro que ele merece. Ele vive a rotina do clube, paga sua mensalidade, faz bandeiras, faixas, cânticos, já viajou muito sem ajuda também, ou seja, ele não é um aproveitador. E mais, alguns criticam o apoio financeiro fora das viagens, aquele clássico salário pros líderes da torcida, entretanto, quem crítica isso nunca vivenciou uma torcida. O pessoal acha que as faixas se fazem sozinhas, os bumbos chegam ao estádio caminhando, organizar as viagens é tarefa fácil que não consome tempo e tu não corre risco nenhum. Acordem! Um líder de torcida trabalha mais que em carga horária que 90% das pessoas. Os caras não tem horário pra nada, chegam no estádio 10h e vazam as 22h, ficam a semana toda em função de corre pros jogos, viagens e ainda com a polícia e MP atrás o tempo todo, afinal, o líder responde pela torcida como um todo. Que barbada de profissão hein? Responder pelos atos de 10 mil pessoas, sendo que tu conhece 1000. Aí o cara ganha 5 mil por mês (salário normal dentro de um clube) e o pessoal trata como se fosse o maior escândalo do mundo. Pera aí, tem muleque no mirim ganhando isso e nunca irá vestir a camiseta do time profissional. O líder do décimo segundo jogador não pode ganhar nada?
O resto que tu falou é resto. Falar que as cadeiras e não sei quem faz barulho é sacanagem. Fui no meio da torcida do SP na semi-final da Libertadores no chamado incidente dos "INFILTRADOS". Eram 100 colorados num setor de 5 mil pessoas. Desses 100 colorados, 15-20 foram especialmente colocados ali para segurar a bronca dos 'velhos' que também estavam no setor pela falta de ingressos na visitante. Chegamos lá e para minha surpresa as pessoas não cantavam, não se moviam e mal gritavam os gols do SP. Eram um bando de amargos comedores de amendoim que tavam vaiando o time quando o jogo tava 0x0. É esse o tipo de torcedor que canta e não cobra jogador? Esse é o torcedor que porque não vive o cotidiano do time, cobra durante o jogo e a qualquer passe errado. Esse é o torcedor exemplar?